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Mad Men: Recapitulando a 3ª temporada

Por: em 25 de julho de 2010

Mad Men: Recapitulando a 3ª temporada

Por: em

Chato, monótono, sonolento, maçante, enfadonho… Com a maior certeza do universo você já ouviu algum desses adjetivos de alguém descrevendo Mad Men. Tá na hora da minha revanche. Em deter-minado momento da terceira temporada, Bobby Draper fala pra mãe: I’m bored. Betty Draper, com toda sua delicadeza materna, responde: Go bang your head against the wall. Only boring people are bored.

Mad Men

Mentira, exagerei. Não acho entendiante a galera que não curte Mad Men. Juro. Mas não é sobre isso que eu quero falar. Semana passada, apesar de todos os planos seriadísticos pra essa época de vacas magras, resolvi fazer o que eu menos esperava: rever toda a terceira temporada de Mad Men. A temporada foi exibida logo na época que eu entrei aqui no Apaixonados, ou seja, eu ainda tava começando a escrever sobre séries, a fazer reviews de episódios, a ver televisão com um olhar mais atento. Não por falta de outras coisas pra assistir, resolvi fazer o rewatch de Mad Men quase que pra me auto-avaliar. Ver o que eu notava de diferente em cada episódio depois de um ano me dedicando a esse hobby-levado-a-sério. Resultado: a segunda vez foi ainda melhor (E essa não é uma referência a American Pie).

Uma das coisas mais legais de Mad Men — e ironicamente uma das que mais afasta audiência — é que quase nada chega mastigado até a gente. Não existem interpretações unilaterais. A série não julga seus personagens, e fica a nosso cargo decifrar porque cada uma daquelas pessoas tomou tais decisões. Mad Men requer um atenção aguçada que é extremamente recompensadora pra quem a busca.

Mas chega de enrolação. Tudo isso que eu tô escrevendo tem um objetivo: o quarto ano do drama de sucesso da AMC se inicia nesse domingo, dia 25, e acho que vale a pena dar uma recapitulada no que aconteceu temporada passada pra nos prepararmos pra essa nova fase que a série irá encarar. Afinal, MUITA coisa aconteceu. Um presidente foi assassinado. O assassino do presidente também foi assassinado. Bye Bye Birdie explodiu em Hollywood. Martin Luther King Jr. lutou pelos direitos civis. O Papa morreu. Inventaram a Pepsi Diet. Conrad Hilton saiu na capa da Time. Don Draper, Roger Sterling, Bert Cooper e Lane Pryce foram demitidos. A Sterling Cooper foi comprada.

Sterling Cooper Draper Pryce foi criada.

A season finale da 3ª temporada foi tão empolgante porque poucas vezes a gente viu uma transformação desse tamanho vivida e PROVOCADA pelos próprios personagens. É claro que a disputa presidencial de Nixon e Kennedy foi importante. Assim como o assassinato desse segundo. E a crise dos mísseis de Cuba. Tudo isso teve um impacto forte na vida dos americanos da década de 60, mas em todos os casos a História já servia de spoiler pra gente, nos contando as reações e as consequências pra cada um desses acontecimentos. Já o fim da Sterling Cooper e a criação da nova agência surgiram diante de nossos olhos de maneira completamente inesperada. E o melhor é que, apesar da surpresa, o surgimento da Sterling Cooper Draper Pryce evidenciou a construção e o desenvolvimento de vários personagens no decorrer desse terceiro ano. Como a Peggy.

My name is Peggy Olson and I’d like to smoke some marijuana.

Mad Men Peggy Olson

Desde a primeira temporada Peggy se estabeleceu como workplace woman — a mulher que busca ascensão profissional, que possui pretensões que vão além do estereótipo conservador feminino: homem pra casar e filhos pra criar. Tanto que, quando engravidou, além de não contar pro pai da criança, nunca deu bola pro garoto. Mas essas são águas passadas. Na terceira temporada, era a carreira de Peggy que estava em foco. Quando ela pede o cigarro de maconha, o que ela quer é se igualar aos seus colegas de escritório, mostrar que ela pode ser que nem eles. E apesar de seu salário ainda inferior ao do sexo masculino, no decorrer da temporada, Peggy teve seu trabalho mais valorizado do que nunca. Não por causa da proposta de Duck, que intencionava muito mais atacar o Don do que contratá-la. Foi o próprio Don que a colocou no pedastal que ela sempre buscou — e que sempre mereceu.

– What if I say no? You’ll never speak to me again.
– No. I will spend the rest of my life trying to hire you.

