“Você já imaginou como o mundo seria se o Five/Nine nunca tivesse acontecido?” Essa questão é levantada pelo ministro de segurança do estado da China a Dominique, que por uma série de casualidades tem uma visita quase íntima pela casa da autoridade chinesa. Com essa pergunta, o ministro não está propondo uma viagem à um tempo passado em que o ataque poderia ser evitado, mas uma visita à uma realidade alternativa em que outras vidas estão acontecendo e em que eles já se tornaram outras pessoas.

Talvez nessa realidade a agente DiPierro não é empregada pelo FBI, ela aceitou o pedido de casamento do namorado e encontrou outra forma de satisfazer sua repulsa e fascinação pela brutalidade egoísta do mundo. No entanto, na vida de Dominique, o ataque orquestrado pela FSociety e pelo Dark Army não é apenas uma realidade alternativa. O Five/Nine se tornou toda a realidade para ela. Ela encontrou o arcade do grupo hacker, descobriu como atacaram a Steel Mountain e tem interrogado pessoas importantes para o ataque, como o moço do estacionamento e o ex-namorado babaca de Angela. Mesmo assim, peças fundamentais ainda estão faltando para completar o caso e uma dessas peças está na China, onde o acaso trabalha novamente para ela encontrar as respostas que precisa e a coloca diante do ministro chinês.

Do outro lado, o ministro, que também atende pelo nome de Whiterose, não se mostra muito preocupado em proteger seu segredo ao abrir espaços de sua casa a essa suposta desconhecida e não é por descaso. É sempre importante lembrar que a líder do Dark Army sempre está alguns passos a frente e não tem tempo a perder. Então, Whiterose provavelmente não se importa se Dom sabe que ela não tem uma irmã para possuir aqueles vestidos porque pode estar cansada de manter uma identidade secreta ou simplesmente imagina que a agente vai estar morta na manhã seguinte.

O ataque à equipe do FBI realmente acontece, mas não vimos o fim de Dom e sim, uma valorização da perspectiva da personagem e do incrível trabalho de Grace Gummer. Durante a cena, que é filmada em um take contínuo, a câmera permanece com a agente que se esconde atrás de um balcão. Assim, o terror que se intensifica com o barulho dos tiros é transmitido ao espectador através do olhar de Dominique.

Essa escolha não é estranha para Mr. Robot que sempre optou por contar sua história através da visão de apenas um personagem, mas a cena apresentou energia que faltava nessa temporada. Felizmente, esse não é o único momento que a série expõe seus personagens a pura tensão.

Segundos depois, é a vez de Elliot receber sua dose de violência. Em uma realidade não tão distante, o protagonista é arrastado no meio da noite por capangas de Ray. Quando ele tenta argumentar com o “amigo”, Ray lembra que avisou a Elliot que ele não deveria olhar. Mas honestamente, como o nosso herói podia se segurar? Elliot tem uma visão deturpada sobre muitas coisas, a realidade é um exemplo delas, mas o personagem sempre soube expressar o que ele acreditava que era certo e errado. É claro que esses conceitos são muito relativos, mas mercado negro na deep web? ERRADO! Assim mesmo, em caixa alta para não ter nenhuma confusão. No entanto, o nosso herói não tem tempo para pensar no site de Ray e focar em um trabalho mais importante que começa com “hackear” e termina com “FBI”. E dessa vez, até Angela está envolvida conscientemente com os planos da FSociety – o que é uma ótima decisão para a série, pois a inclui no plot de Elliot e Darlene e cria um novo conflito na Evil Corp.

Elliot certamente já se perguntou como o mundo seria se o ataque ele próprio planejou não tivesse acontecido, mas nesse ponto essa probabilidade já não é mais importante. A vida não melhorou para Elliot ou para as pessoas que ele queria ajudar e a Evil Corp. encontrou diversas formas de se reconstruir e depositar um pouco do prejuízo em seus clientes. Então, a questão não é o que poderia ser diferente, mas o que ele vai fazer daqui para frente com as consequências desencadeadas pelo Five/Nive.

Porém, eps2.3_logic-b0mb.hc não é sobre consequências ou problemas já conhecidos, mas sobre como Mr. Robot consegue continuar com sua história com o mundo que construiu. A série demora para chegar de um ponto A a um ponto B e isso não é um problema, até porque Mr. Robot se orgulha dessa narrativa mais lenta e detalhista. Mas episódios como eps2.3_logic-b0mb.hc provam porque Mr. Robot é uma das melhores séries em exibição. Eventualmente, Sam Esmail chega e ele chega chutando a porta.

Outros comentários: 

• Acho que não tem nenhuma realidade em a vida de Joanna é mais fácil. A esposa de Tyrell também foi protagonista de outros grandes momentos do episódio. O primeiro quando ela pede uma descrição da pessoa que ela mandou matar e o outro, quando tenta falar com o marido.
• Nos primeiros momentos do episódio, Elliot traça as semelhanças entre hackear o FBI e uma biblioteca. Eu sei que Mr. Robot é conhecida por seu retrato realista em cenas como essa, mas eu espero que seja mais difícil hackear o FBI.
• Dom estava certa, Steel Valley é um péssimo nome.
• E o que dizer da troca de sorrisos entre Angela e Elliot? <3

E você? O que achou de eps2.3_logic-b0mb.hc?