Dizem que quem tem… culpa… tem medo. E o medo de Alex, que só tem crescido ao longo da temporada, finalmente mostrou que tem razões fortíssimas para existir. Depois de tudo isso, fica difícil entender por que a namorada de Piper denunciou seu antigo chefe, já que ainda que ele fosse preso, teria muitos amigos do lado de fora para concretizar a sua vingança.
A coisa que mais me chamou a atenção nos flashbacks de Fear, and other smells foi, na verdade, a atuação terrível de Laura Prepon. A essa altura do campeonato, a gente já sabe que ela é uma ótima atriz, mas tinha algo bem errado com aquelas caras e bocas de tristeza, medo e de chapada. Atuações duvidosas à parte, dá pra dizer que essa terceira temporada está desconstruindo a Alex que conhecemos nas outras. Ela não é mais tão esperta, não é mais tão intocável e vem mostrando muitas fragilidades, como o medo, as más decisões, a depressão, a culpa e uma paranoia que pode até ter seus motivos, mas tirou grande parte daquela aura de femme fatale que ela tinha. E quanto mais ela se revela humana, menos Piper se mostra interessada.
Por falar em Piper, o que falta de interesse em Vause, Chapman tem no seu novo negócio das calcinhas. Ela cuida da logística, negocia com as fornecedoras, organiza o esquema de pagamentos e está pronta para fazer a produção escoar. Mas com que objetivo? Dinheiro nunca foi exatamente um problema para Piper, então é muito difícil que ela arriscasse tanto por causa de alguns dólares a mais na conta bancária. Ela tem duas razões muito fortes, na verdade: uma é a ideológica, então sim, no fundo ela acredita naquele discurso esquisito sobre fedores e perfumes vaginais como armas de resistência ao patriarcado, mas a segunda razão é certamente a mais forte. Piper quer estar no comando, quer dominar o mercado de miojos para conseguir vantagens, quer “empregadas” que usem suas calcinhas em troca de um pacotinho de sódio enquanto ela ganha dinheiro com aquele plano. Quer se sentir no poder.
Um ponto de destaque no episódio foi a depressão de Soso e Poussey. Soso irritou todo mundo no ano passado e hoje em dia não consegue fazer amizades dentro da cadeia. Bem, Piper também irritou todo mundo e nunca foi isolada, então não dá pra deixar de notar um peso da questão racial aí. Litchfield é organizada em guetos: as brancas, as latinas, as negras, as idosas… e onde uma escocesa de olhos puxados se encaixa nisso? Mr. Healy lidou com situação da pior forma possível, dizendo que gente deprimida é desagradável, que depressão é coisa da cabeça dela e que remédio é a solução. É claro que a medicação é importante, mas sem um complemento ela pode ser mais perigosa que ajudar. Poussey misturou ócio, bebida e carência afetiva, uma combinação perigosa que nem Taystee conseguiu combater. O caminho escolhido por Soso e Poussey foi o mesmo que o de muita gente nessa situação: procurar uma religião. Como Norma é a sensação mística do momento, era de se esperar que elas se juntassem ao seu culto.
Doggett e Donuts tiveram uma tarde agradável no passeio de furgão. Nada mal comer uns bolinhos enquanto a comida do refeitório é tão ruim, certo? E com tanta gente em depressão, algumas atividades ao ar livre, alimentando patinhos e brincando podem ser de grande ajuda. A série fez questão de apresentar este novo guarda como um cara legal, como alguém com uma pitada de ingenuidade, de boas intenções, com senso de humor e boa aparência. Nem adianta procurar algum desvio de caráter nestas primeiras aparições, elas não estão ali.
A tensão entre Caputo e Danny está ficando cada vez mais forte, mas, ao contrário da relação tumultuada com Natalie, que era sacana de propósito, neste caso os dois têm boa vontade de fazer o melhor pela penitenciária – embora tenham algumas discordâncias ideológicas – mas encontram o sistema no meio para impedir. Se com o Estado a burocracia já era ruim, com uma grande corporação a coisa é ainda pior. Bem ou mal, o objetivo do Estado é a ressocialização daquelas mulheres, que tem como obstáculos orçamentos baixos, corrupção na administração e impasses políticos. O objetivo de uma empresa privada é o lucro. Ponto. A prioridade nunca será o bem estar e a reintegração das detentas à sociedade, elas são apenas números, uma mercadoria sucateada.
Depois da recepção negativa de Berdie e Taystee, Suzanne finalmente encontrou o sucesso através dos seus contos. Ela já tem um fandom apaixonado, uma guerra de ships e seguidoras insaciáveis por novos capítulos. Parece a gente, que assiste a temporada toda de uma vez e depois fica chorando com a Netflix que a próxima vai demorar! É bom ver Suzanne sendo admirada, valorizada, mostrando que existe uma mente criativa e capaz em alguém que sempre foi considerada louca ou, no máximo, usada como capanga para fazer o serviço sujo de Vee.
Algumas observações:
– Sophia continua com o pé atrás sobre o filho de Gloria. Benny é be insuportável, é verdade, mas ela precisa perceber que seu filho não é mais um garotinho inocente também.
– Daya contou a verdade para a mãe do Mendez quando descobriu que a Aleida a estava extorquindo. A verdade é sempre o melhor caminho, e aquela senhora parece tão bacana que não merecia ficar sendo enganada e nem feita de idiota pela Aleida.
– A novata de Chicago é muito assustadora. Já era assustadora sendo só meio doidinha, ficou ainda mais assustadora sendo stalker.
– Piper seduzindo o guardinha com aquelas piscadas de desenho animado foi ótimo!
– Que coisa linda seria o mundo se todo mundo que fizesse “piadinhas” com minorias fosse demitido.
– Coitada da Red. Que comida horrível.
Acha que Alex tem mesmo motivos para se preocupar? Preferia Litchfield na época da Fig ou com o Dany? Ficou curioso para ler as crônicas de S.R. Warren? Deixe seu comentário!
