Esqueça os filmes que foram originados pela série: eles não retratam o que foram as três temporadas de Os Normais. Os 71 episódios exibidos na Rede Globo, às sextas-feiras, não foram bem retratados pelos filmes, principalmente pelo segundo, que abusaram de piadas apelativas sobre sexo e drogas.
O programa, exibido entre 2001 e 2003, foi a primeira série que assisti, então tenho um carinho especial sobre o show, que retratava a vida cotidiana de um casal de paranóicos e malucos, Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vanilce (Fernanda Torres), ou Vani para os íntimos. Os protagonistas retratam um típico casal de classe média brasileiro, na faixa dos trinta anos, que são noivos há mais de cinco anos.
O casal, aparentemente, é um “casal normal”: Rui é tranqüilo, bem humorado e trabalha em uma empresa no setor de marketing; Vani é temperamental, agitada e compradora compulsiva, que trabalha em um uma loja de roupas. A primeira vista é um casal como qualquer outro que nós conhecemos, no entanto, os dois se revelam supersticiosos, preconceituosos, paranóicos e cheios de falhas de caráter, o que faz, ainda mais, nos identificar com seus defeitos e maluquices.
No terceiro ano da série, e como parte da evolução de Os Normais, integraram o elenco fixo do show os atores Selton Mello e Graziela Moretto. Selton, que já havia participado em um episódio de Os Normais, interpreta Bernardo (a.k.a Bernardo Carlos, voz e violão), um cantor de barzinho que vira grande amigo de Rui. Já Graziela dá vida a Maristela, uma professora de química.
O que torna a série fenomenal são as infinitas, e absurdas, teorias de Rui e Vani sobre todo e qualquer fato do dia-a-dia de um casal, o que torna qualquer tipo de atividade e/ou interação motivo de divertidos diálogos e mal entendidos.
Principalmente nos primeiros dois anos do show, quase 100% das cenas eram feitas no apartamento de Rui, o que exigia um roteiro aprimorado. Méritos para os criadores e roteiristas do programa, Alexandre Machado e Fernanda Young que, casados na vida real, inspiravam-se em fatos de suas vidas, bem como de seus amigos e conhecidos, o que envolvia um longo processo de percepção do meio em que conviviam.
Os atores principais possuíam uma química excelente e as cenas de Rui e Vani no banheiro ou deitados na cama são impagáveis, evidenciando que, com um roteiro bem escrito e atores entrosados não há necessidade de super produções. Até as mais absurdas situações tornavam-se verossímeis com a atuação de Luís Fernando e Fernanda. Como exemplo, os diálogos finais dos episódios, geralmente feitos dentro do carro, eram todos improvisados.
Segundo a Rede Globo:
Os normais mesclava elementos de televisão, cinema e publicidade. Os diálogos e a edição eram rápidos, ágeis, apresentando personagens e delineando as tramas paralelas de forma sucinta e econômica. O texto brincava com a metalinguagem. Os personagens falavam diretamente para a câmera, com freqüência, e faziam comentários sobre a produção.
O seriado foi sucesso de público e crítica. Não obstante, se tornou objeto de “orgulho” da Globo, o que fez com que vários atores do elenco da emissora participassem de Os Normais, como Juliana Paes, Diogo Vilela, Cláudia Raia, Edson Celulari, entre outros.
Abaixo, segue parte do episódio “Implicância é Normal”, exibido na primeira temporada da série:
Apesar do sucesso, em 2003, elenco e autores decidiram que a terceira temporada do show seria a última, pois acreditavam que a fórmula havia se esgotado. O que se mostrou uma decisão acertada, já que o programa terminou em alta, deixando ótima impressão e abrindo caminho para o lançamento dos filmes Os Normais – O Filme (2003) e Os Normais 2 – A Noite Mais Maluca de Todas (2009). Bem que algumas produções americanas poderiam seguir esse exemplo, não é verdade?
Em 2009 foi noticiado que a Globo estava em negociações para vender os direitos da produção para a Sony, a fim de criar a versão americana de Os Normais. O show seria produzido no exterior, em inglês, com atores americanos e seria exibido na TV aberta. Entretanto, até o momento, não há nenhuma informação de quando, ou se, a série irá ao ar.
Segundo a criadora da série, Fernanda Young, Rui e Vani são um casal que serve como um espelho das pequenas maluquices que andam pela cabeça de qualquer pessoa dita “normal”. Então, se você ainda não assistiu Os Normais está na hora de dar uma chance para uma produção 100% brasileira e 100% genial.
