eps2.2_init_1.asec termina com as mesmas perguntas do episódio anterior (O que você acha? Ray está certo?), mas o quarto episódio não repete os mesmos erros do seu antecessor. eps2.2_init_1.asec resgata fragmentos do passado, estabelece os problemas que atormentam os personagens e avalia possíveis soluções. Dessa forma, o episódio não apenas caminha na narrativa de Mr. Robot, como prova definitivamente que Sam Esmail está construindo uma história grandiosa.
Uma coisa interessante desse episódio é que além de definir a dinâmica de Elliot com Mr. Robot, ele também trata da relação entre Elliot e Darlene. O título do episódio “init 1” lembra o primeiro comando que Elliot ensinou a irmã e a cena de abertura mostra um momento que define a vida dos dois. Darlene não estava ciente, mas naquela noite de Halloween, seu irmão criou o alter ego que controlaria a FSociety. A jaqueta que estava guardada no armário e a máscara que ela comprou em uma loja de 99 centavos em China Town compuseram o personagem. De repente, a trilha muda e Mr. Robot incorpora características do filme The Careful Massacre of the Bourgeoisie que os irmãos estavam assistindo minutos antes. Rami Malek segue a mesma lógica e incorpora trejeitos de Christian Slater. É impressionante como a sua postura, tom e ritmo de voz imitam a do ator que interpreta Mr. Robot (#GiveMalekAnEmmy). Então, Elliot, ou melhor, Mr. Robot traça o plano que resultou no Five/Nine.
A perspetiva de Darlene é geralmente ocultada pela do irmão, mas essa cena destaca as semelhanças entre eles. Tanto Elliot quanto Darlene enfrentaram a perda do pai na infância e desenvolveram habilidades hacker, mas aprendemos que ela também sofre com problemas psicológicos e ataques de pânico. Ela pode lidar com isso de uma forma totalmente diferente e esconder atrás da máscara badass que insiste em usar, mas Darlene compreende os problemas de Elliot, trata de não dar tanta importância e admira a coragem que ele mostra com aquela máscara. Por isso, quando a ideia de destruir a Evil Corp. é lançada, Darlene se assusta inicialmente, mas se compromete com o plano até mesmo quando o irmão já está incerto sobre sua missão de mudar o mundo.
Quando Darlene visita Elliot, a moça lembra de uma frase dessa noite em que tudo começou. O hacker realmente disse que tudo ficaria mais difícil depois do primeiro ataque à Corporação, no entanto Elliot pontua que quem estava presente naquele momento era Mr. Robot. Essa dualidade não agrada Darlene e ela vai embora sem nem contar porque ela estava lá.
Por outro lado, Elliot assume uma postura mais honesta que a da irmã, admite que precisa de ajuda e recebe diversos conselhos sobre como lidar com seu problema. Krista sugere que o hacker deve aceitar de uma vez por todas que Mr. Robot é parte de sua identidade. Ray afirma que confessar seus pecados o ajudou muito e recomenda o jogo de xadrez para Elliot treinar e tentar evitar os mesmos erros. Leon concorda que o jogo pode funcionar como uma ferramenta de autoaperfeiçoamento, mas vai além e propõe que o amigo deve pensar na vida de uma forma mais cósmica.
Nenhuma dessas sugestões é descartada inteiramente, até a ideia de Krista é considerada apesar de Elliot se irritar com a psicóloga e entregar o momento mais desolador de Malek no episódio quando ele enumera todas as maneiras que sua doença mental tem definido sua vida (já falei para darem um Emmy para esse homem?!). Porém, é uma pergunta simples de Leon que muda a perspectiva do hacker: “Você sonha, Elliot?” Então, enquanto uma versão canção de ninar de “Basket Case” toca, o nosso herói pensa nas pessoas com quem ele se importa e imagina um futuro não tão solitário e um final feliz que ele quer lutar para alcançar. Há muitas referências visuais no sonho, mas talvez a mais importante delas seja o prédio da Evil Corp. sendo destruído e aplaudido pelas pessoas da mesa. Além de uma menção ao “Clube da Luta”, essa cena mostra que o mundo utópico de Elliot pode ir além da destruição da grande corporação e alcançar as pessoas que ele gosta. Eu não lembro da última vez que vi Elliot sorrindo ou se já vi o personagem sorrir alguma vez, mas essa sensação de tranquilidade, felicidade e otimismo é inédita em Mr. Robot.
