“Como é penoso admitir que o ser que nos acompanhava dia a dia e cuja existência parecia parte de nossa própria vida, tenha partido para sempre; que a doçura de olhos bem-amados se tenha extinguido, e que nunca mais nos soará aos ouvidos essa voz familiar, perene mensagem de afeto e carinho… A essas reflexões dos primeiros dias a passagem do tempo vem juntar a dureza da realidade, e só então nos damos conta da verdadeira dor e da amargura.” – Alfred Tennyson
Enquanto o mundo aguardava a chegada do domingo em busca de alguma notícia capaz de por fim ao mistério que teria tido Jon Snow em Game of Thrones, eu ansiava pelo retorno de Penny Dreadful que estreou sua terceira temporada no último dia primeiro. A série de terror dirigida por John Logan e com produção executiva de Sam Mendes sempre me chamou a atenção por suas referências literárias e culturais. Ambientada na Inglaterra do século XIX, Penny Dreadful trazia o misticismo atrelado a personagens clássicas da literatura mundial, tal qual Frankenstein, sendo sua fotografia inferior apenas à riqueza presente nos densos diálogos da série, interpretado de forma primorosa por seu elenco principal.
Desde que Vanessa Ives foi capaz de destruir o próprio diabo, que agia sob o auxílio da figura das bruxas, o grupo criado por Sir Malcolm Murray – primeiramente para encontrar sua filha Mina e depois para proteger Ives das criaturas que queriam possuí-la como forma de instituir as trevas na Terra, passa agora por uma de suas maiores crises desde sua criação…enquanto Murray foi à África velar o corpo de Sembene, se deparando com um grupo de mercenários dispostos a matá-lo ali – a mando ainda não sabemos de quem. O destino o surpreendeu com o resgaste na forma de Kaetenay. Um misterioso apache do meio oeste americano que alega precisar de Sir Malcolm, para salvar Ethan que segue sob a escolta do oficial Bartholomew Rusk.
A fotografia oscilando ora entre o amarelado do deserto do Novo México, ora pela escura e melancólica Londres, situa o público dentro de um dos dois grandes cenários presentes na atual temporada da série. Um dos principais conflitos da trama parece que será desenvolvido nesta temporada: o misterioso passado envolvendo a origem de Ethan Chandler – explicando porque razão ele foi acometido pela maldição dos Lobisomens e de que forma Murray e Kaetenay poderiam salvá-lo da mente por trás do “resgate” feito pelos forasteiros no trem, o pai de Ethan.
The Day Tennyson Died usa a morte do poeta Tennyson em 1892 para posicionar o espectador na época em que toda a história se passa. Alternando momentos emocionais dos personagens com citações de clássicos do poeta, Penny Dreadful vai aos pontos trazendo de volta a aura melancólica natural da série. Parte disso cabe mais uma vez à personagem vivida por Eva Grenn, Vanessa Ives, que agora se vê devastada pelas consequências de tudo o que acontecera até ali, deixando a partir deste momento de acreditar em Deus e principalmente, naquilo que lhe era mais valioso, sua própria fé.
O que fazer quando na verdade tudo aquilo que te definia na verdade não existe mais? Quando a culpa parece ser a única coisa existente e que possa fazer sentido? A nova temporada da série propõe analisar os males da alma de Vanessa, trazendo a presença da Dra. Seward, interpretada novamente pela atriz Patti LuPone que na última temporada deu vida à bruxa responsável por ensinar Ives a entender que carrega um grande talento. Mais que mero aconselhamento, o que se vê aqui é o debate sobre a depressão e os males que a doença pode trazer para os que sofrem dela.
Os métodos pouco ortodoxos da analista intrigam Vanessa, assim como seu caso intriga à especialista. A forma em como é criada a confiança entre a terapeuta e Ives tem muito a ver com a fisionomia daquela com a velha bruxa – tida aqui como provável parente distante. O fato é que mais uma vez a série se aprofunda em detalhar a complexidade humana, através do pensamento e das vontades e bloqueios gerados pela dualidade entre ide, ego e superego. As nuances, anseios e doenças provocados pela mente humana. Não por acaso a leitura ríspida feita pela profissional instiga Ives a aceitar as sessões semanais com Seward. E é já em uma das primeiras ações propostas pela terapeuta que somos apresentados a um dos novos personagens da trama, o Dr. Alexander Sweet, responsável pelo Zoológico de Londres e que em um primeiro momento se impressiona pela beleza de Vanessa.
E se em um primeiro momento o nome da terapeuta parece soar semelhante a algo conhecido pelo público, isso tem a ver com o fato de a série sempre trazer em seu desenvolvimento personagens clássicos da literatura, neste caso a adaptação do Dr. Seward que aparece no Drácula de Bram Stoker. E o que dizer então da presença de Renfield – que originalmente se tratava de um paciente psicótico e aqui atua como secretário da terapeuta de Vanessa, desenvolvendo um dos papéis chave no retorno de Drácula à história de Penny Dreadful.
Outro personagem que sai direto dos livros para as telas é a Henry Jekyll – de O Médico e O Monstro – e que na série desempenha o papel de um velho amigo de Victor Frankenstein. Amigos e com métodos pouco tradicionais, Jekyll e Frankenstein se unem para por fim à era de terror prometida por Lily a seu criador ao se aliar a Dorian Gray. E mesmo que ainda seja cedo dizermos algo, já se sabe que nos próximos episódios seremos expostos às teorias do bem e mal de Jekyll. Enquanto Caliban, ou seria John Clare, a primeira criatura de Victor se mantém distante dali, em um lugar muito similar ao descrito no livro de Mary Shelley e que teria sido seu último lugar na terra, reencontrando onde havia apenas devastação e morte, um pouco do que pode ter sido sua vida antes de ter se transformado no Monstro de Frankenstein.
Assim como a citação no início do texto, é preciso compreender que o luto é vivido para cada um de forma particular. O problema aqui é que com a iniciativa de Drácula em acompanhar todos os passos de Vanessa, ela e a cia de cavaleiros criada por Sir Malcolm terão pouco tempo para viver a perda até um novo embate entre a luz e as trevas.
E aí, o que achou do retorno de Penny Dreadful? E a chegada dos novos personagens? Acredita em uma possível aliança entre Ethan e Hecate? Não deixa de dizer suas impressões sobre o episódio de estreia da nova temporada e até a próxima review!
