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Orange is the New Black – 2×03 Hugs Can Be Deceiving

Por: em 21 de junho de 2014

Orange is the New Black – 2×03 Hugs Can Be Deceiving

Por: em

O terceiro episódio da primeira temporada de Orange is the New Black foi sobre Sophia, mas quem roubou a cena foi Crazy Eyes, com suas inesquecíveis frases “Chocolate and vanilla swirl, swirl…”, “I threw my pie for you” e por chocar a sociedade fazendo xixi no box de Piper e Miss Claudette. No terceiro episódio desta segunda temporada Suzanne não precisou roubar a cena, pois Hugs Can Be Deceiving teve todos os holofotes apontados para ela, um excelente episódio cheio de abraços que podem iludir.

2x03crazyeyes

Ao contrário de Taystee, a pequena Suzanne foi adotada pelos Warren e cresceu em um lar com muito amor e conforto, o único problema é que ela é uma pessoa com necessidades específicas que nunca foram compreendidas pelos pais. Apesar de ter recebido da família o melhor que eles poderiam oferecer, a menina sempre se sentiu pressionada a se encaixar em padrões que ela jamais conseguiria alcançar. Na maternidade, quando sua irmã nasceu, uma enfermeira teve a sensibilidade de ouvi-la, entende-la e controlar a sua revolta. Aquele breve momento de cumplicidade foi tão marcante para a pequena que ela manteve o penteado feito por aquela enfermeira por muitos anos.

E demorou bastante até que mais alguém parasse para ouvir e compreender Crazy Eyes. Apesar de ser tratada com medo, desprezo e deboche pela maioria das pessoas, Suzanne no fundo é uma mulher sensível com um grande potencial que apenas não foi desenvolvido da forma correta. Vee enxergou esse potencial e os benefícios que ele poderia trazer, e conseguiu com paciência e maestria abrir a casca da detenta e fazê-la se sentir acolhida, respeitada e admirada novamente. Mudar o penteado de Crazy Eyes foi uma representação física de que ela foi a primeira pessoa a se conectar com Suzanne depois da enfermeira.

A  inteligência emocional de Vee é impressionante. Ela ouve Gloria – nova dona da cozinha e, consequentemente, de poder – dizendo que daria “a teta esquerda” por cigarros e rapidamente encontra um jeito de agrada-la, conseguindo não apenas um favor imediato (o bolo, que trouxe as garotas negras para perto dela), como também uma aliança útil para o futuro. Já Suzanne viu naquela “missão” uma oportunidade de demonstrar seu valor para a única mulher que se importou com ela em Litchfield. Ela ganhou uma nova mãe, um belo pedaço de bolo, mas principalmente aquele abraço tão esperado – e tão traiçoeiro.

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Mas nem só de Suzanne e Vee foi feito Hugs Can Be Deceiving. O episódio marcou também o retorno de Piper a Litchfield, e a volta do macacão laranja. Bem, das três personagens que usaram aquele macacão, apenas Soso era de fato uma novata na prisão. A menina é uma versão asiática e mais tagarela da Piper que conhecemos ano passado, e neste primeiro momento serviu para sublinhar o quanto a loirinha amadureceu e foi modificada pelos meses que passou na cadeia. Brook poderia até achar que aquele abraço seria o início de uma amizade… doce ilusão! Piper não é mais a garota carente e deslocada que chegou àquele lugar, ela já aprendeu a se defender e dispensar as companhias inconvenientes, então Soso terá que se esforçar mais para achar sua turma na prisão.

Quem também mudou muito de um ano para o outro foi Pennsatucky. Depois da cirurgia restauradora, a moça é só sorrisos para todos os lados para mostrar os novos dentes. Além de ter sido engraçado acompanha-la se exibindo, isso também trouxe uma leveza à personagem, que era tão mal humorada. Quem diria que depois daquele nocaute Doggett e Chapman se encontrariam novamente para dar um abraço? Pode não ter sido o gesto mais espontâneo do mundo, mas  enfim ficou esclarecido que as duas foram punidas de forma igual porque a surra pareceu apenas uma briga. E quem salvou a pele dela foi… Suzanne! Crazy Eyes saiu desnorteada da apresentação de canto e confundiu Piper com a sua mãe, descarregando nela toda a frustração e angústia que guardou durante toda a sua vida. Chapman nunca deve ter imaginado que agradeceria alguém que lhe deu uns socos, mas dadas as circunstâncias, é justo.

Alguns plots foram apresentados indicando que devem se desenrolar ao longo da temporada, como Larry tentando reconstruir a vida amorosa, o repórter que continua interessado no desvio de verbas em Litchfield, a preocupação de Daya com a falta de cuidados específicos durante a gestação e Morello recebendo a notícia do casamento de Christopher. Nada muito significativo por agora, mas com um grande aviso de “ei, fiquem de olho nisso!” para o público.

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Red vai, aos poucos, voltando à sua velha forma. Ela ainda não conquistou nenhum poder real, mas ao menos na aparência  já deu um jeito – e tudo para impressionar uma velha conhecida: Vee. A apreensão, as alfinetadas e o abraço tenso das duas mostram que elas têm uma relação de amor e ódio (“tough love” é uma ótima definição) que já dura muitos anos. O diálogo também deixa  explícito o jogo duplo de Vee em relação à cozinha e a forma como ela quer parecer fragilizada e despretensiosa… o que é uma grande mentira visto o esforço que ela tem feito para reunir aliadas.

Hugs Can Be Deceiving foi uma incrível viagem ao mundo de Crazy Eyes, a garota sensível e tão cheia de espinhos quanto uma roseira, que tinha uma família amorosa, mas que nunca conseguiu compreende-la, aceitar suas limitações e lidar com elas. Uzo Aduba foi genial e mostrou que sabe emocionar com a mesma facilidade que faz rir. Enquanto Danielle  Brooks deixou bastante a desejar nas cenas mais dramáticas de Looks Blue, Tastes Red, a intérprete de Suzanne Warren provou que é possível ser sutil até mesmo fazendo caretas e arregalando os olhos.


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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