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Maratona The O.C. – 3ª temporada

Por: em 15 de janeiro de 2017

Maratona The O.C. – 3ª temporada

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers pesados,

siga por sua conta e risco.

A terceira temporada é oficialmente minha favorita. Talvez eu esteja me precipitando, sem ter assistido à quarta, mas eu realmente não esperava gostar tanto da terceira. Já assisti à série inteira, mas nunca havia reprisado esta temporada, digamos que por limitações emocionais. Meu coração ficou muito traumatizado da primeira vez. É engraçado como eu não me lembrava de muita coisa (nem sei como pude apagar o casal Julie e Neil da memória), mas, ao longo das cenas, tudo fazia sentido para mim.

O elenco principal estava afinadíssimo com seus personagens e entre si. Ryan (Ben McKenzie) deixou o riso frouxo em vários episódios, o que nos ajuda a crer na evolução do personagem, cada vez mais à vontade com a vida em Newport. Também conhecemos novos personagens para chacoalhar a dinâmica da série e criar mais dramalhões – como Taylor e Johnny – e ainda amarrar algumas pontas soltas que tivemos até aqui – estou falando de você, Kaitlin.

Deve ser bem chato ser irmã mais nova da Marissa. Nem os roteiristas da série lembram que você existe. A caçula da família Cooper participou de somente seis episódios da primeira temporada e, provavelmente por falta de tramas que incluíssem uma “pirralha”, foi enviada para estudar num internato em Santa Barbara, a 220 km de Orange County – inconscientemente, eu imaginava que o internato era longe dali, talvez na Europa, para justificar a ausência absoluta da garota.

Kaitlin me lembra a Jenny Humphrey, de Gossip Girl, na fase rebelde – embora banque a rainha do pedaço, tem um coração bondoso. Em outras palavras: o DNA de Julie Cooper-Nichol-Cooper-Roberts fez escola. A garota aparece de surpresa para passar as férias com a família, mas não estava acompanhando nossa maratona The O.C. e não poderia imaginar que a vida estava bem diferente (digo, pobre e trágica) para os Cooper. Afinal, milagrosamente, podem ter se esquecido de Kaitlin e de seu aniversário, mas ninguém se esqueceu de pagar o internato.

No início da temporada, Julie logo engatou um noivado com Jimmy, que voltou para Newport a fim de mendigar a herança supostamente milionária de Caleb. Jimmy sabia que Julie o aceitaria de braços abertos – seja por amor ou por remorso de tê-lo abandonado. Ora, nem ela jogaria tão baixo por dinheiro (pelo menos eu gosto de pensar assim). O plano do casal desandou quando descobrimos que o magnata Caleb, falido, não deixara nada para a família. A vida de Jimmy acabou – quase literalmente – e ele precisou deixar Newport no dia em que se casaria novamente com Julie.

Ela perdeu a MacMansion e aparentemente o guarda-roupa, já que passou a morar num trailer e usar trajes pouco glamourosos para o padrão Julie que nós conhecemos. Julie manteve a falência em segredo de Marissa, a fim de protegê-la do horror que seria a vida sem dinheiro, e a garota foi morar na casa da Summer. Nesta temporada, a amizade de Julie e Kirsten também passou por provação, quando a Charlattã (digo, Charlotte) tentou aplicar o golpe. Mas Julie é a única diva manipuladora de Newport e não aceitou.

Sabemos que ela nasceu na pequena cidade de Riverside, Califórnia, e lutou para alcançar o baú dos maridos milionários (e posteriormente encalacrados). Foi bom vê-la de volta às origens para enfrentar o medo do fracasso, da pobreza e da rejeição de Marissa. E foi melhor ainda ver a reação madura e carinhosa de Marissa ao saber da notícia e dizer como admira a garra de Julie.

Marissa viveu uma montanha-russa nesta temporada. A Associação de Pais soube do incidente com o revólver e solicitou sua expulsão da escola. Em parceria com o novo reitor, a moça teve de deixar Harbor e ser transferida para a escola pública de Newport Union. Embora o reitor Hess seja o único personagem que eu realmente tenha odiado na série – o homem era um robô maligno -, Ryan não precisava ter dado um soco nele. Atitude burra. Ryan burro. Fiquei com raiva. Mas já passou. Eu adorei a expulsão da Marissa.