A valorização profissional de Peggy, porém, era meio que esperada devido ao histórico que a personagem construiu ao longo de toda a série. A valorização de Pete Campbell, por outro lado, soou inesperada e cria um status interessante pras tramas que o cara irá viver nesse novo ano. Pete tem um ar infantil e imaturo (lembram dele assistindo ao desenho animado?) e procura a todo custo passar uma impressão melhor de si mesmo e de seu casamento (lembram da dança bizarramente ensaiada do casal na festa do Roger?), mas o que a modernidade pedia em meados dos anos 60 era justamente essa sensibilidade mais jovem que ele próprio procura esconder. No final das contas, é capaz que Don estivesse interessado não no potencial de Pete, mas sim em seus contatos pra sustentar os negócios da nova agência — mas uma coisa não deixa de estar ligada à outra. Afinal, de um jeito ou de outro, foi a eficiência do trabalho de Campbell que trouxe os contatos pra Sterling Cooper em primeiro lugar.

Fora do universo da agência, a carga emocional da temporada foi ainda mais forte. Desde o começo de Mad Men, a saga de Betty Draper me salta aos olhos não só pela beleza fora do comum da personagem, mas por carregar um dos conflitos emocionais mais intensos da série. No início da temporada, era quase angustiante a maneira como Betty e Don se sustentavam na ideia do bebê que estava por vir pra consertar milagrosamente os problemas de casal. E claro que o nascimento de Gene não melhorou nada. Pelo contrário. O terceiro filho da família Drape — junto com a morte de seu chará — ainda levantou a bola pra outro problema: Sally. Enquanto o ator que interpreta o Bobby já foi trocado em 3 ocasiões diferentes, Kiernan Shipka se beneficia de sua presença constante e de seu talento crescente pra que o sofrimento da primogênita da família ganhe importância e se mantenha no nível de gente grande.

E apesar dos problemas com os filhos (que são ainda impulsionados pelo fato de Betty se mostrar uma mãe cada vez menos carinhosa no decorrer da temporada), o acontecimento mais impactante na casa dos Drapers não tinha nada a ver com a vida dos pequenos. Em The Gypsy and the Hobo — talvez o melhor episódio da temporada — Betty descobre tudo sobre o passado de Don, o enfrenta pedindo explicações, e o elefante gigante que vivia no meio do casamento dos dois finalmente foi exposto. Entretanto, a ironia desse conflito é que em vez de toda essa descoberta trazer mais dor de cabeça, ela trouxe alívio. Trouxe compreensão. Por um momento, Don e Betty conseguiram ficar em paz.

Mas nem isso adiantava mais. Afinal, a identidade verdadeira de Don continua sendo um elefante gigantesco no casamento. Finalmente exposto, mas ainda um elefante. O que Betty quer não é nem Don, nem Dick, nem fake-Don, nem nada do tipo (Betty Draper odeia Jon Hamm). Ela quer algo novo, uma experiência diferente, alguém com quem ela se identifique. E isso me preocupa um pouco. Ver a personagem caindo nos braços de Henry Francis e se distanciando ainda mais do universo central da série talvez apague uma parte da minha simpatia imensa por ela.

Ou não.

Mad Men Don Betty Draper

Tudo o que essa terceira temporada de Mad Men construiu em 12 episódios simplesmente serviu pra que o 13º chegasse e… Desconstruísse tudo novamente. A agência nova não vai trazer só uma mudança de prédio. O estilo de trabalho vai mudar. A estética da série vai mudar. E isso é empolgante pra caramba. Mas acima de tudo, a mudança principal não é dentro do ambiente onde os personagens trabalham, mas sim dentro deles próprios. Don agora é um homem divorciado. Ainda pai de 3 filhos, mas divorciado. Sua ex-mulher finalmente descubriu quem ele realmente é. Sua identidade verdadeira tá exposta. Mas, no final do dia, o saldo na balança é bem mais positivo do que parecia. Dono de seu próprio negócio, Don vai ainda além — mais do que nunca, ele finalmente parece dono de sua própria vida. Don Draper agora é muito mais do que a máscara de um passado sofrido.

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P.S.: Acabou que não encaixei alguns dos personagens que eu mais gosto no meio do texto: Joan Holloway, que me preocupou quando saiu da Sterling Cooper, mas me deixou com um sorriso enorme na cara quando foi chamada pra Sterling Cooper Draper Pryce. E Roger, que não teve muito o que fazer durante a temporada, mas sempre tem as falas mais engraçadas de cada episódio.

P.S. 2: Por outro lado, Salvatore teve um arco interessante a respeito de sua homossexualidade (foi excelente a cena dele dançando Bye Bye Birdie pra sua esposa — assustadíssima com a performance), mas depois de sua demissão, não houve nenhum indício de que o personagem voltaria. Talvez soe forçada uma recontratação do cara, mas acho que a nova agência por si só já dá uma abalada boa no status quo da série pra que Bryan Batt volte ao elenco sem que seu personagem faça mais do mesmo.

P.S. 3: Quem eu não me importaria se nunca mais voltassem são os personagens de Aaron Staton e Michael Gladis — Ken e Paul. Principalmente o primeiro. Além de eu não ir com a cara dos dois, daria mais espaço pros personagens que eu gosto.

P.S. 4: E a Carla? Será que ficou desempregada? Ela é uma personagem que nunca ganhou muito destaque, mas seu olhar externo sobre os podres da família Draper sempre me agradava.

Mad Men 4ª Temporada


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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