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ER – Plantão Médico

Por: em 31 de agosto de 2017

ER – Plantão Médico

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers pesados,

siga por sua conta e risco.

Se hoje temos tantas séries médicas para nos entreter todas as semanas, esse mérito certamente é de ER, mais conhecida no Brasil como Plantão Médico. Embora não seja o primeiro drama do estilo (o primeiro seriado médico foi exibido em 1951 e chama-se City Hospital), é a fonte de muitos médicos que amamos ou odiamos.

Divulgação/Warner

Criada pelo autor e médico Michael Crichton (que também escreveu Jurassic Park, que deu origem ao famoso filme de Steven Spielberg – que participou da elaboração de ER) em 1974, a série mostra o cotidiano do movimentado pronto-socorro do County General, o hospital público de Chicago. Não deixe suas 15 temporadas impedirem de conferir esta obra-prima da televisão; apesar de algumas temporadas mais mornas (hey, toda família tem problemas), vale muito a pena conferir cada minuto.

A primeira temporada, que estreou em 1994, conta com George Clooney como o doutor Doug Ross (e provavelmente o nome que melhor se deu bem pós-ER), Anthony Edwards como médico Mark Greene, Sherry Stringfield como a médica Susan Lewis, Noah Wyle como o novato estagiário John Carter, Eriq La Salle como o doutor Peter Benton, além de Julianna Margulies (nossa eterna Good Wife) como a enfermeira-chefe Carol Hathaway.

O sucesso da série foi tamanho que Clooney e Wyle fizeram parte de um “crossover” com uma série que aparentemente não teria nada a ver com um drama médico: Friends. Lembra daquele episódio na primeira temporada em que Rachel e Monica vão parar em um hospital e flertam com dois médicos bonitões? Embora não seja o mesmo universo de ER e não sejam os mesmos personagens, não há dúvidas que a participação dos atores é por causa do sucesso de ER.

Como qualquer drama médico, uma série de pacientes e médicos passaram por suas portas e entre os nomes mais ilustres temos Sally Field, Ray Liotta, Susan Sarandon, William H. Macy, Ewan McGregor, Forest Whitaker, Stanley Tucci, Zac Efron, Mae Whitman, Alexis Bledel, Miles Heizer, Kat Dennings, Lucy Liu, Chris Pine, Eric Stonestreet, Ariel Winter, entre outros.

Divulgação/Warner

As primeiras temporadas são mais próximas ao estilo que temos hoje: focada muito mais em alguns personagens (Ross, Greene e Carter, para ser mais exata), com destaques ocasionais a outros. Foi aqui que tivemos as primeiras greves das enfermeiras (usarei o plural por termos mais membros do gênero feminino ao longo da série) e da equipe de limpeza do hospital, mostradas de uma forma muito mais realista do que as séries atuais, com lixo literalmente espalhado pelos corredores do hospital, os médicos fingindo que o problema não é com eles enquanto a gerência tenta resolver da forma mais burocrática e democrática possível. Embora seja um tema recorrente, é nas primeiras temporadas que vemos muito mais o quanto as enfermeiras são essenciais ao funcionamento de qualquer hospital, desde o cuidado aos pacientes até auxiliando os médicos no dia-a-dia.

Com isso, temos espaço para Margulies brilhar e sua Carol crescer em tela e no coração do público – junto de seu romance com Doug.

Divulgação/Warner

Com o tempo, a dinâmica entre os personagens vai mudando e abrindo espaço para uma das melhores características de ER: dar destaque ao hospital como um todo e não ter um personagem central comandando a história (o grande erro de House), facilitando a troca do elenco e chegando ao ponto de não ter mais nenhum personagem original regular em sua reta final. E isso não é uma notícia ruim. Durante sua longa vida, acompanhamos diversos personagens indo e vindo, todos com personalidade própria, momentos para brilhar e se tornando protagonistas em determinados momentos, sem detrimento dos arcos narrativos.