Assim, quando Darlene admite que precisa de ajuda e assegura que quer o irmão e não o seu alter ego, Elliot se coloca a disposição. E dessa vez, Mr. Robot não está mais no controle, mas ao lado do seu criador, no lugar que ele sempre deveria estar.
Outra característica que evidencia o trabalho narrativo de eps2.2_init_1.asec é que a série conseguiu acertar o tom dos eventos que rodeiam a vida de Elliot. E assim, o episódio abre espaço para mais questões sobre o desenvolvimento de Mr. Robot. Dom está vasculhando o arcade da FSociety e fotos da festa do “fim do mundo”. A coisa mais importante que a agente do FBI encontrou até agora foi uma bala que seria da arma que estava escondida na máquina de pipoca. Eu continuo insistindo nessa pergunta, mas será que Elliot atirou em Tyrell?
De qualquer forma, Joanna acredita que o marido está vivo e ela tem feito o que pode para sobreviver na ausência dele. Sem dinheiro, ela não vai conseguir comprar o silêncio do moço que guardou a SUV de Tyrell por muito tempo e aparentemente esse é um grande problema, já que o funcionário do estacionamento afirmou que existem pessoas que continuam fazendo perguntas. Quem são essas pessoas? Membros da FSociery? Dark Army? FBI?
E por falar novamente das atividades do Departamento, eles têm um programa de vigilância ilegal chamado “Operation Berenstain” que Romero estava investigando. Será essa a razão para o assassinato? Mas tanto Darlene e Elliot quanto o Dark Army têm conhecimento do programa. E a líder do Dark Army também tem hackeado o FBI, além de manter contato com Philip Price. Quais são os interesses de Whiterose e do todo poderoso da Evil Corp.? Qual seria o objetivo de “Ecoin”, plano de Whiterose que demorará seis meses para ser aplicado?
É em momentos como esse que quero mergulhar em teorias sobre a série e tentar construir minha própria realidade, mas tenho medo de parecer um pouco como a Angela e receber um “está tudo na sua cabeça, queridinha”. Mesmo sabendo que no final as teorias podem não estar totalmente erradas, me parece que se sentarmos em um jogo de xadrez com Mr. Robot, a série sempre vai estar em uma jogada a frente. Mas enquanto a série se manter nesse ritmo, esse é o tipo controle que podemos ceder.
Outros comentários:
– Outra questão que tomou minha mente é sobre o negócio de Ray. Ele parece trabalhar onde Elliot está internado ou passando um tempo, mas não acho que o site que ele quer fazer a migração esteja relacionado a esse lugar. E ele claramente ameaçou Elliot sobre o conteúdo desse site. Alguma ideia?
– Elliot separou um lugar no seu sonho só para a gente! Own! <3
– Na cena de abertura, Darlene pergunta se Elliot conversa com a mãe deles e pelo jeito, a matriarca da família está viva.
– Leon: “Existence could be beautiful or could be ugly, but that’s on you.”
– A série disponibilizou uma parte de The Careful Massacre of the Bourgeoisie e o filme falso é tão trash que se torna maravilhoso. Não consegui assistir no site, mas encontrei “por aí” na internet.
– E quando você acha que já conseguiu superar a morte de Shayla, a página do Facebook da série libera uma cena 360 graus do primeiro encontro com ela. Spoiler alert: O vídeo é lindo e tem até dancinha, mas meu coração estava em pedacinhos quando ele terminou.
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