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Free Agents

Por: em 18 de setembro de 2011

Free Agents

Por: em

 

 

Remake de série britânica, comédia da NBC, sarcástica, urbana, de humor rápido, com  ótima trilha sonora, bom ritmo e boas atuações. Tem como dar errado? Tem. Free Agents provou isso logo em seu primeiro episódio. A total falta de apelo desta fraca estreia da NBC justifica a baixa audiência de seu piloto e faz dela mais uma dessas séries passáveis que estreiam a cada nova fall season e são canceladas alguns episódios depois sem causar grande revolta ou comoção, apesar dos bons nomes envolvidos e de suas inegáveis qualidades.

Free Agents é uma sitcom convencional centrada na vida particular de dois executivos do ramo das Relações Públicas. Helen (Kathryn Hahn, de Hung e Crossing Jordan) está fragilizada pela repentina perda de seu noivo e Alex (Hank Azaria, que já atuou em Friends e dubla The Simpsons), pelo seu recente divórcio. A série acompanhará os desdobramentos do relacionamento sexual-amoroso desses dois colegas de trabalho extremamente mal resolvidos e suas tentativas de se restabelecerem emocionalmente.

Além de Azaria e Hahn, a série conta com Anthony Head, nosso querido Rupert Giles de Buffy, no papel do chefeStephen Caudwell, que ele já havia interpretado na versão original da série, além de Joe Lo Truglio (Sons of Tucson, Children’s Hospital) como o peculiar guarda Gregg. A produção é dirigida por Peter Lauer (ChuckPushing Daisies,Scrubs) e Todd Holland (Twin Peaks, Malcom in the Middle), escrita por Chris Niel (que escreveu a versão britânica), Ira Ungerleider (FriendsHow I Met Your Mother) e John Enbom (Veronica Mars, Party Down) e tem produção executiva deKenton Allen (de Friday Night Dinner).

Se você se animou com a notícia de que a NBC produziria uma nova workplace comedy, não se engane: a nova produção não se parece nada com as queridinhas The Office e Parks and Recreation. Descrita durante o TCA Awards como uma “anti-comédia romântica“, Free Agents chegou a ser comparada com Mad About You por seu protagonista: “E se Paul e Jamie não tivessem dado certo?“, disse Hank Azaria. Na ocasião, um dos produtores adiantou que a firma onde os personagens trabalham foi imaginada para ser um ambiente que reúne a todos eles, e não o foco da série, que nunca teria uma estrutura de “caso da semana”.

E se pensou que, pelos nomes de peso envolvidos, teríamos uma comédia do nível de 30 Rock ou Community, se enganou de novo: Free Agents não é tão inspirada quanto as outras produções da casa. Apesar do visível esforço da equipe, o que a série entregou em sua estreia foi um episódio piloto sem grandes momentos. Parece que os roteiristas estavam tão preocupados em escreverem um texto ágil e cheio de boas sacadas e referências que se esqueceram de provocar o riso. A sitcom tenta adaptar o tipo de humor alternativo e rápido visto nas outras séries da NBC para uma série de comédia convencional, e o resultado é comicamente pobre.

A sensação de mais do mesmo se faz incomodamente presente durante os vinte minutos de episódio. Crises de meia idade, relacionamentos amorosos mal resolvidos, workaholics, pessoas com um estilo de vida acelerado, relacionamentos casuais e puramente sexuais, a vida em grandes cidades vista de uma ótica desprovida de romantismos, personagens caricatos e cheios de maneirismos e excentricidades… tudo que você pode encontrar em qualquer comédia hollywoodiana pós-2005. E não haveria mal nenhum na utilização de clichês da história recente de Hollywood se a série soubesse como trabalhar com eles, mas tudo parece artificial e sem nem um pingo de originalidade.

Além de todos esses defeitos, Free Agents também é falha na tentativa de atrair audiência – o que chega a ser surpreendente para uma série que fala essencialmente sobre sexo. Os números alcançados pelo piloto foram preocupantes até mesmo para os padrões da NBC, e é raro o caso de uma série que consegue manter o índice de seu piloto (e em se tratando da emissora do pavão, a tendência é que a audiência caia com o passar do tempo). É claro que, devido a temática, a série tem chances de alcançar um relativo sucesso, mas não vejo-a tendo vida longa dentro da emissora.
 A adptação americana tem muito o que aprender com a versão original britânica: na Free Agents protagonizada por Sharon Horgan e Stephen Mangan, a proposta da dupla disfuncional de colegas de trabalho é bem melhor apresentada. A série usa o humor negro e aquele tipo peculiar de comédia que só os britânicos sabem fazer (quem já assistiu The Office UK sabe do que eu estou falando) para construir o relacionamento dos protagonistas, deixando-o mais engraçado e verossímil. Toda a carga excessiva de lugares-comuns também é dispensada, e ao contrário da versão da NBC, os coadjuvantes não são destoantes e efusivos: podem não ter grande destaque no show, mas não atrapalham. Apesar das várias semelhanças com o piloto da série original, a principal diferença entre as duas é a inteligência e a naturalidade da sitcom do Reino Unido: lá, tudo flui melhor.

Mas a americana não tem só defeitos. Os protagonistas são muito bons e seus intérpretes são suficientemente carismáticos, o elenco é ótimo e tem bastante química, a trilha sonora é de primeira e algumas piadas funcionam. Além disso, o hábil trabalho de edição e roteiro dão a sensação de que o episódio passa em um piscar de olhos: o bom ritmo é uma das características que a série deveria manter. Mas essa sensação de que tudo está sendo feito com extrema boa fé não me satisfez enquanto telespectador: quando assisto a uma comédia da NBC, quero terminar o episódio dizendo “nossa, que genial” e não “nossa, que simpática“.

É justo ressaltar que as séries de comédia da emissora que estão no ar atualmente e são bastante aclamadas pela crítica (as já citadas 30 Rock, Community, Parks and Rec e The Office US) também patinaram em seu início e demoraram um pouco para mostrar a que vieram, mas temo que Free Agents não terá esse tempo. Meu conselho? Não se apegue. As chances de cancelamento são altas e, se ele não acontecer, a série pode ficar cada vez mais parecida com uma produção do Chuck Lorre para agradar o grande público. Se você não assistir, pelo menos por enquanto, não estará perdendo muita coisa. Espere até a temporada 2011-2012 acabar e, se a sitcom ainda estiver de pé, dê uma conferida. Está longe de ser um lixo completo e tem grandes chances de surpreender enquanto comédia, mas se você estiver em busca de uma comédia de qualidade e se sentiu atraído pelo tema de Free Agents, assista à série original: parece que estamos diante de um novo caso onde a americanização não fez bem a uma boa ideia.


João Miguel

Bela Vista do Paraíso - PR

Série Favorita: Arquivo X

Não assiste de jeito nenhum: Reality Shows

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