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Gilmore Girls: A Year in the Life – Spring

Por: em 25 de novembro de 2016

Gilmore Girls: A Year in the Life – Spring

Por: em

Se a primavera é a estação onde as flores tendem a desabrochar e ficarem mais bonitas após o frio do inverno, Spring, segundo episódio da volta de Gilmore Girls pega o caminho oposto. Com um tom um pouco mais melancólico que Winter, ele nos mostra que na maioria das vezes a vida nos leva para caminhos diferentes daquele que esperávamos e que reajustar nossos sonhos, vez ou outra, pode ser algo necessário de se fazer para entendermos o ponto da vida em que estamos e o que é necessário para lidar com ele.

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A volta de Rory e Paris a Chilton é um exemplo disso. Mais do que falar com os alunos sobre a experiência fora da segurança dos muros do colegial, elas tiveram a oportunidade de repensar suas próprias vidas. Paris trabalha numa clínica de fertilização, tem dois filhos com Doyle (que continua sendo um personagem divertidíssimo) e só reforçou a armadura de arrogância, dureza e autossuficiência que usa desde os tempos de adolescente. Que tenha bastado apenas um olhar para Tristan, alguém que lhe lembra o seu passado e aqueles anos em que a vida parecia mais fácil e tudo que se queria era conquistar o mundo, é bastante sintomático.

Por mais que Paris diga que talvez ainda esteja apaixonada por Tristan, não é isso que a faz surtar e sim a simples lembrança, ali representada na figura dele, de que um dia ela foi alguém frágil, que carregava o peso da expectativa (muito colocada por ela própria) nos ombros e que agora é um produto de todos aqueles anos. Paris se tornou uma pessoa que carrega uma maleta vazia para parecer importante. Alguém que assusta estudantes adolescentes pela dureza que, na verdade, esconde a mesma garota assustada que se preocupou com a presença de uma rival, alguém que se colocasse em seu caminho, quando Rory chegou em Chilton. As coisas não mudaram muito, mas agora, a rival é a vida. E dessa, você dificilmente consegue ficar amigo.

É um pouco parecido com o que acontece com Rory. Colocando de uma maneira direta, a mediocridade e o fracasso nunca atingiram tão em cheio a vida da jovem.  Era óbvio que uma hora toda essa coisa de “não criar raízes” iria acabar e se mostrar como uma forma de mascarar a dura realidade de que Rory está perdida. Ela tem 32 anos, não tem um emprego fixo, não tem um plano, não tem um chão firme no qual pisar e isso é assustador. Aceitar a ajuda de Mitchell, aquele que um dia a fez perder o rumo e o interesse pelo jornalismo, e ir a uma entrevista em um site que odeia mostram bem tudo isso e que nenhuma das duas coisas tenha se mostrado satisfatória foi o que ativou em Rory o gatilho que a levou, de uma vez por todas, de volta pra casa.

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As circunstâncias do seu relacionamento com Logan também são problemáticas. Quer dizer… Rory gosta tanto assim dele ao ponto de se submeter a isso? Ser a amante? É como se aquela conversa que Lorelai tem com ela ao fim da 4ª temporada, quando ela dorme com Dean, não tivesse significado nada. E por que o próprio Logan não termina com a noiva que mora em Paris para ficar com Rory de uma vez? É estranho demais ver a garota assumindo um papel que antigamente ela jamais aceitaria e isso é só mais uma prova do quão perdida ela está. Sexo casual com um cosplayer de wookie? Ok. Amante? O buraco é um pouco mais embaixo aí.

A conversa com Lorelai, onde Rory assume seu relacionamento com o loiro, é uma das cenas mais bonitas do episódio e que mostram que, mesmo depois de 9 anos, Gilmore Girls não perdeu o tom e a capacidade de aproveitar a excelente dinâmica e química entre mãe e filha. Rory pode ter perdido as chances de se fixar em um lugar. Pode não ser mais requisitada como era no começo desse revival (ou aparentava ser). Pode não ter carro, emprego, ou rumo. Mas ela continua tendo o apoio da mãe e um lugar para chamar de seu, o que, em um momento importante de crise como esse, vale o mundo. Retratar esse momento de incerteza e redefinição na vida da Gilmore mais nova não foi exatamente uma surpresa, mas uma ótima escolha e desenvolvida, até então, com cuidado e beleza. Tenho “só” 25 anos e já bate aquele frio na barriga.

