O jeitinho Orange is the New Black de dizer que entre a fé e a religião, existe um abismo. A espiritualidade tem sido um tema recorrente nesta temporada, mas nem sempre as coisas acontecem da forma como deveriam – por causa dessa eterna mania da humanidade em dar mais valor à forma que ao conteúdo.
A história de Leanne foi um grande exemplo de como algumas pessoas lidam com as suas crenças: dando mais atenção aos dogmas, às aparências e à liturgia que aos valores centrais daquilo que eles supostamente seguem. Amor ao próximo, perdão, compreensão e bondade são elementos constantemente ofuscados pelos castigos, julgamentos e até pelo dress code imposto pelas religiões. Tudo bem usar drogas, trair os amigos e excluir quem mais precisa de ajuda, desde que você esteja seguindo a cartilha das regras.
Soso tentou driblar a depressão aderindo ao culto de Norma, mas acabou rejeitada novamente. A personagem, que era apenas uma tagarela que não gostava de banho na temporada passada, ganhou contornos muito mais profundos e hoje é impossível não sentir uma certa angústia ao se imaginar na pele de Brooke.
Outro exemplo de convenções sociais que permeiam a religião veio do plot das refeições para judias. Quando testadas, elas resumiram a suposta fé em coisas como pechinchar, cantar músicas judaicas, arriscar algumas expressões típicas ou citar filmes de Barbra Streisand. É óbvio que não é isso que define ser judeu, mas citar trechos da bíblia também não, e ainda assim uma freira católica conseguiu seu “certificado” para continuar pegando as refeições. Tendo a concordar com Caputo, mas se a nova onda judaica estava dando prejuízos à nova administração, é claro que eles não deixariam passar em branco.
RIP Vauseman. Tudo bem que as duas sempre foram um casal meio disfuncional, mas a terceira temporada veio bem determinada a destruir os corações de quem shippa Alex e Piper. Piper é incapaz de compreender ou tentar ajudar Alex a resolver seus problemas, mesmo tendo estes esfregados na sua cara o tempo inteiro. Se a namorada não é mais tão sexy ou divertida como antes, melhor sacanear e dar uns pegas na genderqueer tatuada que se seca sem toalhas, claro. Companheirismo é mato.
Por outro lado, é impossível não se divertir com os desdobramentos do seu contrabando de calcinhas! Quem diria que uns pedacinhos de pano sujo renderiam tanto dinheiro e tantas reviews maravilhosas (devidamente registradas no braço do irmão dela)? Aliás, acho que o irmão da Piper é o único personagem masculino da série de quem dá pra gostar sem medo. Por enquanto.
Vamos relembrar: Caputo foi escroto com a Fischer, Mr. Healy é super hipócrita, Bennett e Larry pareciam ser ótimos e se revelaram dois babacas, Pornstache dispensa apresentações e o Donuts… bem, o Donuts não demorou nem meia temporada até revelar quem ele de fato é. Seria muito legal ver a Doggett arrumando um novo amigo. Seria muito legal se os dois, apesar das circunstâncias, conseguissem criar uma relação leve e divertida que recheasse nossos episódios com diálogos engraçados. Mas o Donuts tinha que deixar a sua posição de poder subir à cabeça e se aproveitar disso, né? Não importa que Tiffanny não tenha dado nenhum sinal de interesse romântico, ela é uma detenta e ele é um guarda. Ele se sentiu no direito de beija-la e certamente interpretou o seu silêncio coagido como um sinal verde para o que der e vier.
A tensão entre Gloria e Sophia chegou a um ponto bem crítico. Sophia culpa o filho de Gloria pela recente rebeldia do seu garoto. Só que nem tudo é culpa do Benny, e ela é orgulhosa demais para reconhecer isso e se desculpar quando precisa. Coisa de mãe mesmo, que sempre acha que suas crianças nunca têm culpa. Apesar de tudo, Gloria tem lidado bem com a situação. É fácil cair na armadilha de ser preconceituosa com quem não se gosta, mas ela em nenhum momento se deixou levar pelas incitações à transfobia que Aleida tem sugerido.
Alguma observações:
– Red não tem nada a ver com aquela comida. Registrado?
– Mais um capítulo da novela Judy na prisão. Quão contraditório é ser fã de alguém e querer que ela vá presa?
– Falando em capítulo: onde compra o livro da Suzanne? As descrições e discussões estão tão boas que eu realmente queria ler.
– Como o guarda das calcinhas sai com aquele trambolho nas calças e ninguém vê, minha gente?
– O caco de vidro sumiu. Sujou, Alex.
Apesar dos temas bem espinhosos, Where my Dreidel At conseguiu ser um dos episódios mais engraçados da temporada. Curtiu? Deixe seu comentário!