Assim como a nova moradia de Julie, Newport Union apareceu na hora certa para nos afastarmos da nobreza e conhecermos novos personagens. Foi bom para oxigenar a série. Marissa fez amizade com Johnny, Casey e a versão loira de Seth – Chili. Nunca vi Ryan com tantos ciúmes. A proximidade de Marissa com a nova turma mexeu com o garoto, o que é compatível com o personagem: como ele poderia sobreviver, se sua vida era cuidar de Marissa e, de repente, ela estava brincando de enfermeira com rapazes desconhecidos? A namorada de Johnny pulou fora e Ryan deveria ter seguido seu exemplo, mas ele gosta de sofrer. Gosta, sim. Não estou exagerando. Ele mesmo admitiu isso: falou que se sentia estranho em Berkeley, como se vivesse a vida de outra pessoa. O nome daquilo era felicidade, e ele não conseguia aceitar o sentimento.

Johnny era um bom garoto e, infelizmente, se apaixonou pela Cooper errada. Torci para que ele ficasse com Kaitlin – aquele tipo de torcida azeda, porque eu já sabia o que aconteceria no final. Não sei se Kaitlin estava paquerando Johnny para “castigar” Marissa, como a própria sugeriu, ou se ela realmente queria ficar com ele. Talvez as duas coisas. Tiro meu chapéu para o empenho da garota. O desfecho de Johnny foi desastroso: bêbado e sem esperanças no amor, ele subiu numa pedra perigosa e tombou, sem nunca saber que Marissa o amava de volta. Kaitlin descreveu a irmã perfeitamente com a metáfora do sorvete: Marissa nunca sabia qual sabor escolher e, no final, chorava de arrependimento; Kaitlin sempre escolhia o mesmo sabor que já gostava.

Não quero repetir a piada infame de Seth, mas a morte de Johnny seria a solução perfeita para reaproximar Ryan e Marissa. Ainda bem que não aconteceu. Marissa precisava lidar com o luto do amor mal-resolvido e Ryan conheceu Sadie, a prima de Johnny, que me lembra demais a Alanis Morissette. Alanis fazia Ryan sorrir de um jeito tão puro, que nem mesmo Theresa seria capaz. Mas nós sabíamos pouquíssimo sobre Sadie e por que Ryan estava tão apaixonado. Não consegui me prender à história, fazer torcida organizada para o ship ou dar bola quando ela foi embora.

O importante é que, a essa altura, Marissa já descia ladeira abaixo na montanha-russa: deitada na cama do sedutor Volchok – ou como diria Julie: “um idiota com sorriso bobo, três neurônios e um bom traficante.”

Confesso que fiquei tensa quando o Ryan foi “conversar” com Volchok e, embora ele só tenha aconselhado o bonitão a cuidar da Marissa, nós já sabíamos que viria encrenca à frente. Ryan não consegue controlar o punho e caiu na armadilha de Volchok, que malandramente usou a ferramenta “Marissa” para quebrar o escudo de Ryan. Derrotado e com pinta de coitado, Volchok convenceu nosso garoto a ir para o mau caminho e roubar um carro. Eu me lembrei – e Ryan certamente também – do primeiro episódio da série, em que ele e Trey também roubaram um carro. Ryan teve a sorte grande de ir para a casa dos Cohen, mas, agora que é maior de idade, seu destino seria igual ao de Trey: a cadeia. Em pânico, Ryan correu para o encontro de Marissa e pediu que ela o protegesse. Pudemos ver a cumplicidade genuína dos dois – Marissa concordou sem sequer perguntar por quê.

De certo modo, Volchok atiça Marissa – “a Courtney Love de Newport” – como Ryan fez no início da série. Faz o tipo bad boy misterioso, que se orgulha por ter roubado um carro – ou vocês não se lembram de Ryan se gabando por isso quando se apresentou para Marissa pela primeira vez? Volchok precisou trair Marissa e roubar o dinheiro da Taylor para que o relacionamento terminasse.

Já ouvi alguém descrever Taylor perfeitamente como a filha amada de Rory Gilmore e Paris Geller (Gilmore Girls). Taylor é a Paris com o jeito doce da Rory. A personagem parece inimiga, mas acaba conquistando o coração de todos. Nada popular e muito CDF, gosta de filmes Yakuza e tem um affair inapropriado com o professor. Não sabe interagir socialmente, mas revela boas intenções para reunir as pessoas. É isso: Taylor Gilmore-Geller-Townsend.

Em The O.C., a mãe de Taylor chama-se Veronica e é uma típica Newpsie, que sonha em se casar com o rico Dr. Roberts. A coitada mal sabia que Neil já estava de olho na Julie. E ninguém vence a Julie, meu bem.

Foi ótimo ter Neil Roberts na série por mais tempo – em vez de um simples almoço fracassado com Summer e Seth, como aconteceu em episódios anteriores – e conhecer a mansão mais bonita de Newport. Com Neil, pudemos ver um novo lado da Summer e descobrir por que nunca falamos da mãe dela. Numa cena emocionante, em que pai e filha decoram a árvore de Natal, ele explica que a esposa abandonou a família, quando Summer tinha 13 anos, por não aguentar mais o casamento.

