You’ll cry in tears of blood, sétimo episódio de Narcos, abre com várias notícias sobre o atentado ao Boing 727 para mostrar a dimensão da tentativa de homicídio ao candidato à presidência César Gaviria. Mas, no meio de tanta destruição e 127 mortes causadas pelo acidente, uma imagem bem menor se destaca no sétimo episódio: o sagrado coração de Jesus e/ou de Pablo Escobar. Símbolo importante para You’ll cry in tears of blood, a imagem “religiosa” também é interessante para entender a figura contraditória de Pablo em Narcos e para a Colômbia.
O sagrado coração de Pablo Escobar aparece na casa de Jaime, moço que carregou a bomba para o avião, onde Javier Peña e o Coronel Carrilo interrogam Natalie, esposa dele. Ao ser perguntada sobre o quadro por Peña, a esposa do “homem bomba” responde: “Não há nada de errado nisso. Todos na comuna têm uma”. A imagem e o silêncio de Natalie sobre a relação de seu marido com o narcotraficante mostram que Pablo não é apenas um benfeitor, mas é visto como um santo, um deus em terra por aquela comunidade. E assim como um deus, Pablo é dígno de temor.
De crente à Pablo, Natalie passa a alvo dos homens de Escobar, que inevitavelmente acabam encontrando-a em Medellín. Gosto muito da análise feita por um dos “capangas”, mais ciente das práticas violentas de Pablo, ao ver a imagem. “Claro [que ele é considerado um santo]”, diz ele, “ele manda as pessoas direto para o céu”. Apesar de todo o carinho de um povo pelo traficante, Pablo pode explodir um avião para conseguir o que quer. Mas apesar de toda a violência, Pablo ainda consegue motivar crianças a pegarem em armas por ele, como vimos no fim da perseguição de Peña e Murphy. É uma contradição constante, que é desafiada em Narcos e especial, nesse episódio.
De qualquer maneira, Pablo começa a ser questionado por seus subordinados e também por sua família. Entre beijos e declarações de amor, o pai-marido-filho tem que se despedir da sua família para se esconder. Talvez essa seja o fato mais doloroso para Pablo, se afastar daqueles que ele ama e justificar que o que ele faz não é errado, ele tem seus motivos.
Porém, é a imagem e a força do narcotraficante que está em perigo. Para revidar a caçada instalada pelo agora presidente Gaviria (sem a ajuda dos americanos, que passaram a agir de forma independente), Pablo se torna cada vez mais violento e transforma a Colômbia em um território de guerra. Aos poucos a calma e o silêncio tão característico de Pablo e tão bem representados por Wagner Moura são substituídos por cenas de fúria e gritaria.
Para a (in)felicidade da nação, Gustavo tem uma grande ideia: sequestrar os filhos das pessoas mais influentes da Colômbia. “Você sempre diz que os políticos não ligam para o povo. Se quiser influenciar os políticos, terá que ser mais específico”, Gustavo justifica. Dentre eles está Diana Turbay (Gabriela de la Garza), jornalista e filha do ex-presidente. Diana é a única sequestrada que conversa e consegue negociar com Pablo.
Com os sequestros, Gaviria passa a sofrer pressão dentro do próprio governo e é obrigado a negociar com o narcotraficante, mas ele também reconsidera o acordo com os americanos e libera o uso de aviões na Colômbia. A tática é simples: “Negociar com um terrorista enquanto tenta capturá-lo”. No fim do episódio, Pablo discute os termos acordados com o presidente e anuncia um novo projeto: construir um castelo nas montanhas colombianas.
Outros comentários
– Esse episódio, que é dirigido por Fernando Coimbra, é um capricho de fotografia. Das cenas da perseguição em Medellín ao final com Pablo nas montanhas, a beleza colombiana é bem representada.
– Por falar em perseguição… que cena!
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