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Orange is the New Black – 3×10 A Tittin’ and a Hairin’

Por: em 31 de julho de 2015

Orange is the New Black – 3×10 A Tittin’ and a Hairin’

Por: em

Orange is the New Black sabe nos fazer rir, mas quando aflora sua essência dramática, pega pesado. A peça do passado da caipira que foi apresentada em A Tittin’ and a Hairin’  e o paralelo com os acontecimentos do presente são um retrato doloroso, porém inconvenientemente preciso de uma realidade que aterroriza qualquer mulher, em qualquer lugar do mundo.

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Quando Tiffany sangrou, sua mãe explicou que a partir daquele momento, ela era uma mulher. Palavra de mãe, por mais torta que seja, é de uma exatidão impressionante, já que vários elementos daquela conversa se relacionaram ao seu primeiro e ao seu mais recente estupro: o engradado de refrigerante, o chocolate duplo com calda, a picada de abelha, a dor, o entra e sai. Tantos sinais do destino só poderiam ser um alerta para que ela seguisse o conselho de ficar quieta e esperar que eles terminassem. O que mais ela poderia fazer? Impossível não aplaudir de pé o trabalho de Taryn Manning, que soube expressar com um olhar toda a impotência e todo o vazio que a personagem sentia naquele momento.

Coates é um homem comum. Um homem que se tornou amigo de Doggett, que deu a ela momentos de diversão e uma pequena amostra de liberdade. Um homem que se interessou por ela, talvez até mesmo tenha se apaixonado por ela. Um homem que se desculpou por um beijo inconveniente, levou biscoitos, se declarou, disse que ela não precisava ficar com ele em troca de nada, disse até que era feminista. E é um estuprador. Porque é isso que estupradores são: homens comuns, pais, irmãos, amigos e namorados que em algum momento se acham no direito, pelo que quer que seja, de satisfazerem suas vontades e exercerem poder sobre mulheres. Por mais que o senso comum diga que estuprador é aquele monstro maníaco taradão que salta com uma máscara de ninja de trás de uma moita num terreno baldio à meia noite para atacar mulheres de saia curta, a maioria dos estupradores são homens comuns, pessoas em quem as mulheres confiam, pessoas que as fazem acreditar que aquilo não é estupro, que elas queriam aquilo ou que causaram aquilo.

Doggett foi uma das personagens que mais cresceu nesta temporada, assim como Big Boo. Este episódio explica muita coisa sobre características da personagem que estão presentes desde o início. Tiffanny foi ensinada a deixar sempre que os homens fizessem o que quisessem com ela, o que explica o motivo de ela não denunciar os abusos, não contestar e nem mesmo exigir o uso de preservativos, por exemplo – o que acabou fazendo com que ela engravidasse tantas vezes. Também explica a tentativa de se aproximar de Coates, já que ela pensou que ele se importasse, assim como Nathan se importou quando ela era mais jovem. E vale dar os parabéns à serie por retratar um tema tão delicado de forma respeitosa e realística, sem transformar um abuso em um espetáculo, sem transformar em um evento raso e, principalmente, sem tirar o foco da vítima.

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Mas A Tittin’ and a Hairin’ não se resumiu a Doggett, e Alex também passou por maus bocados. Depois de descobrir que estava sendo espionada pela doida de Chicago, ela flagra Piper e Stella, toma uma advertência por espionar as coisas da outra detenta e ainda se envolve em uma briga no banheiro – onde descobre que não foi Kubra que enviou a stalker, ela só tem um parafuso a menos mesmo. E por falar em briga, o kissuco também ferveu entre Gloria e Sophia, mais uma vez por causa dos filhos. Sophia foi orgulhosa quando não admitiu que seu filho é o problemático da história, mas Gloria ter partido pra cima, empurrado a cabeleireira e feito aquele showzinho apoiada por Aleida foi bem pior. A reação de Sophia foi impulsiva, mas qualquer uma na pele dela poderia ter feito o mesmo.

Para vocês verem a situação: Pornstache é o homem mais decente dessa terceira temporada, minha gente. Que fase! Tudo bem que ele só não foi tão escroto por falta de tempo mesmo, mas a reação dele me pareceu mais de alguém que aceita a Daya com o filho seja lá de quem for, do que a de quem não acreditou que não é o pai. É claro que quando ele souber que Bennett é o verdadeiro pai da criança, a coisa vai mudar de figura. Sabendo da vontade do filho, a mother Mendez volta a falar com Daya sobre a adoção, e parece que nada mudou entre as duas, apenas a verdade que foi revelada.

Suzanne, quem diria? Arrumou um interesse amoroso. A menina com cara de Domingas fez até uma poesia para estimular a imaginação de Crazy Eyes. Warren revelou a Morello que é virgem e acabou desistindo de ir para o quartinho da bagunça com a pretendente, mas algo me diz que essa história não termina aí. É bom ver a personagem explorando esse lado afetivo/sexual. Ela é complexa e cheia de camadas, mas depois do flerte frustrado com Piper na primeira temporada, nunca mais desejou ou foi desejada por alguém ali dentro. Seus contos mostraram um lado dela que ninguém conhecia, então é natural que ela desperte algumas paixões repentinas por aí.

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Algumas observações:

– O jogo das latinas, de contar as três frases e uma ser mentira, também foi usado pela Netflix nas redes sociais para divulgar a terceira temporada.

– Queria comer os legumes da Red. Pareciam bons de verdade.

– Agora que metade de Litchfield já usa as calcinhas da Piper e elas descobriram a grana que valem, Chapman vai começar a ter que lidar com uns probleminhas.

– É uma bobeira, mas eu simplesmente morri de rir de um dos comparsas do namorado da Morello parando pra limpar a sola do sapato no tapetinho da entrada da casa do Cristopher. Dar uma surra no cara tudo bem, mas sujar o chão da sala já é vandalismo, pô.

Gostaram de A Tittin’ and a Hairin’? Para mim, junto com Finger in the Dyke, foi o melhor episódio desta temporada. Deixe seu comentário!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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