“Se você estiver interessado em histórias com finais felizes, vá procurá-las em outro lugar. Nesta história não há um final feliz, nem começo feliz e poucas coisas felizes entre uma coisa e outra.”
Inspirada na saga de 13 livros, escrita por Daniel Handler sob o pseudônimo de Lemony Snicket, Desventuras em Série finalmente chegou à Netflix, para uma temporada de oito episódios. A expectativa era gigantesca, afinal além dos fiéis leitores dos livros, a história já era conhecida do grande público, em função do filme estrado por Jim Carrey, em 2004. Sendo assim, fico contente em afirmar que a obra não decepciona, porém, dificilmente conseguirá agradar a gregos e troianos.
Em seu primeiro episódio – Mau Começo: Parte Um – somos apresentados aos irmãos Baudelaire. Violet (Malina Weissman), a mais velha, tem 14 anos e uma incrível engenhosidade para invenções. Klaus (Louis Hynes), o filho do meio, é um leitor voraz, algo que lhe confere uma grande inteligência. E Sunny, a caçula, é um bebê com dentes afiados e sempre pronta para morder o que estiver em seu caminho. Após a morte dos pais, em um incêndio misterioso, os órfãos são obrigados a morar com seu parente mais próximo, o sinistro Conde Olaf (Neil Patrick Harris) e uma série de infortúnios começa a se desencadear em sua vidas.
Com uma premissa simples, uma estética interessante – na qual o elemento fantasioso recebe destaque – , um elenco competente e uma excelente trilha sonora, Desventuras em Série consegue captar a atenção do público e encantar. É fácil se envolver com a história dos órfãos, que formam um grupo de crianças espertinhas e adoráveis, e o gancho deixado pelos últimos minutos certamente despertará a curiosidade. Além disso, o Conde Olaf, a qual Neil Patrick Harris dá vida, merece destaque e elogios. A presença dele em cena é sempre marcante e apresenta a quantidade certa de extravagância, sem jamais perder o tom. Há ainda a necessária áurea de ameaça e maldade, que o fazem funcionar como principal antagonista da trama.
Ainda assim, como nem tudo são flores, os diálogos, longos e rápidos, que abusam de um vocabulário nem um pouco simples, podem fazer com que algumas pessoas achem difícil acompanhar a história e acabar afastando parte do público. A presença de um narrador personagem é outro elemento que dificilmente agradará a todos. Embora eu tenha achado extremamente interessante ver a figura de Lemony Snicket personificada em cena, especialmente pelo modo como isso remete aos livros, há quem tenha se incomodado com as aparições repentinas e um tanto quanto pomposas do senhor em questão. Não acredito essas questões sejam necessariamente problemáticas, mas certamente são elementos que irão gerar controvérsia.
De qualquer forma, gostei bastante de tudo o que foi apresentado até aqui. A química entre os três irmãos é maravilhosa, o humor está no tom certo e a caracterização de cenários e personagens merece incontáveis elogios, conferindo à série uma identidade própria e remetendo constantemente à ideia de sonho, ou seja, algo se equilibra entre a fantasia e a realidade. Mau Começo: Parte Um funciona como um episódio de estreia e introduz muito bem a história dos órfão e aquele que será o maior vilão da trama, além de nos dá certeza, desde de seus primeiros minutos, que muita coisa ruim vem por aí. E esse é exatamente o espírito da série!
Observações:
— A abertura é simplesmente maravilhosa!
— Como lidar com a fofura da baby Sunny?