Completando o elenco principal ao longo dos anos temos ainda Laura Innes como Kerry Weaver, Ming-Na Wen (Agents of SHIELD) como Jing-Mei Chen, Goran Visnjic como Luka Kovac, Maura Tierney como Abby Lockhart (uma das melhores personagens de todas as séries), Alex Kingston (Doctor Who) como Elizabeth Corday, Paul McCrane como Robert Romano, Parminder Nagra como Neela Rasgotra, Mekhi Phifer como Greg Pratt, Sharif Atkins como Michael Gallant, Linda Cardellini como Sam Taggart, John Stamos (Fuller House) como Tony Gates e outros.

Além disso, a série tem vários personagens secundários como enfermeiras e paramédicos que aparecem durante todas as temporadas, dando uma sensação de familiaridade e um fluxo mais natural de um local de trabalho como qualquer outro. Os roteiristas também foram espertos o suficiente para dar personalidade a estes personagens e muitos deles ganham tramas próprias no futuro. Como não rir das enfermeiras fofocando com Jerry, interpretado por Abraham Benrubi, ou implicando com o Frank de Troy Evans? Frank, por sinal, mostrou uma grande evolução, entrando na sexta temporada como um ex-policial conservador, racista e machista – embora seja aquele tipo durão com um bom coração no fundo – e encerrando a série mostrando que aprendeu a respeitar seus colegas pertencentes a minorias e até organizando uma festa surpresa de despedida da Neela, um de seus maiores alvos, por ser mulher e ter ascendência indiana.

Divulgação/Warner

Por ser um hospital público – e talvez também por menos medo dos roteiristas em falar em dinheiro de maneira tão explícita – vira e mexe as equipes se deparam com o problema da falta de investimento na infraestrutura e vimos como as reuniões da gerência envolvem muita politicagem. Sempre que uma nova leva de estagiários está prestes a se formar, há o debate sobre quem vai ficar no hospital público junto com todos os problemas do local e quem vai para hospitais e clínicas particulares ganhar dinheiro.

Uma coisa se mantém em relação às séries médicas de hoje (e pelo bem dos norte-americanos, não deveria): os pacientes também pedem para que não sejam feitos tantos exames, pois não terão como pagar as despesas.

Até os residentes com frequência comentam a falta de dinheiro, pedem aumento de salário e não são falas forçadas. Estamos sempre vendo todos os personagens indo e vindo ao trabalho usando transporte público, seja a famosa linha de trem elevada de Chicago ou ônibus, com alguns casos médicos tendo início nas primeiras ou últimas horas do dia. Por mais bobo que seja, é um detalhe que ajuda a aproximar o público, já que nem todo mundo tem dinheiro para andar em SUVs – ao mesmo tempo em que reclamam que ganham uma mixaria.

Divulgação/Warner

Outro detalhe é a quase falta de pudor ao mostrar pacientes vomitando ou outras reações comuns e consideradas nojentas do corpo humano. Talvez seja uma questão estética da televisão dos anos 1990 e que ficou até o fim da série. Não chega a ser gore, mas é mais escatológico do que estamos acostumados.

Sobre os estagiários, somente nas últimas temporadas vimos uma leva tão ruim que lembrou quase todos os que passaram por Grey’s Anatomy, cheias de personagens feitos para serem odiados. Se os primeiros estagiários eram carismáticos e cometiam erros normais a qualquer novato (e se transformaram nos médicos competentes que amamos e que viraram protagonistas mais tarde), os últimos estavam mais interessados no próprio ego e pareciam crianças mimadas andando pelo hospital – e nem o estagiário prodígio quase adolescente era tão infantil quanto estes.

Mesmo que tenhamos vários casos por episódio (alguns se estendendo por arcos em episódios sequenciais; outros aparecendo ocasionalmente, dependendo da doença), não temos um foco tão grande nos pacientes. As estrelas do episódio sempre são os médicos e a (falta de) vida pessoal, suas interações com os pacientes e colegas de trabalho e com o mundo, como vimos no arco de Congo e Darfur. Kovac, Carter e Pratt retornam mudados depois de suas experiências no continente africano, administrando técnicas novas – e precárias –, já que lá não tinham todo o equipamento com o qual estavam acostumados. O maior impacto acontece em Carter, que decide usar toda a herança da família para ajudar os mais necessitados.