Não que Lorelai esteja com a vida em plena ordem, longe disso, Os momentos de terapia entre ela e Emily foram excelentes e vieram para mostrar que a dolorosa morte de Richard, enfim explicada, serviu pra colocar mais um obstáculo na já problemática relação entre mãe e filha. Existe muita coisa não resolvida e muita mágoa entre Emily e Lorelai e não seria uma terapia dupla forçada que iria resolver isso. As duas ainda precisam de um longo caminho para isso, mas ainda temos dois episódios de 1h30min, então tempo está sobrando. Por agora, o roteiro terminou voltando-se para a estagnação que aconteceu na vida de Lorelai sem que ela notasse até que se abrisse com Claudia.

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Sim, ela está feliz. Ela e Luke estão felizes. Mas isso é suficiente, a longo prazo? As verdades que Emily jogou na cara da filha no episódio passado podem até não ter sido ditas aqui novamente, mas atingiram em cheio tudo aquilo que Lorelai acredita. E, obviamente, ela agiu da forma mais… Lorelai possível. Se questionando. Questionando os outros ao seu redor. E, claro, entrando em uma espiral de dúvidas e conflitos. Acho natural que, após 9 anos de relacionamento com Luke, tais questionamentos quanto ao futuro com filhos, casamentos e tudo o mais apareçam. De uma maneira geral, acredito que dê pra falar que esse revival tem sido de fato sobre o tempo e os efeitos que ele teve (e vem tendo) na vida das garotas Gilmore e das pessoas ao seu redor. O meu medo é que isso acabe não casando bem com o temperamento meio explosivo de Luke, mas… Vamos esperar pra ver.

Além de tudo, ainda existe o fantasma de Richard e seu testamento sobre eles dois. Inicialmente, foi bem surpreendente saber que o matriarca dos Gilmore deixou uma parte de seu dinheiro para que Luke expandisse seus negócios e tornasse o Luke’s Dinner uma franquia, mas parando para refletir, faz sentido. Richard nunca teve uma resistência inicial forte a Luke como Emily e, se mesmo ela acabou se acostumando (e gostando) do sogro, por que ele não o faria e deixaria um investimento para assegurar o futuro dele e da filha? O duro vai ser Emily conseguir convencer Luke de que isso é uma boa ideia… e principalmente, convencer Lorelai.

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No meio desse turbilhão, ainda existe a questão da Dragonfly Inn. Michel quer expandir o local, crescer o negócio. Lorelai não. Quem está certo? Nenhum dos dois. Ambos tem seus motivos. Michel quer ter filhos com o marido, quer crescer, ir além. Já Lor, está feliz com o que tem. É, mais uma vez, a questão da estagnação, muito atrelada também ao medo de pular de cabeça em algo novo que vai trazer alguma agitação ao seu status quo.

E, de certa forma, é isso que resume tudo que Gilmore Girls: A Year in the Life até agora: Personagens lidando com a ação da vida, com o medo do novo, com o entender que, em algum momento, os planos mudaram. E é preciso se ajustar novamente a eles.

Outras observações:

– Que saudade que eu estava do Kirk e das reuniões da cidade. Aliás, Gipsy tentando tirar Taylor do armário: Impagável.

– Esse episódio foi cheio de cameos Mae Whitman aparecendo para aquecer os corações dos saudosistas de Parenthood, o fake Tristan (perdeu, Chad Michael!), Michael Ausiello, Paul Anka… Tanta coisa que com certeza ainda tô esquecendo de algo.

– Que coisa mais fofa o festival dos países! E Luke lembrando a Lorelai sobre o episódio das cestas: Só sei sentir.

– Esse culto que Liz e TJ conseguiram entrar: Eu tremi só de pensar.

– Me faltam palavras pra descrever o filme do Kirk.

– Mrs. Kim continua sendo incrível.

– Me falaram que Jess estaria em 3 episódios. Estou me sentindo enganado.

– O episódio teve MUITA coisa, eu ainda tô escrevendo isso sob o efeito da emoção, então posso ter deixado passar alguma coisa. Se deixei, por favor, mandem brasa nos comentários. Amanhã a gente se vê. Cristal vem comentar o terceiro episódio e eu apareço pra gente discutir o final. Temos um encontro marcado, certo?

PS. Sempre lembrando, nem todo mundo viu todos os episódios, então nada de spoilers dos episódios seguintes nos comentários, certo?!


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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