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Penny Dreadful – 3×08 Perpetual Night / 3×09 The Blessed Dark (Series Finale)

Por: em 23 de junho de 2016

Penny Dreadful – 3×08 Perpetual Night / 3×09 The Blessed Dark (Series Finale)

Por: em

Enquanto o mundo inteiro acompanhava a polêmica e histórica Batalha dos Bastardos, em Game of Thrones, eu assistia emocionado aos últimos episódios de Penny Dreadful. Um misto de sentimentos, já que uma das minhas séries prediletas, e um dos motivos que me levaram um dia a participar do processo de novos colaboradores do Apaixonados por Séries como o que está rolando agora, encerrava sua história. Se muita gente sofre com a chegada dos finais de temporada, a despedida quando tudo ali na realidade retrata um Series Finale tende a ser ainda mais sentimental e dolorosa.

Mesmo que o anúncio oficial, dado pelo criador da série John Logan, tenha sido publicado apenas após a exibição do episódio duplo da terceira temporada. Vários eram os indícios de que a história de Vanessa Ives tinha sido pensada para durar exatos três anos. O aparecimento de Drácula na trama não só retomava a aparição do vilão que dominou nosso imaginário lá no início da história de Mina, como dava continuidade à profecia antiga – desvendada na segunda temporada – que citava a história dos dois irmãos e a disputa pela união com a mãe da noite.

Se no ano anterior acompanhamos a batalha de Vanessa contra Lúcifer e as bruxas, o atual ano da série mostrava que o próximo passo seria o de vermos Ives agora disputar forças com o último dos irmãos, Drácula. Os detalhes estavam todos ali. Na decisão tomada ao optar pela exibição de um episódio duplo, logo a série que já tem temporadas mais curtas; na mudança da abertura do episódio nove, agora embalada por uma belíssima e triste melodia que narrava de certa forma a importância de se ter esperança, em meio a tanta tristeza e sofrimento. Lembrando que era essa mesma esperança a responsável por nos fazer acreditar que existe algo além das trevas; e o fatídico e – para alguns – indigesto “THE END”, impresso em caixa alta, imerso na tela de fundo preto. Respeitando a magnitude que é Penny Dreadful.

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A trama da série sempre foi sobre Vanessa Ives e o caminhar da moça junto de sua fé em busca da verdade escondida por trás da maldição que a perseguia. E antes que alguns dos fãs possam dizer que a profecia não foi finalizada corretamente, já que nela ficava claro que o papel de Ethan era o de salvar Vanessa. Sinto lhe informar, mas foi exatamente isto o que ele fez. Em uma das cenas mais emocionantes e emblemáticas da série, a forma encontrada pelo roteiro para finalizar a história da maldição que assolava Ives apenas reforçou o cuidado e o excelente trabalho feito por todos os envolvidos na produção de Penny Dreadful. Ao promover o reencontro de Ives com Deus e a retomada da fé que em um determinado momento foi desacreditada por Vanessa. O recitar do pai nosso e os diálogos cheios de angústia, dor, e principalmente amor, servem – como diria uma amiga e ex-colaboradora aqui do blog – como mensagem direta a todos os fãs da série. Demonstrando que existe sim beleza no fim das coisas, e que é preciso entender que este mesmo fim merece trazer consigo o respeito e amor que sempre motivou a existência da série.

Filosofias à parte, Penny Dreadful sempre foi pra mim mais que uma história sobre monstros e profecias. Era a representação de excelentes diálogos e ótimas atuações, construídos por sobre um roteiro consistente e mensagens válidas em tempos de séries ruins e descuidadas. Motivo pelo qual muitas das vezes a riqueza dela estava justamente em sua linguagem não verbal.

 “- Let it end.
  – With a kiss.
  – With a kiss.
 – With love.
  – With love.”

Se ausência de Vanessa ao longo de todo Perpetual Night, e boa parte de The Blessed Dark ajudava a aumentar ainda mais a emoção e a angustia para aqueles que acompanhavam os minutos finais da história de Penny Dreadful. Servia também para permitir que víssemos os acontecimentos paralelos e as consequências da união entre Vanessa e Drácula sob a ótica de outros e importantes personagens. Fatos que justificaram alguns pontos, como por exemplo, a origem da maldição de Ethan e o porquê de Kaetenay sempre chamar Chandler de filho. De certo modo, a exibição do episódio duplo dá pouco tempo para o expectador pensar ou ir atrás de informações a respeito dos rumos da trama. Assim como a luta e a união dos amigos dedicados à salvação de Ives auxiliam na crença de que finalmente veríamos o acontecimento da grande batalha entre o lobo e o vampiro.

