Antes de “To Hound Nature in Her Wanderings”, a temporada optou por destacar a trama de uma personagem a cada episódio, andando um pouco menos com as outras. Nesta semana, no entanto, todas tiveram um arco bem desenvolvido sem que isso comprometesse em nada o ritmo da narrativa. Assim como no sexto episódio da primeira temporada, o espetacular “Variations Under Domestication”, tivemos um capítulo com uma dose maior de humor do que o habitual, o que é ótimo para arejar e dar leveza a uma série sempre cheia de tensão e uma forte carga dramática.
É difícil não se render aos momentos fofos compartilhados por Helena e Sarah. A loira encontra na irmã a sensação de pertencimento que sempre buscou, e é notável como coisas simples são significativas e novas para ela. Ouvir música cafoninha durante uma viagem, brincar com sombras e soltar gases (?!) em uma barraca de acampamento… coisas que são comuns para famílias, mas não para quem jamais teve uma. Apesar disso, Helena tem consciência de que só pode desfrutar desses momentos enquanto Sarah precisar dela, por isso guarda as informações que possui o máximo de tempo que pode – e ainda assim é deixada para trás assim que a gêmea consegue uma chance.
Há um grande avanço nas pesquisas de Sarah sobre a origem do projeto Leda, especialmente depois de localizar uma peça tão importante quanto Ethan Duncan. O embate entre ela e Siobhan foi esclarecedor, mas decepcionante… para a trama funcionou bem pularem o barraco e partirem para o que interessava, mas não combina com a Sarah deixar barato uma vida inteira de mentiras em troca de umas poucas informações. Mrs. S. certamente sabe mais do que contou à filha, mas as revelações de Ethan sobre a origem das clones e do envolvimento e Leekie na morte de sua esposa já foram suficientes para movimentar a trama – e gerar novas perguntas, é claro.
Uma das mais deliciosas sequências ficou por conta de Helena (sempre ela) e sua aventura no bar. Depois de passar um tempo com sua sestra, ela continuou desfrutando dos seus momentos de vida – quase – normal: deu uma surra em um valentão, arrumou um “ficante” e conquistou o coração do rapaz em uma disputa de queda de braço. É uma pena que as coisas tenham terminado mal com ela na delegacia, abandonada por Sarah e sendo levada de volta à fazendinha dos Proletheans para gestar suas mini-heleninhas.
Ainda no bar, o diálogo entre Mark e Paul foi curto, mas muito simbólico sobre a série. Os dois estão ali com o mesmo objetivo, mas decidem fazer um acordo para que cada um leve a “sua garota” e ambos saiam ganhando. A jornada das clones é completamente baseada na luta por essa autonomia que lhes é negada o tempo inteiro. Mark e Paul representam naquele momento a DYAD, os Proletheans, os monitores, os militares e os cientistas que controlam o corpo, a vida e o destino daquelas mulheres como sua propriedade – chegando ao ponto de patenteá-las. Ás vezes o público vê tantas cenas de fuga que é difícil lembrar do que elas querem escapar, e cenas como essa servem justamente para trazer essa resposta à tona.
Alison Winehouse continua na rehab, e agora tem a companhia de uma versão budista de Vic. O personagem foi um dos mais chatos da primeira temporada e quando apareceu na sala da reunião eu fiquei bem desapontada, mas a sua interação com a clone dona de casa foi tão boa que já estou torcendo por mais cenas entre eles, ainda mais pelo ex de Sarah fazer parte da investigação de Angie. A verdade é que Alison vai bem com qualquer coisa – seja com Fe, com Vic, com Ramon ou com as outras clones – exceto com Donnie, mas aí o problema é com ele mesmo, o personagem mais sem função da série.
Por falar em sem função, Cosima vinha sendo muito mal aproveitada neste segundo ano. A clone cientista foi uma das personagens mais queridas da primeira temporada e ultimamente sua participação se resumia a tossir e dar algumas dicas inteligentes para Sarah via Skype. O retorno de Scott deve trazer um plot mais interessante para a nerd, reacendendo inclusive as dúvidas sobre a índole de Delphine, que voltou a esconder informações da parceira.
To Hound Nature in Her Wanderings cumpriu bem a missão de aparar as arestas e preparar o terreno para a reta final da temporada. Equilíbrio é a palavra que melhor define o episódio, que dividiu tanto o tempo em tela das personagens como a dose de humor e de tensão nas cenas – além, é claro, de revelar muitos segredos e ao mesmo tempo criar novas perguntas. Na próxima semana todas estarão separadas e focadas em diferentes objetivos, mas em algum momento seus caminhos devem se entrelaçar novamente até o fim deste segundo ano, a questão é: como?
