A sexta temporada de Girls começa com um sonho de Hannah realizado: seu texto foi publicado na coluna Modern Love, do New York Times, e merece um “finalmente!”, depois de cinco anos de fracassos profissionais para a protagonista. Logo no início de All I Ever Wanted, pudemos matar as saudades de todos os personagens, enquanto eles prestigiavam o triunfo de Hannah no papel. Foi ótimo ver como cada um reagiu exatamente como nós imaginaríamos. E palmas para a genial Chelsea Peretti (Brooklyn Nine-Nine), que fez uma breve participação especial – foi ela quem contratou Hannah para a matéria sobre surfe, que se desenrolou ao longo do season premiere. Não consegui ter certeza de quanto tempo se passou desde o episódio anterior, mas o título do artigo no New York Times (Perdendo minha melhor amiga para meu ex-namorado) já indicava que o relacionamento entre Hannah, Jessa e Adam não estava nada bem. Pensei que essa introdução daria o tom da nova temporada, com uma Hannah estampada no jornal e os demais personagens vivendo os altos e baixos de Nova York. Não foi bem assim.
Quer dizer, teve muita Hannah nesses 41 minutos – o que é compreensível, já que Lena Dunham é a toda-poderosa de Girls. Mas, infelizmente, parece que voltamos ao roteiro escorregadio da quarta temporada, quando ela estava em Iowa, e perdemos a essência da série: cadê as quatro amigas na cidade grande? Fiquei frustrada de ver somente 90 segundos de Shoshanna. Ela é uma das personagens mais interessantes e complexas de Girls. Na quinta temporada, fomos até o Japão para acompanhar a garota e, agora, nem sabemos se ela continua na cafeteria anti-hipsters ou como está sua vida amorosa. Os tempos mudaram. Marnie e Ray apareceram mais do que Shosh, embora só como lembrete: o casal ainda existe, troca apelidos carinhosos como “baby” o tempo todo e está prestes a implodir, tamanha a falta de química. Esse destino fica engatilhado quando Ray conversa com Shosh (durante os 90 segundos de aparição dela) e Marnie encontra seu futuro-ex-marido, Desi.
Ray também foi responsável por nos levar à casa do Adam, um chiqueiro que me lembrou a primeira temporada, onde ele atualmente vive com Jessa. O casal, que protagonizou a história de Hannah no New York Times, assumiu um estilo de vida meio John & Yoko. Parecem ter feito as pazes depois da briga astronômica que encerrou a quinta temporada – lembram quando Jessa falou que nunca perdoaria Adam por romper sua amizade com Hannah?
Se assistimos à série, gostamos de ver a vida desglamourizada como ela é apresentada aqui. Mais do que gostamos: esperamos por isso. E é claro que também queremos ver uma boa história. É aí que Girls está confundindo as coisas. Não basta despir metade do elenco em cena, sem desenvolver um roteiro coerente e instigante. Sempre houve discussões sobre essa nudez ser gratuita, e eu prefiro avaliar caso a caso. Agora, vou desabafar: a cena do iogurte foi meio grotesca. Quais são as consequências de Jessa tomar iogurte nua, além de chocar o público da HBO – que, convenhamos, já passou dessa fase há algumas temporadas? Nenhuma. Jessa não apareceu vestida em momento algum do episódio. Não sei se era para rir ou se angustiar. Só observei a TV, esperando que algo mais acontecesse. E nada aconteceu ali: já falei que o season premiere só girou em torno de Hannah. Então vamos falar sobre ela.
A garota foi escalada para investigar um acampamento de surfe, cujo público-alvo são mulheres da classe alta nova-iorquina. O episódio começa a rascunhar a participação de Ginny, a loira com traje cor-de-rosa, mas ela logo desaparece. Fiquei curiosa para ler o que Hannah acabou escrevendo em seu artigo, afinal, sabemos que a pauta não saiu exatamente como planejada. Ainda na areia, ela desistiu do surfe e passou o resto do episódio num affair selvagem com o instrutor Paul-Louis – um pseudo-budista, interpretado por Riz Ahmed (The Night Of e The OA), que, no fim, revelou ter um relacionamento aberto com outra mulher. Hannah não ficou feliz, mas surpreendentemente aceitou. Digo “surpreendentemente” porque, na minha cabeça, Hannah faria um escândalo e iria embora para casa. Talvez seja uma pista de como a personagem está mudando, agora à beira da casa dos 30.
Eu nem sei do que meus amigos gostam. Só sei do que não gostam. Meus Deus, que maluquice. É como se estivéssemos tão ocupados atrás do sucesso, em busca da nossa própria identidade, que sequer conseguimos experimentar prazer.
Na praia, o diálogo entre Hannah e Paul-Louis trouxe reflexões bacanas e clichês, que, de alguma maneira, justificaram o caminho que o episódio tomou. O rapaz conseguiu quebrar uma barreira de Hannah – tarefa difícil! – e fazê-la desacelerar e filosofar sobre as infelicidades da vida contemporânea. No ápice do carpe diem, o episódio se encerra num luau, sem dar sinal do que podemos esperar para semana que vem. Fica minha torcida para mais cenas com outros personagens, mais Nova York e histórias bem construídas. Tudo que uma season finale merece.
A vinheta de Girls virou um hobby para mim – ver o mesmo letreiro, escrito em cores diferentes. Desta vez, eles inovaram e brincaram com emojis (😒👯💃). Vamos aproveitar o espaço das reviews para fazer uma coleção ao longo da temporada.