Porém, a série – mesmo que alguns insistissem em achar – nunca teve intenção de se pautar como algo próximo de uma Liga dos Cavalheiros Extraordinários, pelo contrário. Penny Dreadful sempre se manteve coerente ao excelente drama que é. Capaz de manter e tocar o expectador muito tempo depois que episódio tenha ido do ar. Provando na realidade que por trás de todo o terror presente no gênero, existia ali uma grande história de amor.

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A história de Ethan e Vanessa, no entanto, nunca esteve fadada ao feliz para sempre. Pelo contrário. O caminhar do pistoleiro solitário do início da série, leva à construção da imagem do homem por baixo da pele do lobo. Tanto, que o retorno ao condado dos Talbot e o reencontro entre Ethan e o pai, serviram para demonstrar que por maior que tenham sidos os erros comentidos nas escolhas de Chandler, ele sempre foi alguém bom. Por isso um dos poucos capazes de compreender que para por fim ao sofrimento de Vanessa era preciso sacrificar seu grande amor. As consequências deste ato exigem tanto dele, quanto de Sir Malcolm a importância do recomeço. Afinal, em meio a tantas perdas ao longo do caminho. Nascera ali uma forte relação paternal entre eles. E se, na maior parte do tempo, Ethan sempre se viu sozinho e fugindo de si mesmo. O fim das trevas significava que seria preciso viver um dia de cada vez, mas de agora em diante ao lado da figura que ele tinha como família.

E mesmo que o plot de Frankenstein tenha se mantido distante do de Vanessa. A busca incessante do médico pelo o que um dia foi o amor de Lily. Traz a real mensagem por trás da ideia de se usar o soro criado por Henry na narrativa. Demonstrando que a dualidade existente em cada um de nós é o que de certa forma validaria as atitudes egoístas e, por um breve momento, selvagem do médico. E ainda que muitos tenham se perguntado o porquê do ódio de Lily, o diálogo em que ela conta a história sobre a morte prematura de sua filha é sem dúvida um dos pontos fortes da primeira parte do episódio de despedida da série. Cabendo aqui a mensagem de que o perdão muitas vezes é capaz de salvar. E que o ato impensado de Victor em anular o lado mau de Lily, na verdade a estaria mutilando. Roubando suas memórias, as lembranças que restaram da filha pequena, as cicatrizes que servem para representar a complexidade que é o ser humano. Não por acaso, é apresentada o alto preço da imortalidade pago por Dorian. Que após milhares de séculos, precisou abdicar do que ainda lhe restara de humanidade. Enquanto pra ele este era um preço pequeno a se pagar, para Lily as coisas não são vistas da mesma forma.

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Ainda que tudo na série sempre tenha estado relacionado à figura de Ives, e no caso do episódio duplo, o resgate dela. O encerramento da série permitiu compreender a importância da personagem de John Clare em toda a história. Que de monstro insano e sanguinário, foi se transformando e se humanizando a ponto de ser dele o papel de narrador solitário de tudo o que acontecera até ali. Algo similar à figura inspirada no romance gótico de Mary Shelley, já que é ele quem é indiretamente privado de poder partilhar do luto de Vanessa – a única pessoa capaz de demonstrar amor genuíno por ele depois de ter ressurgido como Criatura, não podendo assim receber o carinho ou a busca pelo reconforto no momento em que se perde um ente perdido. Tanto é que só no último episódio se entende a facilidade com a qual sua mulher o aceita de volta. Questionando, mais uma vez, a existência dos limites do egoísmo humano. Cabendo ao Monstro de Frankenstein a postura de benevolência e bondade ao próximo, no caso da série, seu amor pelo próprio filho.

Prematuro para muitos. Na medida para mim. Penny Dreadful se despede da mesma forma emocionante que me conquistou. Só que agora com a alcunha de série atemporal feita para ser constantemente reassistida.

“Houve um tempo em que a campina, o bosque e o córrego…

A terra e toda sua vista, para mim, pareciam envoltas em uma luz celestial.

A glória e o frescor de um sonho.

Não é mais o que foi outrora.

Virar-me para algum lugar, irei, dia ou noite, as coisas que vi, não posso mais vê-las.

Mas há uma árvore, de tantas, uma. Um único campo para qual uma vez olhei.

Ambos falando de algo que sumiu.

O amor-perfeito em meu pé conta o mesmo conto de novo.

Para onde fugiu o visionário brilho? Onde está agora…

A glória e o sonho?” – William Wordsworth


Deixo aqui meu sincero agradecimento a Logan e todos os envolvidos na maravilha que é Penny Dreaful. Assim como a você que me acompanhou por semanas na leitura das reviews.


Marcel Sampar

Paulista que puxa o erre pra falar, PHD em Análise do Drama pelas novelas mexicanas reprisadas no SBT e designer de homens palito. Com sérios problemas em se definir por aqui - sim, esta já é minha terceira tentativa em menos de um mês - mas que um dia chega lá!

Rio Preto/SP

Série Favorita: Sex and the City

Não assiste de jeito nenhum: Teen Wolf

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