“Não estou aqui para derrubá-la. Você já fez isso sozinha. A pergunta é: qual a altura do tombo? E você consegue levantar?”
Um episódio em que quedas e ascensões se misturam. Acredito que essa é uma boa forma de definir DWYCK, o nono capítulo de uma história de vem sendo contada de forma impecável. Ao longo de oito episódios vimos nossos heróis e vilões sendo construídos, conhecemos as nuances de suas personalidades e entendemos como chegaram ao exato ponto em que se encontravam. Os lugares pareciam claros no tabuleiro criado pela série, porém alguns personagens tiveram suas posições invertidas. É bem verdade que mocinhos continuam mocinhos e os antagonistas não poderiam estar mais longe da redenção, ainda assim, isso não impede uma guinada interessante nos rumos tomados por alguns deles.
É provável que Luke, como protagonista, seja o exemplo mais claro disso. Ele começa a série como um homem que tenta passar despercebido e se esforça para se enquadrar em uma vida tradicionalmente comum. Em um princípio clássico de jornada do herói, temos alguém que recusa o “chamado”. Uma pessoa que, embora possua dons extraordinários, se recusa a usar seus poderes, tentando apenas se encaixar. No entanto, situações adversas – a morte de Pop e todo seu envolvimento com o Boca de Algodão – o levam a mudar esse cenário, tornando-se um exemplo de heroísmo para sua comunidade.
Luke Cage é convertido, então, em um ícone, um salvador, um herói. Pelo menos, até chegarmos ao cenário atual, ao momento da derrocada, quando o herói do Harlem tem sua imagem corrompida. Não posso deixar de observar a ironia que é vê-lo sendo novamente incriminado por algo que não fez. De qualquer forma, a subversão envolvendo a imagem do protagonista atinge um patamar ainda maior quando o vemos ferido e vulnerável. O homem supostamente invencível e a prova de balas se encontra baleado e correndo risco de vida. Um tanto quanto irônico, não?
Em situação semelhante temos Misty — e esse episódio foi feito para ela, não há como negar. A detetive pode até não estar perto da morte, mas aqui a assistimos quebrar. É necessário destacar como Simone Missick dominou suas cenas de forma louvável, tornando sua personagem um dos elementos memoráveis de DWYCK. Pela primeira vez pudemos conhecer um pouco mais sobre o passado de Misty e sua necessidade de controlar tudo o que acontece ao seu redor. E o que pode ser mais desesperador do que ver alguém obcecado por controle perdê-lo? A mulher precisa agora provar que merece seu emprego, enquanto tenta reverter o jogo ao seu favor.
Se Luke e Misty caíram feio, Mariah parece ascender como nunca. Desde o princípio, a mulher chama atenção por sua ambiguidade, algo que atingiu seu ápice após matar o primo. Agora que ela, que sempre disse não desejar se envolver diretamente nos negócios escusos de Cornell, assume a liderança dos mesmos, fazendo uma aliança interessante com o Kid Cascavel. A genialidade de transformar Luke — e pessoas com poderes em geral — em um vilão para lucrar vendendo armas é algo inquestionável.
O episódio mais longo da temporada foi marcado também pelo protagonismo feminino. Com Luke ferido, elas roubaram a cena, fizeram a ação acontecer e estiveram em completa evidência. Já comentei sobre Misty e Mariah, mas não posso deixar de citar Claire. É incrível como enfermeira consegue se encaixar maravilhosamente bem em todas as séries de herói que a Netflix apresentou até agora. Se suas interações com Matthew e Jessica já foram incríveis, aqui ela finalmente recebe espaço para brilhar e assumir o protagonismo. A mulher passa a ter uma função maior que cuidar de ferimentos e ser a voz da razão. Além disso, ela Luke formam uma dupla excelente.
Por fim, é necessário mencionar toda a trama envolvendo o médico que transformou Luke. O doutor obviamente não é confiável, no entanto, surgia como a única alternativa para salvar nosso herói. Em DWYCK sua função acaba limitada a isso, rendendo cenas agoniantes como a que Cage é mergulhado em ácido fervendo, ainda assim, acredito que o próximo episódio nos mostrará mais sobre o médico, seus experimentos e especialmente Reva, que parece esconder mais segredos do que o marido suspeita.
Outras observações:
— Eu realmente adoraria entender qual é a do Shades. Aliás, alguém mais fica incomodada com esse homem usando óculos escuros à noite? Dá vontade de arrancar no tapa!
— É mais do que óbvio que o Luke não vai morrer, então, resolvi poupar esse texto de drama sem propósito.
E você, o que tem achado da série da Marvel com a Netflix? Continue acompanhando nossa maratona!