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Preacher – 1×02 See

Por: em 7 de junho de 2016

Preacher – 1×02 See

Por: em

A dualidade entre o que se é e o que se deseja ser. 

Esse é o grande tema apresentado pelo segundo episódio de Preacher, que embora continue com uma história bastante recortada, apresenta mais constância que seu piloto e mostra que nada do que é desenvolvido está solto; basta termos a paciência necessária para que a cola seja feita e a colcha de retalhos se torne um produto uniforme. Enquanto isso não acontece, o foco é mesmo no seu protagonista, Jesse Custer, e em toda a bagunça psicológica que se apresenta em sua cabeça.

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A série não tratou de deixar claro o que aconteceu no passado de Jesse que o fez decidir se refugiar sob o manto de pastor, mas é gritante o quanto o rapaz quer fugir do homem que ele era – seja lá o que isso significa. Tal desejo fica claro nas suas negativas ante a uma insistente Tulip, que não desiste de trazê-lo de volta para os “negócios”, nos seus diálogos com Cassidy a respeito dos planos de Deus para ambos e nas conversas com o Cara-de-Cu (brilhantemente recém-nomeado por Cass). Sempre que algo parece despertar em Jesse o desejo de retornar a suas origens, ele mergulha mais na aparente farsa que começou a viver. É como se, de alguma forma, ele acreditasse piamente que servir a um propósito maior, batizar as pessoas, ouvir seus pecados e dar a elas uma esperança de salvação pudesse representar algum tipo de salvação para si próprio.

Mas ninguém consegue fugir de si mesmo e Jesse percebeu isso depois de ser atacado dentro da igreja por dois homens que, aparentemente, tentaram tirar a Genesys de dentro de seu organismo. Um salve pra Cassidy, que não apenas impediu os atacantes de concluírem seu objetivo, mas também entregou outra sequência maravilhosa, gore, com sangue, ironia e excelentes momentos de ação. Dá pra dizer fácil que a luta dele na igreja contra os dois homens é a melhor cena do episódio e, além de estabelecer um ponto de virada no modo como Jesse enxergava as coisas, também pode significar um novo começo para a já ótima, mas ainda desconfiada, relação entre o vampiro e o pastor.

No que tange ao preacher, o episódio (em conjunto com o “sequestro” promovido por Tulip para lhe jogar na cara que ele nunca vai conseguir mudar sua natureza) parece ter sido fatídico para que ele entendesse que melhor do que fugir de seus monstros pessoais, é encará-los de frente. E agora que ele percebeu que ganhou a dádiva da “Voz”, parece claro que tentará usar o novo dom para fazer o bem, sem que pra isso tenha que assumir uma personalidade pacífica e amorosa com a qual nunca se sentiu realmente à vontade. Esse jogo de opostos é mostrado muito bem pela sequências de cenas finais, onde primeiro Jesse enfrenta o pedófilo em potencial e o faz esquecer da garota por quem sentia desejos (percebendo, aí, o poder que agora possui) e, em seguida, corre para tentar ajudar uma criança doente. Fica agora a expectativa de quais vão ser os próximos passos de Jesse com consciência dos novos poderes.

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Outra boa expectativa que a série vem construindo é com relação aos “recortes” de trama que mencionei no começo. Eu tinha citado nas primeiras impressões que Preacher não é uma série pra quem gosta de receber tudo mastigadinho logo de cara e, aqui, isso apenas se comprovou. A excelente sequência de abertura do episódio, num velho oeste de 1881, é a prova disso. Não sabemos quem é o homem que enforcou todas aquelas pessoas, quais suas motivações ou porque a série voltou tanto no tempo para isso. Mas sabemos que, de alguma forma, isso será importante e trará algum tipo de impacto a trama do presente. Como sou um total leigo no universo das HQ’s que deram a origem ao seriado, fiz o dever de casa e, com uma pesquisada, descobri que se trata de um personagem bastante importante intitulado Santo dos Assassinos. Do que li a respeito, se a adaptação televisiva for fiel ao canône, essa terá sido uma excelente introdução da figura do Santo. Esperemos pra ver.

A prova de que vale a pena esperar é que o próprio roteiro já dá mostras de que sabe a trama que está construindo. Em determinado momento do episódio, somos apresentados a uma cena aparentemente aleatória, de um senhor comprando uma casa (por métodos de persuasão, vale acrescentar) para logo em seguida demoli-la (o que acredito que, assim como a sequência de abertura, foi uma introdução a um personagem importante), Minutos depois, descobrimos que um dos homens na cena se chama Donnie e, perto do fim do episódio, Tulip menciona que existe um Donnie no passado de Jesse que o agora pastor fez algo a esse homem – o que talvez explique o modo um tanto quanto violento que ele agiu com seu colega, no veículo.

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Dessa forma, Preacher faz juz ao canal no qual está inserido (a AMC já é conhecida por fazer introduções mais longas de suas séries, vide Breaking Bad) e já mostra um potencial de ser uma grande série. Acredito que esta primeira metade da temporada se apresentará como um grande arco introdutório, posicionando personagens, tramas, subtramas e armando o cerco para que a coisa decole a partir do 6. Até lá, não é nenhum esforço mergulhar na psique de Jesse, entender mais sobre Cassidy e Tulip, tentar ligas os vários pontos do roteiro e se deslumbrar com a belíssima fotografia da produção.

Outras observações: 

– Não consigo não ter uma agonia muito grande sempre que o Eugene fala. Como acredito que essa é intenção do personagem mesmo, ponto pra AMC.

– Acho que a cena em que o Cassidy vai sair da igreja e percebe que o sol acabou de nascer é uma das mais bonitas que já vi, em termos de acabamento e direção. Os raios solares iluminando sutilmente o tom mais soturno da igreja enquanto Cassidy assistia a tudo foi bastante… poético.

– E, falando nisso, tô bem curioso pra saber o que são esses homens que tentaram tirar a Genesys do Jesse. Eles afirmaram que são “do governo”. Isso quer dizer que vieram do Céu? São anjos ou algo do tipo?

Fique com a promo de The Possibilities, episódio de semana que vem. Até lá, deixe seu comentário! Está gostando do ritmo e construção da série?


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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