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Gilmore Girls: A Year in the Life – Fall (Series Finale)

Por: em 26 de novembro de 2016

Gilmore Girls: A Year in the Life – Fall (Series Finale)

Por: em

“Ao ciclo da vida.”

Ciclo. Essa pequena palavrinha, que em tantos desperta medo. Segundo uma definição que acabei de colar do google, “ciclo significa uma série de fenômenos, fatos ou ações de caráter periódico que partem de um ponto inicial e terminam com a recorrência deste.” De uma maneira geral, não existe melhor palavra para definir “Gilmore Girls: A Year in the Life“. Foi o final de um ciclo que começou há muito tempo, quando a série foi ao ar pela primeira vez, no começo da década passada. E, é óbvio: Um ciclo não se encerra sem mudanças.

Vejamos Lorelai, por exemplo. Toda a percepção de que sua vida estava estagnada levou a isso. Não é que ela precisava fazer a mesma caminhada que a protagonista de Livre fez. O que ela precisava era se libertar de si mesmo; do medo de seguir em frente, do que a fazia ficar conformada com o status quo no qual sua vida entrou, do sentimento de que ALGO precisava acontecer. Na participação de seu namorado da vida real, Peter Krause, como um guarda florestal que a impede, é que ela começa a perceber que fazer o percurso que Cheryl Strayed fez para superar a perda da mãe talvez não fosse tão necessário assim.

A emocionante ligação para Emily já nos mostra uma Lorelai mais aberta e disposta a entender (e tentar corrigir) os erros que cometeu. Há algo de comum entre a garota de 13 anos da história e a Lorelai Gilmore de agora. A garota fugiu da escola para o shopping depois de um fora do menino que gostava e tudo o que desejava era um pretzel, assim como Lorelai fugiu do conforto de sua normalidade para uma aventura à lá Wild. A diferença entre as duas é que, diferente da menina do passado, a mulher de hoje conseguiu enfrentar seus medos sozinha. Conseguiu entender que o mundo não acaba por causa de um punhado de acontecimentos ruins. Conseguiu se abrir para aquela que, ela admita ou não, é uma das pessoas mais importantes de sua vida. E se a Lore do passado encontrou o consolo nos braços de um amoroso Richard, a Lore do presente sabe exatamente onde está seu abrigo.

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O primeiro diálogo dela com Luke, logo após seu retorno, é emblemático demais. Como se fosse uma metralhadora, ele despeja nela tudo aquilo que nós, que acompanhamos sua história por 7 temporadas, sentimos. Quem não sofreu ao vê-los pulando de um relacionamento para outro? Quem não ficou horrorizado com o casamento em Paris com Christopher? Quando Luke externa que precisa de Lorelai, aquilo vem do local mais profundo de sua alma. Foi o momento perfeito para o pedido de casamento não convencional. Ou deveríamos dizer para o “anúncio de casamento”? Nem nessas horas, Lorelai deixa de ser Lorelai.

E era óbvio que seu casamento também não seria. A decisão de última hora de se casar na noite anterior a agendada veio para deixar mais calmos aqueles que tinham pesadelos com um casamento tradicional, vestido de noiva, véu e grinalda. E foi absurdamente lindo do jeito que foi. Com uma placa escrito “Lorelai e Luke”, com chapéus, com danças, com Rory ali (porque a Lorelai de verdade JAMAIS se casaria sem a Rory, ouviu sr. David Rosenthal?), com a coroação, da maneira mais simples, pura e bonita que a história de amor do dono de lanchonete e a mulher que um dia lhe deu uma página de horóscopo merecia. De fato, foi escrito nas estrelas. 

Mas, como nem tudo são rosas, se eu pudesse, colocaria Sookie e Emily naquela mesma cena. A primeira finalmente teve sua participação em uma cena curta, mas também bem significativa. Não faço ideia de como transcorreram os acordos entre a produção e Melissa, mas ela deveria ter sido uma parte maior desse revival e quando a própria Sookie diz “Nós deveríamos ter feito isso juntas.”, sinto como um pedido de desculpas (seja lá de quem for a culpa – se houver um culpado) por isso. De qualquer forma, pelo menos pudemos assistir mais uma vez as duas melhores amigas juntas, orgulhosas do investimento de sua vida.

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Investimento que vai crescer, finalmente, graças a Emily. Como é bom vê-la reconstruindo sua vida. Por mais radical que possa ter parecido a decisão de vender a casa e se mudar, começando novamente, acredito que é exatamente o que ela precisava. É a forma que ela encontrou de superar a dor que a morte de Richard causou e seguir em frente, sem ele. Porque a vida não pode parar. Kelly Bishop foi, de longe, uma das melhores coisas desse revival e conseguiu passar muito bem toda a mistura de sentimentos que, mais do que nunca, Emily Gilmore foi. Todos os méritos a atriz.

