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Ligações Perigosas

Por: em 5 de janeiro de 2016

Ligações Perigosas

Por: em

Spoiler Free!

Este texto não contém spoilers,

leia à vontade.

Ligações Perigosas, a Liaisons brasileira, estreou na primeira segunda-feira de 2016 com o desafio de contar de forma original uma história que parecia já ter sido contada de todas as formas possíveis desde que foi escrita, em 1782.  Com um elenco primoroso, encabeçado por Patrícia Pillar e Selton Mello, a minissérie começou com o pé direito, trazendo a essência picante e dissimulada das “cruel intentions” para quem não sabe nada sobre a obra, e um frescor inegável para aqueles que já conhecem de cor o tear desta trama.

isabel

Ambientada no Brasil dos anos 20 pelo texto de Manuela Dias, Ligações Perigosas tem como protagonistas Augusto de Valmont (Selton Mello) e Isabel D’Ávila de Alencar (Patrícia Pillar), aristocratas que firmaram uma parceria ainda na juventude, atraídos pelo hábito de manipular, seduzir e fazer apostas sobre o destino alheio. Dois libertinos, extremamente semelhantes em muitas coisas, mas com reputações bem distintas. Enquanto Augusto, como homem, pode desfrutar de todos os prazeres abertamente, Isabel precisa driblar os olhares da sociedade conservadora para viver o que deseja enquanto mantém a imagem de viúva respeitada.

Logo nas primeiras cenas, Isabel se empenha em vencer mais uma de suas apostas: fazer com que o rico Heitor Damasceno (Leopoldo Pacheco) se apaixonasse por ela. Apesar de ele se mostrar um amante devotado e generoso, a aposta não seria vencida tão facilmente, já que poucos dias depois, Heitor pede a mão de Cecília, sobrinha de Isabel, em casamento. Heitor não se contenta em descartar a ex-amante, como faz questão de deixar claro que mulheres que fazem sexo fora do casamento não servem como esposas, e insinua que ela está velha demais para ele (apesar de ser aparentemente mais nova que o próprio), já que não pode mais lhe dar filhos. Em um dos pontos altos do episódio, Heitor recebe a resposta que merece: uma taça quebrada no meio da testa.

Por mais ódio que tenha tido em seu gesto, quebrar um pedaço de vidro não foi o suficiente para Isabel expiar sua mágoa, e imediatamente ela recorre ao parceiro e propõe que ele leve Cecília para a cama antes do casamento, apenas para contrariar a vontade de Heitor. Neste ponto é possível começar a entender como funciona a mente e os métodos dos dois, que brincam de forma leviana com a vida de terceiros por motivos extremamente desproporcionais.

augusto isabel

O tom dado aos protagonistas é interessante, pois apesar da frieza em suas ações e dos hábitos noturnos, Isabel e Augusto são personagens solares, alegres, estampam sorrisos no rosto na maior parte do tempo e a maldade que destilam está completamente escondida nas entrelinhas. Eles seduzem seus pares na trama e o público também! Pois é impossível não se dobrar diante de uma mulher tão segura de si e dos seus desejos quanto Isabel, ou suspirar com a espontaneidade calculada de Augusto em cada um dos seus gestos.

O primeiro episódio foi absolutamente dominado por Isabel, com direito a flashback de excitação no confessionário e de um quase assassinato sexual na cama. Isabella Santoni, que interpretou a personagem nessa fase, fez uma leitura muito própria que, embora correta, não se assemelha em quase nada com a mulher vivida pela espetacular Patrícia Pillar. A jovem Isabel é fria, gélida, uma verdadeira psicopata, e a Isabel adulta é calorosa em todos os sentidos.

Gosto muito do trabalho de Alice Wegmann e fiquei bem satisfeita quando soube que ela daria vida a Cecília, mas a atriz parece ainda não ter encontrado o tom certo para a sua personagem. O texto sugere uma garota inocente pela idade e por ter sido criada em um internato, mas muito viva, curiosa e sagaz… Alice parece ter se inspirado na já pouco inspirada interpretação de Dakota Johnson para viver uma espécie de Anastasia Steele dos anos 20. Sua mãe vai pelo mesmo caminho e não consegue emplacar ainda como a deslumbrada que entrega a filha a um homem rico.

mariana

Por outro lado, Marjorie Estiano está magnífica vivendo a carola Mariana, que de cara rouba os olhares e as atenções de Augusto. Uma personagem que em sua primeira aparição está lavando os pés dos pobres e fazendo pregação religiosa enquanto todo o resto do elenco se pega, se beija, se lambe e etc, tinha tudo para fazer o público torcer o nariz, mas Marjorie se encarregou de dar contornos sutis e interessantes à sua Mariana. Tão interessantes que não parece que Augusto se interessou apenas por ela ser uma mulher religiosa e pretensamente diferente das suas amantes, a questão ali não foi, aparentemente, a dicotomia santa x mulher da vida. Mariana é mais que um conceito, é de fato uma pessoa apaixonante.

Aracy Balabanian e Selton Mello formam uma dupla incrível em cena e os dois atores, como já era de se esperar, desempenham seus papéis com bastante competência, mas sem grandes surpresas. Leopoldo Pacheco poderia entregar um Heitor um pouco mais pedante, mas talvez isso seja um conceito da minha cabeça, então vamos considerar sua atuação como correta por enquanto.

A edição segue uma linha clássica, sem grandes malabarismos – até para manter o clima de uma produção de época, mas não deixa de lado algumas ousadias já experimentadas em produtos do horário, como O Rebu e Verdades Secretas, o que é fundamental para trazer à tona a atmosfera sensual, provocativa e cheia de mistérios que o roteiro exige. As narrações em certos momentos ocupam o lugar das cartas que entrelaçavam as histórias na obra original.

Em dez episódios é difícil acreditar que Ligações Perigosas tenha tempo para se perder. A trama, apesar de datada e tradicional, se baseia em fatores que nunca envelhecem e são sempre uma aposta certa para os folhetins: o desejo e a crueldade humana. E você, o que achou do primeiro episódio da nova minissérie da Globo? Deixe seu comentário e até amanhã para a próxima review!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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