Se fizermos os cálculos, faz pouquíssimo tempo que isso aconteceu – Summer tinha apenas 15 ou 16 no início de The O.C. É bacana pensar que, mesmo com a ausência materna e o pai sempre ocupado, a adolescente foi capaz revelar tanta maturidade, ao longo das poucas temporadas da série, e ainda conquistar uma vaga em Brown, uma das universidades mais disputada dos Estados Unidos.

Enquanto nosso orgulho pela Summer só aumentava, vimos a garota cada vez mais solitária – com exceção dos momentos em que Taylor aparecia. Marissa parou de falar com a amiga quando entrou em modo crise. E Seth, bem, ele também entrou em crise – virou um mentiroso patológico, que fuma maconha, causa incêndios, falta a entrevista para a universidade e teme que a namorada seja mais inteligente do que ele.

Podemos tentar justificar com o argumento da própria Summer: Seth é um late bloomer – aquele que amadurece mais tarde do que a maioria das pessoas. Ou também podemos dizer que seu comportamento reflete as atitudes dos pais, Kirsten e Sandy. Para falar a verdade, a melhor cena de Seth na temporada foi exatamente quando Kirsten o levou para a reunião dos A.A. e falou que se curou graças ao filho. Mas, depois de partir o coração da Summer, eu prefiro nem justificar nada.

Na temporada do surfe, senti vontade de finalmente ver Sandy pegar onda. Mas ele estava ocupado no comando do Newport Group e se tornando o novo Caleb Nichol da região. Tudo que ele sempre desprezou. Sandy planejava fazer sucesso com seu próprio estilo, mas percebeu que dificilmente chegaria ao cargo de Caleb sem pegar atalhos – e Matt lembrava isso a ele o tempo inteiro. Esta é a terrível realidade do mundo em que vivemos. A série retratou muito bem os percalços que os businessmen geralmente precisam enfrentar para alcançar o que querem.

A breve trajetória de Sandy pelo mundo dos negócios abalou seu casamento com Kirsten, que ainda estava se recuperando desde a segunda temporada. Ela voltou da rehab e, depois de discutir com o marido, teve uma recaída. Felizmente, Sandy refez sua lista de prioridades e recusou o prêmio de Homem do Ano.

Uma montagem maravilhosa para saciar minha vontade de ver Sandy surfar. Créditos: Hair Barrel.

O final

Prometi a mim mesma que, desta vez, não deixaria o final me abalar. Mas comecei a chorar logo no início do 25º episódio, já prevendo o que me aguardava nos últimos minutos. Impossível aguentar. Não me lembrava que Jimmy convidava Marissa para deixar Newport e trabalhar no barco – o que é bem incoerente, já que a moça reclamou quando Johnny ofereceu um emprego a Ryan no barco de seu tio. Ela falou que Ryan estava seguindo os passos de Jimmy, fugindo para o mar. De qualquer forma, Marissa aceitou a proposta do pai e deu adeus a todos. Para quem já conhecia The O.C. e sabia do acidente, a sequência de despedidas foi barra pesada. O abraço das Cooper me deixou praticamente soluçando.

Ryan insistiu em dar carona para Marissa até o aeroporto. Volchok, movido por paixão, álcool e drogas, começa uma perseguição atrás do carro e consegue jogar Ryan e Marissa para fora da estrada. Quero dar os parabéns para quem teve a ideia doentia de editar essa cena junto com outros momentos de Ryan e Marissa. E ainda inserir a canção Hallelujah. Talvez seja a montagem mais triste que eu já vi na minha vida. Se alguém quiser rever, be my guest:

A temporada das lembranças

A terceira temporada é marcada pelas lembranças, que aparecem em formato de flashbacks, vídeos, fotos, conversas e reencontros. Tem um clima de despedida e encerramento de ciclos.

  • Jimmy retorna para Newport e pede Julie em casamento. Me senti num revival.
  • Theresa e Anna fazem participações especiais.
  • Também vemos como seria a vida de Julie se ainda morasse em Riverside. Ou quase isso.
  • Os flashbacks para a casa modelo. Só assim para a gente perceber como o elenco cresceu.
  • Ryan rouba um carro, como fez no primeiro episódio da série, e também reencontra a mãe, Dawn.
  • Seth assiste ao vídeo de seu bar mitzvah, em que ninguém foi. Era o aniversário do Luke no mesmo dia. O pai de Summer lembra que ela ia à festa de Seth, mas estava deprimida pela partida da mãe.

 


Curtiu a terceira temporada? Anota aí: nosso próximo encontro é dia 31 de janeiro.

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Alice Reis

Jornalista que não bebe café, mas vai ao Central Perk com frequência. Gostaria de viver em todas as séries filmadas em Nova York.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Friends

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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