
Nada nesse mundo nos prepararia para os acontecimentos desse episódio. Nem os rumores de que Connie Britton abandonaria a série (desmentidos pela própria, mas que agora se mostraram bem verdadeiros), nem o cancelamento, nem as tramas dos 7 primeiros episódios, nada nada. E mesmo assim, tivemos que ver a nossa protagonista desfalecendo até a morte na frente dos nossos olhos. Como eu disse semana passada, como numa previsão maldita, Connie (e Rayna) era o elo que mantinha as coisas unidas desde que Callie Khouri resolveu inventar Nashville. Infelizmente, a série já não tem mais o brilho de outrora, então não podemos culpar uma atriz do naipe de Connie Britton de não querer mais protagonizar uma série de 22 episódios por temporada. O que dói é que, no mundo da narrativa da série, alguns amanhãs não virão. Pelo menos tivemos que passar por essa tortura num episódio brilhante, repelto de tudo que Nashville fez e faz de melhor. Isso não significa, de maneira nenhuma, que a dor de perder Rayna foi atenuada. Muito pelo contrário: fomos jogados com fratura exposta no meio de um tiroteio. Só que a gente ama isso, não ama? Se não amássemos não estaríamos aqui 5 anos depois.
O episódio girou, obviamente, em torno dos suspiros finais de Rayna James, mas isso não impediu que outros núcleos tivessem sua própria narrativa, ainda que em modo micro e definitivamente influenciados pelo que acontecia na enfermaria logo ao lado. Gunnar atingiu um nível de burrice estupendo em ficar se arrastando feito lagartixa para Scarlett, mas nada que já não se pudesse esperar. Ainda mais com toda a morbidez da narrativa do episódio. Só tá absurdamente chato, mas é só sorrir e acenar e seguir em frente. Enquanto isso, a cantora gospel Juju Valadão Juliette Barnes teve um piti altamente desnecessário, que eu preferia fingir que não aconteceu. É isso, vamos fingir que não aconteceu.
Não tem mais para onde fugir: é preciso falar de Rayna. Semana passada, quando eu achava que o acidente era só um contratempo na vida dos Jaymes-Claybourne, achei tudo toscamente planejado. Agora, ciente de que era o início do fim de Rayna (e, sem querer agourar, quiçá da série), percebo que fui ingênuo. Callie Khourie e companhia deixaram claro que a Nashville que perderia sua protagonista é a mesma de sempre. Ponto pra writer’s room, que encerroua Vida e Obra de Miss Jaymes com um episódio nostálgico e típico, no melhor significado que ambas palavras podem ter. Essa nostalgia foi construída de um jeito muito sutil, para nos passar uma rasteira elegante e emocionada: a série foi provando a importância de Rayna para cada um dos membros da família Jaymes-Claybourne (e adjacências), e o porquê da ausência dela ser um buraco enorme na vida de todo mundo – espectadores inclusos.
Maddie finalmente assumiu que foi uma adolescente insuportável e uma filha barra pesada. Fez o que quis, o que achou que quis, levou a mãe no tribunal (!), então nada mais justo que a ficha cair no leito de morte da mãe, ainda que até na hora do clímax ela estava onde? Presa no trânsito. Toda a sequência narrativa do vômito-conversa com Scarlett-conversa com Clay na pontezinha mágica da Music City serviu para humanizar a relação entre mãe e filha, ainda que a filha, como de praxe, não estivesse com a mãe. Uma pequena ironia cheia de significado e, particularmente, de excelência. Maddie não poderia ver a mãe partir sem refletir no seu comportamento e, evitando a saída fácil da autopiedade, a série conseguiu dar um encerramento digno para uma relação que foi conturbada até o último instante. Infelizmente, o companheiro de Maddie nesse sequência, o menino Clay, esfriou bastante o desenvolvimento das emoções e dificultou a empatia com a mini-Rayna nº1.
Por outro lado, a mini-Rayna nº 2 viveu seu drama na solitária. A tese da série para Daphne é a de que a mãe era tudo que lhe restava. Teddy está na cadeia, Maddie está apaixonada no mundo da lua, e a relação de Daphne com Deacon nunca foi lá essas coisas. Rayna era o único porto seguro de Daphne, como a série veio nos mostrando há um tempo, e Maisy Stella, no seu melhor momento na série, conseguiu transmitir cada milímetro dessa frase durante todo o episódio. Em particular na sequência de Make You Feel My Love, um dos momentos mais arrebatadores do episódio (com exceção da sequência final). Ficou claro que Daphne é quem mais vai sofrer com tudo isso, porque lhe foi tirado o chão, sem aviso prévio. Considerando o que vimos agora, eu tenho plena fé de que Maisy vai conseguir segurar e vai entregar uma Daphne emocional e emocionante no resto da temporada.
Por fim, Deacon Claybourne. Com ele, a coisa foi um pouco mais latente. O elo entre Rayna e Deacon, construído para se romper, foi pautado na personagem mais importante da série: a música. Desde o começo da temporada, é ela que tem feito o relacionamento dos dois continuar girando, nos altos e baixos, e foi ela que a série escolheu para nos provar porque um é tão essencial para o outro, para finalmente separar-lhes sem dó nem piedade. Não à toa, foi a música que deu o tom do adeus definitivo de Rayna (e de Connie?). Deacon é o que resta às meninas, a chance que elas têm de construir uma vida que seja boa. E, num golpe baixíssimo, o trio cantou, aos prantos, uma das melhores canções da série, se não a melhor. Foi tudo muito cru, muito real, muito emocionante. Uma despedida triste, inevitável, mas de alto nível. Rayna se despediu contando – e cantando – sua verdade, com entrega total de Connie Britton (sempre brilhante) a cada milissegundo.
Fico ansioso para saber o que Callie & cia. têm na manga para os próximos 12 episódios. Teremos briga pela guarda das meninas e o retorno de Teddy e Tandy no próximo episódio, então parece que, como Connie quis, a série vai continuar a todo vapor. Com toda sua maestria melodramática. Amém Nashville!!
Bônus Calma Que Tem Pra Todo Mundo: Juju também teve sua conclusão com Rayna. Afinal, a premissa da série era de que as duas seriam grandes rivais, como por muito tempo foram. Para a decepção de muitos – sendo inclusive fator de abandono da série -, a relação de rivalidade tornou-se uma relação de amizade, com traços de mestre-aprendiz e até de maternidade. Nada mais justo que a última conversa das duas tenha sido um resumo dessa trajetória. Justo e importante.
Bônus Cê Não Tinha Nem Que Tá Aí: Will era próximo o suficiente de Rayna para aparecer ou foi só para justificar o salário de Chris Carmack, que não aparecia há dois episódios? Prefiria ter revisto Luke, Tandy e até Teddy, num golpe novelesco, mas Will me pareceu bastante sem propósito. Entreguem logo um plot que preste pra esse garoto, minha gente!