O elemento mais importante de uma série é o protagonista. Em muitos casos, talvez a maioria, é ele quem define o que a série é e o que a série vai ser. Mas o que acontece quando uma série resolve destruir tudo o que sabemos sobre o personagem principal? Bom, foi basicamente isso que Mr. Robot escolheu fazer com Elliot em eps1.3_da3m0ns.mp4a, quarto episódio da série.

No piloto, Elliot é apresentado como um vigilante. Para isso, ele tinha que ser cuidadoso para equilibrar o trabalho na Allsafe e manter seus “projetos paralelos”. Elliot sabia que ele precisava ser muito bom. Então, excluía tudo o que poderia comprometê-lo. Ele apagava os arquivos do computador e guardava tudo em CDs com nomes de bandas e músicas.

Mais do que isso, Elliot mostrava que podia controlar os problemas que sempre fizeram parte da sua vida, principalmente aqueles ligados à saúde mental. Ele controlava quanta morfina ele poderia usar por dia e controlava a pureza dos medicamentos para não se tornar um junkie, além de frenquentar as sessões de terapia e ignorar os homens de terno preto que ele acreditava que estavam perseguindo-o.

Mas ninguém consegue aguentar o peso da vida sozinho. Com dificuldades em manter relações sociais normais, Elliot resolveu criar um amigo imaginário com quem ele pudesse compartilhar sentimentos e medos que ele não conseguia falar sobre com ninguém. Então, nós, amigos imaginários, sabíamos que apesar da depressão diagnosticada, fobia social, relacionamentos confusos e dois trabalhos, Elliot estava bem. Elliot tinha tudo sob controle.

Porém desde que Mr. Robot apareceu, Elliot começou a quebrar suas próprias regras, principalmente aquelas ligadas à saúde mental. A quantidade de drogas aumentou, as sessões de terapia começaram a incomodar, o que justifica o grito de “shut up” para Krista no último episódio, e a presença dos homens de preto ficou insuportável.

A identidade de Elliot levantada e sustentada no primeiro episódio foi posta à tentação para ser destruída neste episódio. Ou devo dizer, reconstruída. Elliot não tem mais o controle. O vigilante se foi e a versão junkie de Elliot assumiu seu lugar.

O problema é que essa versão não é eficiente e o trabalho de Elliot começa a ser comprometido, não apenas na Allsafe, mas também na FSociety.

Nesse episódio, Elliot tenta colocar seu plano para derrubar a Evil Corp em prática, para isso ele decide que é preciso eliminar os dados armazenados em Steel Mountain. Porém, seu “novo” comportamento levanta muitas suspeitas em relação ao plano. Naturalmente, os membros da FSociety começam a duvidar de suas habilidades.  “You might be able to hide it from these nerds, but I know a junkie when I see one”, diz Romero para depois confessar que não confia em Elliot. “He’s gotten us this far”, argumenta Mobley. Mesmo assim, eles decidem que vale a pena seguir em frente.

Mas o corpo e mente de Elliot resolvem tomar outra direção. O que nos leva ao tema desse episódio: daemon. Daemon é um programa que roda independentemente em plano de fundo, ao invés de ser controlado diretamente pelo usuário. “They’re always there, always active. We can try to do right, we can try to be good, we can try to make a diference, but it’s all bullshit”, como explica Elliot antes de vomitar e entrar em um estado alucinógeno.

As alucinações de Elliot são um daqueles momentos que vale a pena levantar do sofá e bater palmas. Todas as cenas são intrigantes e sugestivas e conseguem mostrar todos os sonhos e medos do protagonista sem bater o martelo para nenhuma teoria ou fato. Cada fase do sonho pode ser uma porta para uma história maior, que podem e devem ser aproveitadas posteriormente na série.

De qualquer forma, todos os momentos da alucinação brincam com a dupla identidade do personagem. Quando Elliot entra no vídeo da FSociety e recebe a máscara, Mr. Robot diz: “this is made for you now”. Assim, Elliot é convidado a assumir a identidade do líder do grupo ou a assumir a identidade que criou para realizar os seus desejos mais radicais.

