A primeira temporada de Lucifer é lembrada por conter incontáveis altos e baixos. Na maioria das vezes, o roteiro parecia não saber como levar a história e, deixando os personagens de lado, acabava focando mais nos casos da semana. Já agora, a série pareceu desenvolver seu próprio ritmo. Mesmo continuando como procedural, os episódios iniciais já foram responsáveis por desenvolverem praticamente todos os personagens até o momento e indicar o rumo que a história deve seguir daqui para frente.

E vamos começar com Lucifer que, surpreendentemente, mostrou um novo lado para o público. Na temporada passada, a arrogância do personagem reinava praticamente em todo o tempo, mas essa temporada foi responsável por nos mostrar o lado mais humano dele. Afinal, apesar de ser um anjo caído, o que aconteceria com ele vivendo tanto tempo entre os humanos? Seres humanos são diferentes de seres celestiais. Nós somos livres para fazermos nossas próprias escolhas e precisamos lidar com elas. Nós não temos apenas emoções, mas sim sentimentos. Vivemos tudo ao máximo, sem deixar nada para trás. Quando sentimos raiva, ficamos realmente irritados. Quando sentimos felicidade, ficamos realmente sorridentes. Quando sentimos amor, nós realmente amamos da forma mais pura que existe. Mas, quando sentimos medo… Ah, nós realmente ficamos assustados. E esse foi o primeiro sentimento que conseguimos notar no personagem: medo.

Sua mãe (Tricia Helfer) fugiu do inferno e, instintivamente, ele achou que a mesma o estava perseguindo. Naquele momento, um turbilhão de sentimentos acabou surgindo, mas só um tomou força o suficiente para transparecer. O medo pode acabar sendo o nosso pior inimigo. Ele funciona como uma doença que nos consome por dentro e tenta eliminar tudo que temos. Lucifer sentiu isso de verdade, algo que o tornou tão humano quanto os outros. Mas, mesmo ela tendo relevado o porquê de querer continuar na terra, é nítido que ela possuí segundas intenções. Mesmo após tudo isso, se torna quase impossível saber o que ela quer. Muitos fatores apontam para uma rebelião contra Deus, mas será que algo assim poderia ser cogitado? Ela não só conseguiu se entender com Lucifer, mas também foi responsável por finalizar a queda de Amenadiel. Ela pode ser o verdadeiro inimigo, mas ninguém consegue perceber.

Amenadiel não só perdeu sua postura, como também ganhou uma nova personalidade. Seu relacionamento com Maze provavelmente acelerou o processo, mas já era questão de tempo até ele se voltar contra o céu. Apesar de ainda não saber que é isso que realmente quer, é difícil ele escolher um lado que não seja o do irmão. Família é para sempre. A lealdade se tornou um marco entre os irmãos. Se antes eles pareciam não ter nenhuma química, agora conseguiram se juntar para se tornaram mais uma das famosas duplas improváveis. Mas, enquanto Lucifer guarda tudo dentro de si mesmo, ele precisa colocar tudo para fora. Na maioria das vezes, as pessoas que parecem fortes são, na verdade, as mais fracas. Ele é uma prova viva disso. Ele se rebelou contra Deus e perdeu seus poderes. Quem ele se tornou agora? Pelo que conseguimos perceber, ele se tornou apenas o irmão mais velho. Ou melhor, aceitou o seu papel de irmão mais velho. E é isso que uma família faz: aceita seu papel. Uriel não foi o personagem mais interessante de todos os tempos, mas é impossível não se emocionar com a morte do mesmo. Ele era da família, não importa de que lado estava.

Maze, por sua vez, conseguiu ganhar seu próprio destaque. A personagem que anteriormente era bastante superficial, se consagrou como uma das mais interessantes e misteriosas. Afinal, quais são as motivações dela? Mesmo negando, fica claro que ela gosta de estar na terra. E assim como Lucifer, ela também está experimentando novos sentimentos. Uma das melhores coisas nessa temporada está sendo a interação dos personagens, tornando possível a história ganhar ainda mais profundidade. A relação dela com Trixie nos mostra alguém que quer apenas ser aceito. Ela não quer ser sozinha. Ela não quer ficar sozinha. Todos nós precisamos de alguém. E como muitos já dever ter ouvido: ninguém é uma ilha deserta. Ela consegue esconder tudo atrás de sua personalidade, mas até quando isso irá durar?

Chloe, por sua vez, está chegando cada vez mais perto da verdade. Ela ainda pode não nutrir sentimentos mais fortes por Lucifer, mas é claro que ela o considera um amigo. Em cada caso da semana, que parecem escritos com muito mais cuidado, os dois se tornam parte essencial da resolução. Eles precisam um do outro, pois juntos são mais fortes. O problema é quando tudo for revelado. Afinal, quem estaria preparado para uma revelação como essa? O relacionamento dela com Dan também acaba ganhando mais destaque. Ela ainda está longe de perdoá-lo, mas é possível ver que ainda nutre sentimentos por ele. É difícil afirmar com precisão sobre a mudança dele, mas é possível notar a vontade dele em corrigir tudo. Aliás, os dois acabam criando mais química separados do que como um casal. Resta saber até quando isso irá durar. Apesar das constantes brigas, é impossível não torcer para que os dois terminem a história juntos.

Claro, a adição de novos personagens e o retorno de antigos formaram uma bela mistura nessa temporada. Ella (Aimee Garcia), mesmo não aparecendo tanto quanto deveria, se torna uma das personagens mais engraçadas. Era assustador o fato de adicionarem mais personagens quando os antigos ainda estavam parados, mas é incrível ver como a história conseguiu mudar isso. Linda, que servia cada vez mais para alívio cômico, acabou ganhando uma real importância. E, ainda, ela foi a primeira a ver a verdadeira face do diabo. Como será a relação dos dois daqui para frente? Ela sempre encarou tudo como uma metáfora, mas como proceder sabendo que tudo que ouviu era real? Pode acabar parecendo demais para uma pessoa suportar, mas é impossível que uma personagem com tanto a oferecer seja tirada de jogo. Ela pode acabar se tornando peça vital nessa história.

Felizmente, a série finalmente conseguiu aprender com seus erros e está apresentando uma temporada como nunca sonharíamos em ver. O sucesso foi tanto que a temporada terá um total de 22 episódios, bem mais do que era planejado. Claro, isso pode acabar não sendo uma boa notícia, levando em conta que uma quantidade de episódios como essa pode acabar levando a série a desenvolver a trama mais lentamente do que o esperado. Contudo, levando em conta esses episódios iniciais, acho seguro dar um voto de fé. Podemos ser surpreendidos.

Observações:

–Os efeitos especiais melhoraram, mas acho que ainda esperava mais.

–Em compensação, a trilha sonora está maravilhosa.

–É interessante ver que a série resolveu apostar um pouco mais no drama.

–Não tenho palavras para descrever o quão incrível foi o quarto episódio.

–Realmente espero que a Chloe não descubra a verdade. Poderia estragar a relação dos dois.

–A Mãe não pode voltar para o inferno. Ela é claramente uma das melhores personagens.

–Um grande desentendimento familiar. Nada que uma tarde no Casos de Família não resolva.

–Lembrando que esse texto serviu como uma pincelada nos episódios iniciais. As reviews seguirão normalmente nas próximas semanas.

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