O momento em que Lorelai pede a ela dinheiro pra comprar o necessário para expandir a Dragonfly foi sensacional, por emular com perfeição o momento do piloto, onde Lor vai em busca de auxílio financeiro para arcar os custos de Rory em Chilton. Uma sacada maravilhosa do roteiro fazer as ligações por meio de um diálogo bem parecido e o brinde de Lorelai “ao ciclo da vida” resume com perfeição. Há 16 anos, ela estava ali engolindo seu orgulho e enfrentando uma mãe com quem não tinha contato para dar o melhor para sua filha. Agora, ela estava ali por ela e com um relacionamento entre as duas já devidamente reconstruído. Sorte nos negócios. Sorte na família. Sorte no amor.

É uma pena, que no que tange a relacionamentos amorosos, a vida não tenha sorrido da mesma maneira para Rory. Muito se discutiu a respeito de quem estaria com a garota ao fim do revival e a resposta foi a melhor possível: Ela mesma. Rory não precisa de ninguém para ser feliz além de si e de sua mãe. Ainda assim, todos os seus principais relacionamentos tiveram um fechamento aqui.

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Logan, Logan… Que relação de amor e ódio nós cultivamos ao longo das últimas temporadas. Eu gosto de verdade daquilo que o Logan se tornou depois que sua relação com Rory evoluiu, mas é impossível fechar os olhos para o fato de que a garota não se encaixava no mundo dele. Para estar com Logan, Rory SEMPRE precisava renunciar a algo que queria (às vezes a algo que ela mesmo era) e as 4 partes desse revival foram a prova disso. É claro que ela não poderia seguir com aquilo. Claro que ela não continuaria sendo a amante de um cara praticamente casado. Por uma pressão familiar? Até pode ser. Mas Logan já é adulto o suficiente para arcar com as consequências de suas próprias decisões. É claro que Rory o ama (e também não duvido que ele realmente goste dela) e isso fica bastante claro na última cena deles. No olhar melancólico da garota ao se despedir. No tom de voz quase desabando. Nas poucas lágrimas contidas. Mas, naquele momento, ela percebeu que ela se ama mais do que o ama. Naquele momento, ao rejeitar a chave da casa de verão e por consequência continuar o relacionamento, ela escolheu a si. E por mais triste que tenha sido, foi bonito. Bem bonito.

(Mas, não posso deixar de dizer: Que sequências bonitas o “sequestro” dela, eles rodando por toda a Stars Hollows com Finn, Robert e Colin – também tinha saudades deles – e terminando na dança na boate).

Dean fez uma participação minúscula, mas significativa. Tenho todos os problemas do mundo com o primeiro namorado de Rory, mas a despeito disto, a cena foi bonita e importante. De fato, muito do que Rory é hoje é decorrência do seu relacionamento com Dean. Ele foi seu primeiro amor, seu primeiro namorado, sua primeira vez… Seu primeiro tudo. E isso é uma marca que Jess, Logan, Paul e nenhum outro conseguirão apagar. Era óbvio que ele precisava estar no livro e gostei de ver Rory aproveitando o momento para externar ao garoto o quanto ele significa para ela. Por mais que muito daquilo que Rory tenha dito a ele não me soe exatamente verdade, o era para a menina de 16 anos que um dia ela foi.

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Já Jess… Ah, Jess.  Eu sempre fui #TeamJess. Sempre acreditei que dos três, ele foi o único que amou Rory pelo que ela era e não por algum tipo de idealização que ele tinha dela, apesar de todos os inúmeros erros e problemas. O grande problema de Rory e Jess, pra mim, é exatamente o que ela falou sobre Dean: Eles se encontraram em uma época onde não eram maduros o suficiente pra administrar um relacionamento e o que sentiam. Eles são perfeitos um pro outro. Foi ele que apareceu, lá na 6ª temporada, para recolocá-la nos trilhos. Nesse revival, mais uma vez, foi ele que deu a ela a luz para sair do buraco que se encontrava. Por mais que em momento algum do revival, Rory tenha demonstrado ainda ter sentimentos por ele, ele continua gostando dela. 15 anos depois, ele não a superou. No que concerne a Rory, ele continua sendo um garoto de 16 anos apaixonado pela garota mais bonita da cidade e aquele último olhar pela janela comprova isso. Foi dolorido.

Mas antes de Dean, Jess ou Logan, existia Rory. E sempre vai existir. Por isso mesmo, o melhor momento da personagem no episódio foi a entrada na mansão dos Gilmore ao som da trilha clássica, enxergando em cada canto ali, tudo que viveu entre aquelas paredes. Aquela garota ingênua que vimos jantar com a mãe e os avós jamais entenderia porque todos os seus sonhos foram esquecidos. Ela não compreenderia o peso da vida e porque todas as suas chances de sucesso escaparam pelas mãos. A Rory adulta entende e está tudo ali na atuação de Alexis. Fala o corpo. Fala a voz (não dita). E, principalmente, falam os olhos.

