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Entenda por que não sabemos lidar com spoilers

Por: em 26 de dezembro de 2016

Entenda por que não sabemos lidar com spoilers

Por: em

Spoiler Free!

Este texto não contém spoilers,

leia à vontade.

Tom: Não fale de Breaking Bad. Ainda não vi a quinta temporada.

Mindy: Você é tão estranho com spoilers. Se é obcecado por TV, por que não acompanha a tempo?

Tom: Pare. Uma palavra pode estragar tudo!

The Mindy Project

Somos obcecados por “faz-de-conta”. Estamos sempre dispostos a sorrir ou sofrer pela vida de pessoas fictícias – em séries, filmes, livros ou games. E tem explicação: segundo a psicóloga Thalia Goldstein, em entrevista ao The Atlanticnosso cérebro não distingue a ficção da realidade muito bem. Existe uma parte dele que sabe que aquela história é inventada, mas outra parte, mais primitiva, acredita que seja real e se envolve. Os personagens surgem na TV e nós os abraçamos virtualmente como velhos amigos, que vão à nossa casa semanalmente. Mas precisamos lembrar que esses personagens também frequentam a casa de outras milhões de pessoas, que estão assistindo àquele mesmo episódio e compartilhando de nossos sentimentos. Nós certamente não estamos sozinhos naquela experiência.

Hoje, é fácil descobrir quem está acompanhando a mesma programação: basta nos conectarmos à internet para vermos os tweets mais recentes ou os status do Facebook. Tem gente que gosta de se sentir parte da febre; outra gente prefere ficar quieta e curtir seu mundinho particular. Vai de cada um. Para mim, depende da série. Quando vejo This Is Us, não quero papo com ninguém – confesso que bate um receio de ouvir crítica negativa, porque adoro a série. Mas, se é How To Get Away With Murder, com selo “Shonda Rhimes” de inquietação, eu corro para ler as reviews do Apaixonados por Séries – onde é permitido desabafar, soltar spoilers e me divertir com as hipóteses que outros espectadores elaboram para a trama.

Com a popularização da TV on-demand, o público assiste à programação quando quer – e dificilmente todo mundo vai acordar às 5h da manhã para ver o revival inteiro de Gilmore Girls (eu sei que esta carapuça serviu em muitos de vocês, guerreiros!). Mas esse assincronismo geralmente não impede que quem já assistiu publique suas opiniões impertinentes sobre o enredo nas redes sociais. Não sei exatamente por quê – talvez seja uma maneira de “gritar” para os quatro ventos o que sentem, ou talvez encontrar amigos com quem possam discutir o assunto.

O problema é que esses spoilers “lembram” nosso cérebro de que o mundo da TV é simplesmente uma fantasia. Entenda: na vida real, nós não sabemos exatamente como uma história vai acontecer de antemão. Quando acompanhamos uma série, é a mesma coisa: mergulhamos de cabeça naquela realidade paralela, criada pela mente de roteiristas e showrunners, sem saber o que pode acontecer também. E há séries com temporadas o suficiente para preencher uma década inteira de nossas vidas, sempre ao lado dos mesmos personagens. Eles viram parte de nós. Aí, de repente, ouvimos uma informação importante antes de assistirmos ao episódio: a personagem morreu ou está grávida, por exemplo, e nós não estávamos lá para testemunhar o acontecimento. Neste momento, nosso cérebro “descobre” que aquilo que ele entendia como verdade é uma farsa. É claro que essa explosão está num nível neurológico sutil e, quando traduzimos em palavras, soa como exagero. Mas spoilers podem ser dolorosos para algumas pessoas.

Uma pesquisa feita pelo Vulture, em maio deste ano, sugere qual seria a melhor etiqueta para se comportar no universo digital. Eles perguntaram aos leitores quanto tempo precisamos esperar para comentar “plot twists” importantes nas redes sociais. Vale lembrar que o site é americano e, nos Estados Unidos, há seis fusos horários diferentes ao longo do território. Você provavelmente já observou que os canais sempre distinguem os horários de “East coast” e “West coast” na divulgação, referentes às costas Leste e Oeste. Significa que quem está em Nova York, por exemplo, tem acesso ao conteúdo mais cedo do que na Califórnia. Vamos olhar os resultados.

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27% das pessoas defendem que podemos comentar imediatamente; 26% esperam o episódio ser exibido no fuso horário da costa Oeste; 17% respeitam a lei das 24 horas; 14%, dois dias; 10%, uma semana; 3%, mais do que uma semana; e os outros 3% acham melhor nunca comentar nas redes sociais.

A pesquisa do Vulture também questionou de quem é a responsabilidade pelos spoilers. 37% acreditam que seja de quem ainda não viu e está de bobeira na internet; 11% botam a “culpa” em quem já viu e está debatendo online; 11% dizem que ninguém é culpado – a rede social é espaço para feedback imediato e nós podemos discutir sobre qualquer coisa; e 41% acham que todos os times têm ficha no cartório.

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Eu detesto spoilers, seja a morte de um personagem ou até as informações bobas que a própria série usa para divulgar a nova temporada. Aceito, no máximo, um trailer para matar a curiosidade. Acho que meu cérebro não tem limites para misturar ficção com realidade e bate tudo no liquidificador. Quero viver a experiência completa na frente da TV. Mas tem gente que não liga para isso. Minha dica, se você também quiser driblar spoilers, é simples: desligar as redes sociais e esclarecer suas prioridades para os amigos, como Tom fez com Mindy, lá no início do post.

Ainda há outra solução mais radical: criar um Sensory Deprivator 5000, igual ao que Ted usou para evitar o placar do Superbowl, na segunda temporada de How I Met Your Mother. Vou deixar o tutorial aqui, ok?

 


Curtiu? Deixe seu comentário e compartilhe suas experiências com spoilers.

 


Alice Reis

Jornalista que não bebe café, mas vai ao Central Perk com frequência. Gostaria de viver em todas as séries filmadas em Nova York.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Friends

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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