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Outlander e a mulher à frente de seu tempo

Por: em 21 de janeiro de 2016

Outlander e a mulher à frente de seu tempo

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers pesados,

siga por sua conta e risco.

Uma mulher é criada apenas para ajudar na casa, ajudar seus familiares e aprender a ficar quieta na maior parte de sua vida. É horrível escrever essa frase em 2016, já que com muita luta e ardor, as mulheres estão conseguindo lutar por todos os seus direitos dos quais foram privadas através dos anos. Mas agora não estamos mais em 2016, estamos em 1743, precisamente na Escócia, onde Claire Beauchamp vai parar após uma viagem no tempo. Ela se encontra sozinha, em um lugar desconhecido, em um tempo desconhecido e com pessoas desconhecidas.

Essa personagem da série Outlander, baseada nos livros da escritora Diana Gabaldon – conhecidos como A Viajante do Tempo – é, sem dúvidas, uma das figuras femininas mais fortes e influentes da atualidade. Ainda estamos vivendo um momento em que as séries procuram cada vez mais mulheres estereotipadas, com um corpo perfeitamente composto e uma inteligência abaixo do normal e se baseando no Teste de Bechdel, são poucas as séries que tenham duas mulheres conversando sem ser sobre homens. É uma realidade que, por menor que seja, ainda mostra o desvalorizado papel da mulher no século XXI. O mais difícil ainda é quando mostram que, se a mulher tem êxito profissional, ela é sem coração, fria e calculista, porque nós mulheres não podemos ter uma família e sucesso em nossa profissão ao mesmo tempo.

Outlander Viagem no Tempo

E, por falar em profissão, Claire era uma enfermeira durante a Segunda Guerra Mundial que amava seu trabalho e não queria ser uma inútil em um período onde toda ajuda era bem-vinda. Ela não queria ficar dentro de casa esperando tudo acontecer lá fora e ajudar os feridos dos horrores da guerra foi uma atitude corajosa.

“A rebeldia de seus cachos castanho-claros era uma obra exclusiva da sua natureza, não queria ter ondas firmemente marcadas pelos fabricantes de permanente como as mulheres daquele tempo.”

Ela sentia-se feliz com sua aparência indisciplinada e não se importava com os comentários sobre ela. Além disso, gostava de fazer sexo e o mais repudiado, o sexo oral, com seu marido sem medo dos julgamentos impostos pela sociedade machista da época. Não se privava de sentir prazer nas relações e ensinou Jamie Fraser, a fazer amor com ela. Ele achava que o sexo era feito por trás igual cavalo, pois foi isso que o ensinaram. Ele não imaginava que tanto ele, quanto Claire poderiam desfrutar daquele momento.

Jamie é outro personagem mostrado de forma diferente. Em sua juventude sofreu com as terríveis torturas de Jack Black, que nutre uma “paixão” doentia pelo guerreiro. Ao final da temporada, Black o estupra várias vezes e é Claire que o ajuda a se reerguer depois desse tempo difícil. Os papéis foram invertidos, mostrando que a violência sexual pode acontecer dos dois lados. E com a Sassenach não foi diferente também. Quando volta ao passado, ela sofre inúmeras tentativas de estupros. Homens que queriam ter seu corpo só porque ela estava sozinha, só porque ela não tinha um marido com ela. Além disso, sua vestimenta era “inadequada” para aqueles tempos. Até hoje estamos debatendo com esse dilema de o quanto a roupa tem a ver com o estupro. Será que é a minissaia que chama o perigo ou será que é a sociedade que está fechando os olhos para um mundo no qual os homens ainda querem que a mulher seja submissa e inferior? E se há quase 300 anos atrás esse argumento já não fazia sentido, imagina hoje? Em 1743 a Escócia estava dominada por clãs guerreiros e a educação obviamente não era de suma importância, mas qual seria a desculpa do mundo de hoje para tal atitude? Culpabilizar a vítima nunca é o certo.

Jamie Fraser e Claire Beauchamp

Em um episódio é mostrado o quanto Jamie é obrigado a bater em Claire, isso porque ela o desobedeceu. Mesmo contra a sua vontade ele a agride, pois era isso que era esperado de um homem naquele cenário. Se uma mulher o desobedecia, sendo pior se ela fosse sua esposa, ele deveria mostrar que ela nunca deveria ter cometido tal ato, “ensinando-a” da pior forma possível.

Seja por seu temperamento explosivo, seus palavrões ou sua visão de um mundo igual para todos, Claire está à frente de muitas mulheres. Sua infância foi divida entre caminhadas e escavações diferentes pelo mundo – tirando o fato de que ela já acendia cigarros para seu tio – coisas inadmissíveis para uma moça de berço nobre. Suas atitudes são baseadas na sua própria visão do mundo e não nos pensamentos da sociedade. Ela quer ajudar seus amigos, mesmo que não esperem isso dela, mesmo que ela sofra, se machuque ou sangre. Ela não precisa de uma figura masculina para realizar seus desejos, enfrenta tudo sozinha e não reclama disso.

É por isso que Outlander é um diferencial na televisão de hoje, mostrando que a mulher também pode lutar e ser dona de seu próprio destino, ao mesmo tempo em que não desvaloriza os homens, pelo contrário, mostra a igualdade dos dois: tanto o homem como a mulher podem lutar, tanto a mulher quanto o homem podem sofrer abusos sexuais e os dois podem sentir prazer no sexo. Como disse acima, são poucos os seriados que trazem figuras femininas independentes de maridos e familiares, e A Viajante do Tempo veio mostrar que mesmo nos tempos mais primórdios, a mulher pode ser livre e não precisar de um homem no comando. Ao primeiro momento, Outlander pode parecer apenas uma grande história de amor, mas eu garanto que é muito mais que isso.


Karine Medeiros

Futura jornalista. Mora em uma cidade desconhecida. Apaixonada por séries. Cinéfila e bookaholic. Sonha em um dia morar em Nova Iorque. O que ama mais do que tudo isso? Comer e dormir.

Votorantim / SP

Série Favorita: Friends

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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