Orange is the New Black sempre tentou mostrar que toda história tem dois lados, que ninguém é totalmente bom ou totalmente ruim, e que raramente a motivação para se cometer um crime é só a maldade do indivíduo. Ignorância, falta de oportunidade e fatores emocionais estiveram por trás da maioria dos delitos cometidos por aquelas detentas. Doctor Psycho fez um esforço bem grande para mostrar o outro lado de alguns dos personagens… menos queridos, digamos assim. Mas será que essa lógica sempre funciona?
Mr. Healy, assim como o Dr. Psycho dos quadrinhos, tem grandes problemas com mulheres. Seu flashback mostrou que isso é algo que ele carrega desde a infância, com o pai ensinando que problemas mentais são “doença de mulher” e o abandono da mãe, quando ela não quis mais ser submetida à terapia de eletrochoque para tratar a esquizofrenia. Healy não é um misógino estereotipado como o personagem título deste episódio, mas certamente enxerga as mulheres como indivíduos de segunda classe. Toma decisões por elas, baseando-se naquilo que ele vê como conveniente, e se irrita quando as tais “gentilezas” são declinadas. Foi assim com as duas mulheres do flashback, com Piper, Red, Soso e agora, Judy. Mesmo comprando uma esposa, mesmo em uma posição de poder sobre as detentas, as mulheres continuam não fazendo a sua vontade.
Lolly já não batia muito bem da bola desde Chicago, e matar um homem, esquartejar e enterrar na horta deixou até mesmo Alex muito abalada. Era questão de tempo até ela surtar. Red entrou no circuito para tentar lidar com a situação, mas no fim das contas acabou convencida de que eliminar a loira era a única alternativa possível. A cena em que ela “briga” com o drone imaginário na horta é muito mais triste que engraçada, e Mr. Healy acaba reconhecendo naqueles sintomas um pouco da própria mãe. Quando era criança, ele ainda não conhecia outras opções, incentivou a mãe a seguir com um tratamento agressivo e por isso a perdeu. Agora, ele fez o que estava ao seu alcance para evitar o mesmo sofrimento para Lolly. As boas intenções foram óbvias, mas talvez duvidar da história dela cause alguns problemas no futuro, se o corpo for descoberto mesmo.
Além de Mr. Healy, Coates e Aleida também passaram por uma processo de desconstrução. Ou por uma tentativa fracassada disso. Coates dizendo que não sabia que tinha estuprado Doggett porque disse que a amava foi o fim da picada. Sim, nós vivemos numa cultura do estupro que culpabiliza vítimas, isenta os agressores e naturaliza diversos comportamentos abusivos, mas de forma alguma isso deveria servir para atenuar a violência. Espero que a Boo não deixe a Doggett se culpar mais ou cair na conversa do Donuts. Já Aleida está prestes a ser liberada por bom comportamento, e pronta para ir atrás dos filhos e da neta, apesar de todas as inseguranças que a esperam do outro lado das grades. Mas como torcer pra tudo dar certo pra ela, enquanto Sophia é enviada para a segurança máxima? Como engolir essa história de bom comportamento de uma personagem tão mesquinha? Se gostar do Mr. Healy já não é fácil, simpatizar com um estuprador e com uma transfóbica é praticamente impossível.
Aliás, foi a primeira vez na temporada que vimos Sophia, e não foi uma visão nada agradável. Acho que na lista das 138 maiores injustiças da história de Litchfield, essa é a maior de todas. Ela perdeu tudo, tentou ser ouvida de todas as formas possíveis e o último recurso foi incendiar a solitária. Ela poderia ter morrido ali, mas depois de tudo o que ela passou, talvez essa nem fosse uma preocupação. Os índices de suicídio da população T são alarmantes e a expectativa de vida é de 35 anos, então os danos dessa violência por causa da identidade de gênero são muito mais profundos que pessoas cis podem mensurar. Mas ela é uma mulher forte, do tipo que se cair, cai levando seus algozes junto. Foi bom ver Nicky de novo, espero que elas duas ganhem mais destaque daqui pra frente, e que mostram a Miss Claudette também (não custa sonhar).
Algumas observações:
– Alex e Piper bateram na traaaave. Claro que a Chapman tinha que cortar o clima. Aff. Melhor pra Alex, que nem imagina a nojeira que aquelas mãos pegaram mais cedo.
– Aliás, se as meninas achavam a Pipes privilegiadas, imagine só quando elas perceberem que a Judy King manda naquilo tudo.
– Na verdade, imagine só quando a Judy perceber que manda naquilo tudo, né?
– O negócio das calcinhas já deu o que tinha que dar, podiam simplesmente esquecer o assunto, como esqueceram a Santa Norma.
– Ainda vão explicar de onde raios veio aquele drone ou vão só seguir a vida?
E você? Conseguiu simpatizar mais com Mr. Healy, Coates e Aleida depois desse episódio? Deixe seu comentário e continue acompanhando nossas reviews amanhã!
