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Mad Men e o Dia do Publicitário

Por: em 1 de fevereiro de 2017

Mad Men e o Dia do Publicitário

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers leves,

nada que estrague a série ou a sua experiência.

O Dia do Publicitário é comemorado anualmente no dia 1º de Fevereiro em território nacional, data que homenageia estes profissionais guiados pela criatividade, especializados em comunicação social e responsáveis por desenvolver campanhas publicitárias, pensar, criar, enfim, vender, um produto, ideia, pessoas, organizações, etc. É impossível falar sobre estes profissionais sem mencionar o modo magistral como foram retratados e desenvolvidos na premiada Mad Men, o drama, focado em uma específica agência de publicidade de New York, inicialmente Sterling Cooper, nos anos 50/60 e especificamente em um de seus diretores de criação, Don Draper (Jon Hamm).

O nome da série é uma explícita referência ao esteriótipo dos homens publicitários daquela época, mad men, terminologia aplicada aos poderosos profissionais da área que se concentravam em uma parte específica da cidade de New York, a Madison Avenue; publicitários estes que não mediam esforços, ultrapassando barreiras éticas e morais, algumas inimagináveis nos dias de hoje, para cumprir aquilo com que se comprometiam em primeira instância: vender. Tudo isso envolto em um universo caro e ostensivo, com jantares e viagens de luxo, além de muita bajulação para manter e/ou conseguir uma grande conta para a agência em um concorrente mercado publicitário.

Mad Men é um acerto em seu todo, a série é milimetricamente pensada e desenvolvida em sua premissa geral – o âmbito publicitário – suas características reais entre os anos conhecidos como a década de ouro da publicidade, momento histórico onde os profissionais ousavam sem precedentes, ultrapassando as barreiras da venda objetiva e rasa, sem brilho, pelo contrário, se re-inventando para surpreender e encantar. Somente neste conceito prévio e generalizante da série já se identifica o seu importante valor histórico para os profissionais publicitários no mercado atual, o drama oportuniza conhecer uma realidade, mesmo que fictícia, que remete e reproduz com veracidade aos fatos de uma real revolução no âmbito da comunicação social, isto, coroado ainda com um elenco de peso, roteiro e direção ousados que dão tom a uma história consistente.

Mas nem só de publicidade vive Mad Men, outro grande acerto da série é a sua ambientação; o drama se passa entre as décadas de 50/60, consequentemente, o modo de vida completamente diferente do conhecido hoje também foi magistralmente explorado, assim como, alguns conceitos arcaicos acerca da família e sociedade que continuaram se reproduzindo continuamente e persistem até hoje. As entranhas dos núcleos familiares aparentemente perfeitos em suas casas suburbanas, as donas de casa e mães de família frustradas e/ou conformadas em suas posições de objeto de opressão, beleza e perfeição para seus maridos, os pais que traem e são abusivos com mulheres nas ruas, mas prezam por suas esposas e filhos sem mácula, enfim, o pseudo conceito de uma felicidade e contrato social vendidos e comprados num retrato alienante aparentemente aceito pela maioria, de certa forma somente mais um produto vendido por uma publicidade comportamental da época.

Um ambiente mais sério e histórico também vem a ser escancarado no drama da AMC, como os traumas, consequências e situações oriundas dos reflexos das Guerras da Coreia e do Vietnã, e em menor escala, a morte da atriz Marilyn Monroe, a crise dos mísseis em Cuba, o assassinato do Presidente Kennedy, o sucesso estrondoso dos The Beattles, a popularização do LSD, o assassinato de Martin Luther King, a chegada do homem a lua, entre outros fatos da época relevantes o suficiente para influenciar a história do show de alguma forma.

As figuras femininas se mostram como uma parcela que se desenvolveu de maneira verossímil no show, com muita coragem e particularidade dentro do seu próprio contexto e realidade, em um ambiente social machista, opressor e ditatorial, que impunha a todo o momento um contrato social com exigências matrimoniais e reprodutivas, além de um ambiente de trabalho majoritariamente masculino, com divisões claras do que viria a ser serviço de homem (a publicidade em si) e serviço de mulher (limpeza e secretariado). É neste âmbito que dão vida as figuras de Betty Draper (January Jones), esposa, dona de casa e mãe modelo que se sente exaurida pela exigência da perfeição; Joan Holloway (Christina Hendricks), inteligente e articuladora que é reconhecida estritamente por sua evidente beleza; e Peggy Olson (Elisabeth Moss), subestimada secretária que possui um verdadeiro talento para a publicidade e luta por reconhecimento. Todas se destacaram por personificar figuras fortes e desafiadoras, mulheres a frente do seu tempo que cavaram o seu espaço com suas próprias armas, cada uma em seu próprio modo e de fato superaram as expectativas.

Mas quem dá nome de qualidade e minuciosidade a Mad Men é inegavelmente o seu protagonista, Don Draper, o publicitário é perspicaz, ousado, argumentador, criativo, enfim, um destaque e premiado gênio em sua área, um diretor de criatividade com a carreira em plena ascensão, quem dera assim também fosse em sua vida pessoal que é uma total bagunça emocional regada a entorpecentes. Ao assumir a identidade do parceiro morto em guerra, Don se refez como pessoa, construindo para si uma nova realidade, uma nova vida, se mascarando e refazendo a ponto de ele mesmo virar uma marca, a que ele melhor soube vender para todos.

Objetivo e sucinto naquilo em que acredita, o personagem é realmente capaz de vender qualquer coisa em seus melhores dias criativos e persuasivos. Ao decorrer das temporadas e desenvolvimento pessoal e profissional de Draper, é possível identificar lições chaves para o sucesso na carreira de qualquer publicitário, como, não repetir as mesmas coisas, enxergando cada produto como único; buscar compreender o espaço em que a comunicação é direcionada, o seu público alvo; por fim, vender com propósito, não somente um produto/marca/empresa, mas sim uma ideia, um sentimento.

Em meu conhecimento conceitual, quase que leigo, acerca do universo publicitário, ouso opinar que o objetivo de vender a qualquer custo já se tornou ultrapassado e arcaico desde a década de 60 e é ainda mais conceituado nas campanhas publicitárias atuais. Mad Men acerta em evidenciar esta verdadeira revolução, mesmo a que a ideia geral permaneça sendo chamar a atenção, atrair e conquistar o público e levá-lo a comprar, porque não fazê-lo com embasamento válido, sentimento, compreensão das necessidades de outrem, enfim, com uma eficiência que faça diferença? Tudo isto é algo que evidencia e reafirma ao longo do seu desenvolvimento, mesmo que de forma sutil e encoberta, e é aí que reside o seu valor histórico não somente para uma gama de publicitários, mas para todo o seu público alvo.


Ana Rebeca Tamandaré

Jovem bahiana simpática e gente boa que curte um bom número de séries e por este motivo tem a audácia de escrever suas opiniões positivas e negativas sobre elas.

Itamaraju/BA

Série Favorita: How i Met Your Mother/Friends

Não assiste de jeito nenhum: The Vampire Diaries

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