Spoiler Alert!
Este texto contém spoilers leves,
nada que estrague a série ou a sua experiência.
Trigger Warning: estupro
A HBO foi criticada várias vezes pelo excesso de estupros e violência sexual contra mulheres nas séries que produz (em especial o uso gratuito em Game of Thrones, onde chegaram ao ponto de mudar uma cena de sexo consensual nos livros para um estupro na TV) e seus executivos não conseguem explicar o porquê de usarem o cruel artifício tantas vezes.
No sábado, durante uma sessão de perguntas e respostas no Television Critics Association, foi pedido a Casey Bloys, novo presidente de programação do canal, para explicar a decisão de usarem tantas cenas de estupro e violência contra mulheres nas séries da HBO, incluindo na estreia do sci-fi Westworld.
Bloys tentou defender a posição da rede, afirmando que a “violência é meio que indiscriminada”. Mais tarde, quando um outro reporter apontou que a violência sexualizada é usada como estratégia de roteiro para personagens femininas, Bloys disse que “não vê necessariamente específica para mulheres”, reforçando que “muitos homens também são mortos” e tentando brincar que iriam “matar todo mundo”.
Outro repórter pressionou o executivo, que confirmou que nenhum personagem masculino foi estuprado, mas são castrados. “Em Game of Thrones, um homem tem que comer um bolo feito por partes dos próprios filhos. A violência é extrema em todos os lados. Eu entendo o seu ponto de não termos nenhum estupro masculino. Meu ponto é que a violência é espalhada igualmente”, concluiu.
O jornalista retrucou que estupro é uma violência diferente e perguntou se a forma como estão mostrando-a não normaliza a violência sexual contra mulheres. Citando o piloto de Westworld, Bloys respondeu que “são robôs, então é um pouco diferente de GoT, onde é uma violência de humano para humano”. Mais tarde, ele disse que a crítica é válida.
Zeba Blay, do Huffington Post, não ficou satisfeita com a resposta de Bloys.
Talvez mais frustrante do que a resposta evasiva e a falta de habilidade de Bloys em explicar [a situação], é o fato que a única explicação dele foi comparar violência contra homens nas séries da HBO à violência contra mulheres. Não vamos fazer isso. São duas coisas diferentes. Por quê? Porque violência contra mulher é separada por gênero e sexualizada, com as mulheres, como o Noah Berlatsky, do Guardian, escreveu ‘sempre vulneráveis e sem uma ação heroica’ (podemos debater sobre o perigo de desensibilizar a audiência para violência nas telas grandes e pequenas, mas é uma conversa separada).
Blay também diz que o uso de estupro é um sintoma de um roteiro preguiçoso. “Frequentemente, quando uma série quer dar um passado trágico a uma personagem feminina, ou colocá-la no caminho da redenção, ou puni-la, usam estupro para atingir esse objetivo”, explica.
Ela cita um uso positivo da violência contra mulher, em Jessica Jones. Onde a personagem principal fala sobre o que sofreu, o roteiro usou o artifício durante uma temporada inteira para explicar o impacto e a força do vilão sobre a protagonista, mas não precisaram mostrar o ato em si.
O Apaixonados por Séries concorda que é preciso questionar os produtores, roteiristas e outras pessoas de poder em estúdios e não aceitar respostas mal-elaboradas como as de Bloys (que somente evidenciou o problema do canal), para realmente termos uma mudança. Parabéns aos repórteres da coletiva, por não deixarem o assunto de lado.