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Primeiras Impressões: 13 Reasons Why

Por: em 31 de março de 2017

Primeiras Impressões: 13 Reasons Why

Por: em

Dizem que a adolescência é a fase mais complicada da vida. E eu tendo a concordar. Aos 16 anos, qualquer coisa vira grande demais. Um término parece o fim do mundo. Uma alegria parecia a mais genuína. Qualquer fato ganha uma dimensão gigante, seja ele bom ou ruim. É usando isso como pano de fundo para tratar de um grave problema social como o suicídio que a Netflix lançou nessa sexta a primeira temporada de 13 Reasons Why, baseada no livro homônimo (aqui no Brasil traduzido e vendido como “Os 13 Porquês”), produzida por Selena Gomez. A série conta a história de Hannah Baker (Katherine Langford), uma jovem garota do ensino médio que cometeu suicídio recentemente, pelos olhos e percepções geradas a partir de 7 fitas cassestes (marcadas de 1 a 13, cada lado) recebidas por Clay Jensen (Dylan Minnite, de Lost Awake), garoto que era apaixonado por ela. As regras são claras: As fitas irão revelar os 13 motivos que levaram Hannah a cometer suicídio e Clay deve escutá-las e passá-las adiante – ou elas se tornarão públicas.

Do roteiro a montagem, passando pela direção e trilha sonora, tudo funciona muito bem no episódio inicial. Por mais que o ambiente de colegial já seja conhecido de quem consome muitos produtos de TV (os ônibus amarelos, os professores reclamando dos celulares, o jovem garoto andando de bicicleta, as festas com copo vermelho), 13 Reasons Why consegue acertar por construir tudo isso com um clima de autenticidade. A maioria das séries com temática teen soam artificiais demais em muita coisa (é como se aqueles fossem adolescentes de outra dimensão), mas isso não acontece aqui. Seja pelo texto leve e sem complexidade, pelas situações cotidianas retratadas com cuidado ou mesmo pelo elenco (que realmente consegue passar a ideia de high scholl), o universo estabelecido funciona muito bem. E, pra melhorar, conta com o diferencial de ser o espaço para desenvolvimento de uma trama mais madura e relevante. 

A montagem ajuda muito nesse ponto. As alternâncias entre passado e presente, mostrando de maneira sequencial as pessoas reagindo a uma vida após o suicídio de Hannah e a chegada da garota à cidade e a escola ajudam a modelar o tom melancólico que a morte da garota impôs a vida de todos, mesmo aqueles com quem ela não tinha exatamente uma grande relação – algo que faz sentido, visto que a maioria dos personagens ali possui entre 15 e 17 anos e se não seria fácil ver alguém dessa idade morrer de outra forma, um suicídio faz com que a coisa ganhe uma amplificação que assusta. O tom de Hannah nas fitas é claro: Todas as pessoas citadas ali podem ter alguma ligação direta ou indireta com sua decisão e para Clay – e também para os outros que ainda não sabemos quem são  que receberam as fitas –  isso certamente traz o peso do mundo para os ombros.

A sutileza com que esses assuntos são tratados é, talvez, o grande trunfo daqui. Graças a um roteiro construído no tom, sem excessos ou didatismos, a série consegue tratar tanto do suicídio quanto de outros problemas que concernem a adolescência (pais superpreocupados, slut shaming, síndrome do outsider) de uma maneira leve, mas que acerta em cheio e joga uma luz para a discussão desses temas. É possível perceber uma preocupação em não banalizar assuntos tão importantes (algo que muita, mas muita série teen MESMO sempre acaba fazendo) e que precisam cada vez mais ser discutidos em sociedade.

Mas é claro, nada disso funcionaria sem um bom elenco e, nesse ponto, 13 Reasons Why também é um acerto. Katherine Langford é o destaque, construindo diversas Hannah’s em um mesmo episódio: Conhecemos a garota assustada que acabou de se mudar pra cidade e não conhece ninguém, a menina que se interessou pelo cara popular do colégio (e se decepcionou)… e aquela Hannah que gravou as fitas, a Hannah decidida a tirar sua vida por motivos ainda desconhecidos. Que Langford consiga conferir personalidade, verdade e vida a todas elas é algo de se elogiar, especialmente para alguém de pouca idade (sem preconceito algum, mas a maioria das protagonistas de séries teens tendem a ser bem fracas). Hannah possui um tipo de magnetismo que consegue nos manter preso a sua história e sem o qual, talvez, nada do que eu elogiei antes funcionaria.

Dylan Mennite também é outro que mostra-se um grande acerto de escalação. Pelos seus trabalhos anteriores, já dava pra saber que o garoto era bom, mas foi uma ótima surpresa ver o tom melancólico e entorpecido que ele usou para construir Clay. Ele não é simplesmente alguém que perdeu a garota que gostava; é um garoto atormentado pelas escolhas que cometeu durante os momentos em que conviveu com Hannah… alguém que, no fundo, morre de medo de ter sido responsável direto ou indireto pelo suicídio dela, alguém que, no fim do dia, é apenas um adolescente assustado, guiado por instintos estabelecidos por uma sociedade ruim em sua essência, mas que possui um coração gigante – e que agora, se encontra atormentado. Pela perda. Pela dor. E pela culpa enorme que carrega nos ombros (e no olhar baixo e triste), mesmo sem saber sua parcela de participação nela.

Por todos os ângulos que se olhe, 13 Reasons Why é um acerto. Trilha sonora no tom, texto acertado, ótimas atuações e uma história que tem tudo pra fazer pensar, refletir e emocionar. Estávamos precisando de algo assim na TV, e por isso mesmo, só nos resta mais uma vez, agradecer a Netflix por existir. Vamos maratonar?!


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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