Quem não sentiu a dor no coração quando ela abre o escritório do Richard e, além de vê-lo ali, vê a mensagem para que Emily sempre sorria? Pois é.

Escrever um livro sobre sua história com mãe tinha mesmo que ser a coisa que a recolocaria nos trilhos. Gilmore Girls. Sem o artigo, porque segundo Lorelai, pega mais. E ela está certíssima. Fiquei bastante feliz que, no fim, Lor escolheu não ler nada antes da publicação. É exatamente o tipo de atitude que eu estava esperando depois de sua volta da jornada Wild. E não há porque ter medo. Como Rory disse no seu discurso de formatura em Chilton, Lorelai nunca percebeu que a pessoa que Rory mais queria ser… era ela.

O que nos leva, finalmente, as quatro palavras finais. 

rory-e-lorelai

Pelo que vi por aí e também debati com amigos, existe uma divisão em torno das famosas, e agora conhecidas, quatro palavras finais. Muito se falou sobre, desde os tempos da série clássica. Eu mesmo pensei em várias versões, inclusive na véspera do revival, comentei por brincadeira num post do facebook que as palavras seriam “Mom, I am pregnant.”, mas em momento algum achei que seria isso. Não por não achar que faz sentido, porque pra mim faz todo o sentido do mundo, mas porque não achei que Amy e Daniel teriam essa coragem. A gravidez de Rory completa com perfeição as duas ideias que o revival quiseram passar: A de que nem sempre a nossa vida vai seguir da maneira como imaginamos e de que o ciclo está completo. É óbvio que Rory não é mãe aos 16 anos como Lorelai foi, mas em todos os outros sentidos, é a repetição da história: Mãe solteira. Grávida do namorado (ex, no caso) rico que não tem muitas responsabilidades. Com uma vida pela frente (é claro que Rory já tem 32 anos, mas ainda está perdida e agora estava começando a se desenrolar, finalmente).

Não acho que tenha sido um gancho para uma segunda temporada de A Year in the Life, como vi por aí. Acho que realmente paramos aqui e esse diálogo final é a forma de Amy Sherman Paladdino nos mostrar que Rory vai se espelhar em tudo o que o Lorelai lhe ensinou para educar e criar seu filho/a com todo o amor do mundo. Os Gilmore vão continuar. E ela vai assumir esse filho sozinha (com a ajuda da mãe e de Luke, claro), o que ficou bastante claro na sua conversa com Christopher.

Naquele momento, eu já comecei a notar que tinha algo de errado. O bebê é claramente do Logan, com certeza. A série não diz isso com todas as letras, mas não há dúvida alguma pra mim. Na conversa com o pai, Rory está fazendo o que ela sempre e faz: Pensar, analisar e decidir o que vai fazer em seguida, quando está com uma bomba nas mãos. E naquele momento, nas palavras de Christopher a respeito de como agiu quando Lorelai decidiu criá-la sozinha, Rory toma a decisão. A decisão de, provavelmente, criar essa criança de maneira independente, como a mãe fez com ela. Obviamente, ela vai contar ao Logan e eu espero que ele seja mais presente que o Christopher, mas honestamente? Não acredito que seja. A história se repete. Lorelai é Rory. Christopher é Logan. E quem vai ser o Luke da história? Minhas apostas caem num certo Jess Mariano, que está ali, pelas redondezas.

Mas isso é história pra outro revival, se acontecer. Por agora, ficamos aqui, com as quatro palavras finais finalmente ditas, o som de Where You Lead ao fundo e a certeza, ao menos pra mim, que tudo valeu a pena. A jornada chegou ao fim. E esse fim nada mais é do que um novo começo. Que venha a mais nova Lorelai Gilmore (alguém tem dúvida?) e com ela, mais 7 temporadas e outro revival, por favor!

Outros pensamentos: 

— Sim. Esse texto ficou gigante. Peço desculpas, mas era muita coisa pra ser comentada e discutida e bem, o episódio tem quase 2 horas… Então acho que tô perdoado.

— Acho que Lane deveria ter tido ao menos uma cena maior nesse final, ein? Até a brigada teve um destaquezinho e ela nada.

— Lembraram de chamar a April pro casamento, minha gente?

— Acho que eu falei tudo que lembrei. Mas ainda tô sob o efeito da emoção desse episódio lindo, desse revival lindo, então se o texto não estiver a altura do que Fall foi ou se eu esqueci de comentar algo, podem falar nos comentários!


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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