E não podemos esquecer de Gallant, que era um médico do exército, e como os horrores da guerra no Iraque pós 11 de setembro o fizeram mudar de perspectiva e casar com Neela quase que em um impulso.

Divulgação/Warner

Outro fator a ser muito elogiado em ER é que os casos médicos são muito mais realistas do que os vistos nas séries hoje, nos lembrando que não precisamos de grandes eventos para que a história seja cativante. Os cliffhangers e grandes momentos antes do hiato de fim de ano geralmente são com problemas comuns do dia-a-dia. Assim sendo, o equipe do pronto-socorro cuida de brigas de gangue, em prisões, pessoas esfaqueadas, epidemias de gripe ou outras doenças contagiosas, acidentes de carro, incêndios, assaltos, acidentes de trabalho, de barcos de pescadores, sequestros, com um ou outro grande acidente.

Muitos médicos, enfermeiros e outros membros da equipe do hospital saíram por motivos que fariam com que nós também trocássemos de emprego, sendo o maior deles ser dar uma vida melhor à família ou a eles mesmos, como fizeram Benton, Corday, Lewis e Weaver.

E não pensem que Shonda Rhimes foi a primeira a matar personagens com métodos bizarros. Somente uma morte em ER chega aos pés do sangue frio de Shonda, mas a semente está em Chicago.

A série também não teve medo de matar um dos personagens mais amados do público, Mark Greene. Provavelmente a morte mais sentida de todos os 331 episódios e que, se fosse nos programas de hoje, seria mais um clichê. Greene morreu de tumor cerebral e todo apaixonado por séries já percebeu que “câncer” é a trama que usam para dar destaque a algum personagem jogado de canto. Não em ER. A história de Mark mostrou toda a burocracia que é lidar com o sistema de saúde dos Estados Unidos, mesmo quando se tem dinheiro para pagar um bom tratamento. Ele não teve o clássico “súbita mudança de comportamento e assim descobriram o tumor”. Foi um processo longo e doloroso, mostrando como a doença foi afetando devagar a vida do médico, desde problemas de memória até alterações em seu comportamento. Mark chegou a entrar em remissão, mas o câncer voltou.

Divulgação/Warner

Enquanto a morte de Greene foi a que mais chocou os fãs, a morte mais sentida nos bastidores foi a do criador da série. Crichton morreu de linfoma em 2008, durante a décima quinta temporada.

Nós, como meros espectadores, não sabemos ao certo o que aconteceu nos bastidores de qualquer produção, mas acho que é seguro dizer que o clima entre os atores e produção era bom (Maura foi a mestre de cerimônia do casamento de Parminder, que também teve a presença de Stamos e Scott Grimes, por exemplo) e eles gostavam bastante da série. Isso fica óbvio com a quantidade enorme de atores que saíram e retornaram ao hospital, seja para ficar mais algumas temporadas (oi, Susan, te amo) ou para participações, especialmente na última temporada, que foi uma das mais lindas e emocionantes e toda série deveria terminar desse jeito. Extremamente pensada para dar um ponto final aos personagens, suas tramas e uma despedida digna ao público.

Todas as histórias foram concluídas, tivemos o retorno de muitos personagens originais mesmo que fosse só para um episódio (a participação de Doug e Carol perguntando sobre os amigos dá um aperto no coração) e várias homenagens ao passado (ver o quanto Rachel, filha de Mark, cresceu e quer seguir os passos do pai, faz o coração ficar mais quentinho). Quem não se emocionou com a parede com os nomes dos médicos que saíram do hospital ou o clima de nostalgia que tomou conta da series finale que atire a primeira pedra.

ER não é uma série sem defeitos e seu maior erro de longe foi ter mudado a clássica música de abertura na 13ª temporada. Ouvi-la novamente nos últimos segundos de série enquanto vemos um plano aberto do hospital me deixou arrepiada. O final perfeito.


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Bianca

Feminista interseccional, rata de biblioteca, ativista, ama filmes, séries, cultura pop e BTS. Twitter sempre vai ser a melhor rede social.

São Paulo - SP

Série Favorita: Grey's Anatomy

Não assiste de jeito nenhum: Lost

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