Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

Hannibal – 3×13 The Wrath of the Lamb (Series Finale)

Por: em 30 de agosto de 2015

Hannibal – 3×13 The Wrath of the Lamb (Series Finale)

Por: em

Desde que o cancelamento de Hannibal foi anunciado, The Wrath of the Lamb foi o episódio mais esperado e mais temido pelos fãs. É claro que queríamos conhecer o desfecho da série, e apesar de já termos visto do que Bryan Fuller e sua equipe eram capazes, foi impossível não carregar uma pitada de apreensão sobre a finale definitiva. O final estaria à altura de uma série tão brilhante? As pontas seriam amarradas? Os finais escolhidos seriam satisfatórios?

reba

Analisando individualmente o episódio, pode-se dizer que ele foi costurado com cenas absolutamente memoráveis – das quais vou falar mais adiante – mas o conjunto, belíssimo e perfeito como um series finale, não foi tão marcante quanto o que vimos em Mizumono ou Digestivo.  O que não é necessariamente uma coisa ruim! Mizumono foi impactante porque deixou todo mundo sem chão e no escuro sobre o destino dos personagens… repetir esse sentimento em um series finale seria muita crueldade com o público.

Ao contrário de grande parte das cenas de Hannibal, cheias de arte e de simbolismos, a sequência inicial do episódio, com Francis e Reba, foi uma cena “comum”, não muito diferente de qualquer filme de suspense. A ausência de recursos subjetivos aumentou a tensão daqueles minutos, pois deu um ar de realidade que parecia nos colocar direto naquela casa, sentindo o mesmo medo, o mesmo desespero e a mesma insegurança da namorada de Dolarhyde.  Mesmo sabendo que não, eu acreditei que ele estava morto naquele momento.

E por falar em Reba, foi muito bom ver que ela não só se salvou, como continuou sendo a mesma e não se deixou quebrar depois de uma experiência traumática. Durante sua conversa com Will, ela mostrou que ainda era uma mulher forte, e mesmo assustada pelo que passou, manteve seu senso de humor, sua autoconfiança e aquela luz que ela irradia desde a sua primeira aparição.

alana

Quando pensou naquela armadilha, Will não queria matar Hannibal, não queria “muda-lo”, Will queria ver o que acontecia, e certamente torcia muito mais para o seu canibal favorito que para o Dragão no embate que sugeriu. Me espanta é que Jack, Alana e quem quer que fosse tenham caído naquela conversa e acreditado que eles seriam capazes de matar qualquer um dos dois com recursos tão frágeis. Esqueceram das ameaças de morte que Hannibal fez a cada um e esqueceram que ele só estava preso porque quis ser preso, já que nunca polícia alguma conseguiu detê-lo.

Bedelia parece ter sido a única a sentir o perigo se aproximando e a enxergar as verdadeiras motivações de Will. Ele estava tão consumido pelos seus sentimentos por Hannibal que preferiu assumir o risco de machucar muita gente, incluindo Bedelia, a família de Alana e até mesmo a sua própria família, tudo para viver aquela última experiência com o psiquiatra. Will foi transformado por Hannibal, assim como o Dragão transformava suas vítimas.

Alana protagonizou os meus diálogos preferidos deste episódio, tanto com Hannibal quanto com o escalpelado Dr. Chilton. Fredderick mostrou a ela a verdade inconveniente de que eles desprezam assassinos como Hannibal e Dolarhyde ao mesmo tempo em que mantém as próprias mãos sujas de sangue. Ele foi uma isca, os policiais que transportaram Hannibal também foram entregues para sacrifício e ninguém se importou com isso. Já com Hannibal, ela deixou transparecer a mesma Alana insegura e totalmente diferente da mulher fria que se tornou depois daquela noite. Ela sabia que Hannibal cumpriria sua promessa, ela sabia que sua vida pertencia a ele e nada poderia mudar isso.

hannigram

As sequências de Will e Hannibal foram um presente! A sintonia entre os dois, a comunicação não verbal, os olhares que falavam muito mais do que qualquer palavra poderia expressar… tudo ali foi o resultado dessa relação que levou tantos anos para ser construída. Uma relação que foi erguida sobre os escombros de Will, com momentos de uma convivência intensa e outros de total ausência, com pedaços de mentiras, de manipulação, de piedade, de paixão, de violência e de entrega – entrega no nível mais profundo a que alguém pode chegar.

Se a primeira sequência foi puro realismo, a “batalha” final de Hannibal e Will contra do Dragão foi a poesia mais linda que a série já escreveu. Foi como se cada alegoria, cada morte, cada análise psicológica que Will e Hannibal fizeram um do outro tivesse existido para dar sentido àquela cena. Eles eram um só, e eram também mestre e aprendiz compartilhando uma presa. Não há nada mais Hannibal que uma morte no escuro, repleta de esguichos de sangue e de uma trilha sonora – perdoem o trocadilho – matadora.

O abismo em que eles se jogaram juntos vai continuar erodindo até que tudo desapareça definitivamente, e eles também. Mas não foi daquela vez.

Bedelia teve o mesmo destino de Abel, embora em uma versão bem mais glamorosa. Uma cena final que mostrou que Hannibal sobreviveu e está cumprindo suas promessas. Vai ficar a cargo da nossa imaginação o que aconteceu com os demais, mas eu, particularmente, prefiro não imaginar nada além do que foi mostrado. Eles nos deram um final bonito demais e eu não tenho coragem de viola-lo nem em pensamento.

bedelia

Algumas observações:

– E aquela criança gigantesca da Alana e da Margô? Tem três anos, mas parece que tem 13.

Love Crime não sai da minha cabeça desde que eu assisti ao episódio.

– Will deve estar bem próximo de bater o recorde mundial de cicatrizes.

– Se bem que o Chilton ainda tá bem na frente, né?

– Ding-Dong, como eu amo referências a musicais!

– Que lindeza o sangue do Dolarhyde saindo em forma de asas <3 Só Hannibal mesmo pra fazer um assassinato brutal virar uma coisa tão bonita.

Hannibal chegou ao fim ultrapassando os limites de uma série de TV, como foi desde o inicio. Foi uma obra que nos levou ao fundo de tudo aquilo que é definido como humano: as entranhas, a anatomia dissecada na tela, os lugares mais escondidos da mente de cada um, os desejos mais inconfessáveis. Ao escancarar aqueles personagens – da carne ao espírito – a série abriu muito do que o espectador escondia ou nem mesmo conhecia de si mesmo. Nem todo mundo aguenta o tranco de uma experiência assim, tão perturbadora. Muita gente abandonou a série pelo caminho, mas quem chegou até o fim foi de alguma forma transformado também. Hannibal e o Dragão Vermelho ficariam orgulhosos, aposto.

dolarhyde


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

×