A fala de Angela também insinua isso. “You’re not gonna do it, are you? Change the world. Figures—you were only born a month ago. You’re afraid of your monster…You’re not Elliot. You’re the-”. Logo depois, Elliot aparece  na frente da câmera e teme estar enfrentando tudo isso sozinho.

Por sorte (ou não), Mr. Robot ficou ao lado de Elliot durante todo o processo de desintoxicação e afirma: “I’m not going anywhere kiddo. We’re in this to the end“. Talvez porque eles são a mesma pessoa. Ou talvez porque Mr. Robot acredita no potencial de Elliot.

Lembram que eu disse que os membros da FSociety estavam duvidando do plano de Elliot? Bom, menos uma pessoa. A mesma pessoa que não poupou Elliot de um empurrão. Antes de entrar no carro, Mr. Robot diz para Elliot: “I told you before, you’re the key to the whole thing. You’re the only force of nature at play here”. Não por acaso, uma chave é um elemento recorrente durante as alucinações.

Mesmo assim, a série não poupou esforços nesse episódio para mostrar que Elliot e Mr. Robot não são as mesmas pessoas. As interações entre o líder da FSociety e equipe aumentaram bastante. Os personagens olham diretamente e conversam com ele. Mas, esses momentos não eliminam a possibilidade dele ser uma criação da mente de Elliot. Por enquanto, Mr. Robot é o daemon de Elliot. 

Enquanto isso, descobrimos que as mulheres de Mr. Robot estão mais próximos do que duvidamos. Angela, que descobriu que está nos planos de um ataque hacker à Allsafe, decidiu ignorar Ollie e procurar uma saída. Para isso, ela tenta pedir ajuda à Elliot, mas acaba encontrando Shayla pronta para uma caminhada com Fliper.

De alguma forma, a conversa, o esctasy e o beijo de Shayla incentivaram Angela a colocar o CD em um computador da Allsafe e se render às ameaças do hacker, Trenton, que vimos que faz parte de um grupo chinês chamado Dark Army e que possuí um relacionamento complicado com Darlene. 

Angela é um destaque a parte nesse episódio. A personagem não tinha nenhuma falha até aqui, ela era a garota perfeita, pois a conhecemos através dos olhos de Elliot, que é apaixonado por ela. Mas ao quebrar o esteriótipo de garota “muito boa para esse mundo”, como Ollie afirmou na semana passada, ela consegue se libertar e resistir daquilo que a ameaça.

O eps1.3_da3m0ns.mp4a é um episódio muito interessante e cheio mensagens sugestivas que devem ser acomodadas na série aos poucos, porém não podemos dizer que ele evoluí na hitória. Terminamos esse episódio, como terminamos o eps.1.2_d3bug.mkv, com Elliot prestes a fazer alguma coisa muito importante. Mas isso não é um defeito que prejudique a evolução da série e de qualquer forma, Elliot se desculpou por essa “pausa”: “Don’t be mad at me, I know I slept but I’m about to change the world. All that matter is the end result”. Então, só nos resta aguardar o resultado.

Outros comentários:

• Quem está curioso para descobrir mais coisas sobre o Dark Army e a relação de Darlene com o grupo? Bom, nada de ruim deve vir de um grupo que se encontra em uma sala de ping pong e que não é motivado por “kumbaya shit”, não é mesmo?
• Enquanto Elliot está tendo alucinações, Romero e Mobley assistiam Hackers, filme de 1995 dirigido por Iain Softley. Mas o que importa mesmo é a crítica de Romero para o filme: “Hollywood hacker bullshit. I’ve been in the game 27 years, and not once have I ever come across an animated singing virus”. 
• E porque metalinguagem é maravilhoso, Romero provavelmente teria várias críticas sobre Mr. Robot: “I bet you right now some writer is working hard on a TV show that’ll mess up this generation’s idea of hacker culture”. 

O que vocês acharam desse episódio? Gostaram das alucinações de Elliot? Concordam com as ações de Angela? Contem para os Apaixonados nos comentários e até a próxima semana!