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Girls – Vale cada minuto!

Por: em 26 de junho de 2012

Girls – Vale cada minuto!

Por: em

“O que você quer ser quando crescer?” É praticamente impossível passar a infância sem ser confrontado com esse questionamento pelo menos uma vez. A vontade dos adultos de nos instigar a realizar conjecturas sobre nossa vida futura é grande. E a vontade das crianças de crescer e ser independente também não fica muito atrás. Combine os dois e o que sai dessa equação é a repetição dessa inofensiva pergunta exaustivas vezes. As respostas variam bastante, indo desde as mais sonhadoras (astronauta, modelo, jogador de futebol) às mais realistas (médico, professor). O que nunca imaginamos ao formularmos uma hipótese é o fracasso. Ele nunca está presente em nossos sonhos infantis (afinal, se estivesse, não seriam sonhos, não é?). E, um belo dia, acordamos para a realidade. Não somos mais crianças. Também não somos ainda adultos (pelos menos não em nossas mentes imaturas). E a realidade, é da forma que esperávamos? Muitas das vezes a resposta é um grande e sonoro não.

Nos primeiros anos de vida, normalmente seguimos um caminho já percorrido pelos nossos progenitores: pré-escola, ensino fundamental, ensino médio, faculdade… E vamos seguindo sem precisar pensar muito, sem refletir sobre o próximo passo, somente seguindo o que é natural para nós. Até que, pronto, acabou a faculdade. E agora? Como enfrentar o mundo real? Existe algum manual de instruções para conseguir o emprego ideal? É sobre esse período turbulento em nossas vidas que se trata Girls. E, pasmem, é uma comédia. Começamos a série observando a protagonista Hannah (Lena Dunham) receber um balde de água fria dos pais. Cansados de sustentar a filha após o término da faculdade, eles cortam os recursos de Hannah, que persegue uma carreira de escritora em New York. A princípio, Hannah se sente injustiçada, afinal ela não está à toa. É estagiária de uma empresa na expectativa de ser efetivada para dar o pontapé inicial rumo ao seu sucesso. Ela acredita ser a voz de sua geração (o que ela mesma diz, mantendo o tom de deboche que sempre usa ao falar de si mesma), só que ainda não teve a oportunidade para mostrar isso.

É impossível assistir a Girls, caso você esteja na faixa dos 20 anos, e não se identificar com o que vemos na tela. A insegurança, as escolhas erradas, a auto-sabotagem, a indecisão e várias outras características dos jovens adultos da geração atual estão retratadas na série. Os personagens são tão variados e multidimensionais que é possível vermos um pouco de nós em cada um deles. Temos Marnie (Allison Williams), a linda roommate de Hannah, que tem um ótimo emprego, um namorado que a ama e uma aparência de ótima pessoa ao mesmo tempo que pode falar as coisas mais cruéis de seu namorado e de sua melhor amiga. Jenna (Jemima Kirke) é a “espírito livre” do grupo, que trata com a mesma leveza a necessidade de um aborto e as investidas do chefe, encarando tudo com seu modo boêmio de ser. Shoshanna (Zosia Mamet, que já teve papéis em séries como Mad Men e United States of Tara) é uma garota virgem, não por motivos religiosos ou por neuras pessoais, simplesmente por não ter acontecido e ponto. Ela fala rápido e é responsável por alguns dos momentos mais engraçados da série.

E para quem acha que essa é um série essencialmente feminina (o que eu não concordo, acho que é uma série essencialmente jovem), também temos personagens masculinos tão interessantes quanto nosso quarteto principal. Adam (Adam Driver) é um aspirante a ator e interesse amoroso de Hannah, que se apresenta como uma incógnita no início da série e vai crescendo ao longo da temporada de uma forma fenomenal. Charlie (Christopher Abbott) é o namorado maltratado de Marnie, que sofre por ser muito carinhoso com ela, que já se cansou da relação. Ray (Alex Karpovsky) é o melhor amigo de Charlie e, mesmo com suas curtas aparições durante a primeira temporada, divide facilmente o posto de personagem mais engraçado junto a Shoshanna. Elijah (Andrew Rannells), o ex-namorado de Hannah, completa o time de personagens masculinos recorrentes na série,  tendo se revelado gay em um jantar hilário com sua ex.

Vale ressaltar que Girls não é uma série fácil, e as reações que vem despertando são no estilo “ame ou odeie”. Mesmo com a reação positiva da crítica e conquistando diversos fãs, existem aqueles que podem se assustar com algumas situações exageradas da série. Lembrem-se, não é TV (aberta), é HBO. E com a liberdade que a TV a cabo proporciona, é comum vermos os roteiristas aproveitando e testando os limites do que seria aceitável para a mídia televisiva. Então, preparem-se para ver cenas de sexo nada glamorosas (é louvável como Lena se despe da vaidade e gosta de emprestar seu corpo na criação de toda a aura loser de Hannah, reparem na postura que a personagem apresenta na maioria de suas cenas e entenderão melhor o que digo). Além disso, em Girls nenhum tema é tabu, tudo pode e é discutido da forma mais realista possível. O que nos leva a mais uma ressalva: o humor incomum. Não espere o humor de sitcoms a que estamos acostumados, Girls possui um humor peculiar (não estou dizendo que esse é um tipo de humor melhor, somente diferente). Se você não vê problemas em rir de frases como: “Eu queria ter AIDS” ou “Seu namorado deveria se suicidar, você merece” (que tem um contexto, não se assustem), então pode encarar sem medo.

E, embora acreditando que isso já tenha ficado bem evidente pelas características citadas anteriormente, não custa nada frisar: essa não é a nova Sex and the CityQuatro protagonistas que são amigas e vivem em New York são os únicos pontos em comum. Poderia apostar que o mais próximo que essas meninas já chegaram de um Manolo Blahnik foi ao passarem em frente à vitrine da loja.

A série tem como produtor executivo Judd Apatow, nome conhecido de quem gosta de cinema por ser um famoso diretor de comédias, além do responsável pela série Freaks and Geeks. As outras produtoras executivas são a própria Lena Dunham, que também é roteirista e criadora, e Jenni Konner. Girls teve 10 episódios em sua primeira temporada e a sensação que tenho é que foi muito pouco. Adoraria a companhia destas garotas por mais episódios, mas terei que esperar a segunda temporada já confirmada pela HBO, que deverá estrear em 2013. Se você quer uma sugestão de programa curtinho para preencher o vazio da sua summer season, aposte nas garotas indecisas de vinte e poucos anos de New York que não irá se arrepender.

Melhores episódios: “Welcome to Bushwick a.k.a The Crackcident” (1×07) e “She did” (1×10).

Trailer da primeira temporada:


Maura

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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