

Com o fim de Girls, a Netflix mais uma vez prova que não está no mercado para brincadeira. A sua nova aposta é Girlboss, uma comédia baseada no livro de Sophia Amoruso, lançado em 2014. Com 13 episódios de 30 minutos em média, a série traz moda, empoderamento feminino, muita loucura e diversão – tudo isso em uma única pessoa.
Para quem não conhece, Sophia Amoruso é a mente por trás da Nasty Gal. Com seus vinte e poucos anos, ela teve uma epifania sobre a vida e descobriu o emprego dos seus sonhos: vender roupas vintage em uma lojinha no eBay. Em apenas sete anos, a lojinha evoluiu para um site e chegou, logo depois, conquistou duas lojas físicas em Los Angeles. A série mostra esse início de carreira, em que Sophia ainda lutava pela sobrevivência enquanto começava a construir seu império. E se engana quem pensa que é um guia de negócios ou uma produção de autoajuda descarada. Girlboss é sobre a vida e os conflitos internos de Sophia diante de diversos pontos, desde o relacionamento com os pais até sua decisão de largar os estudos.
Em muitos aspectos, Sophia pode parecer uma completa babaca – e aqui se encontra a tênue linha entre seu espírito de “girlboss da própria vida” e a completa falta de noção. Pelos relatos de sua vida pessoal, é verdade mesmo que ela pegava comida do lixo e roubava lojas em San Francisco. Ela não foi a mocinha que sempre fazia tudo correto para agradar outras pessoas e, olha só sociedade, ela chegou onde chegou com seu jeito “fora da caixa”. Uma coisa é fato: Sophia é a pessoa mais louca que você vai encontrar na vida e ela em nenhum momento foge de sua essência, no melhor e no pior, inclusive. Ela não fazia ideia de como gerir um negócio e aprendeu tudo sozinha, tem essas e outras qualidades que vão aparecendo aos poucos.
Ainda assim, ela continua destratando os outros e desafiando o mundo de uma forma que ultrapassa os limites do respeito – o que não é em si um defeito da série, convém dizer, apenas faz parte do comportamento da personagem. O jeito com que ela lida com o pai é o maior exemplo disso, e já relatado no início de sua trajetória. Ela é retratada como uma pessoa real e pessoas reais podem ser muito chatas também. E, por mais contraditório que possa parecer, é essa a intenção de Girlboss. Em um momento você vai amar a espontaneidade de Sophia e talvez segundos depois vai querer que ela suma do mapa para sempre.
O primeiro episódio se mostra tão caótico quanto a conduta dela. E acredito que seja esse o ponto em que a série peca. As duas primeiras cenas são bem desconexas. Não me entenda mal, são fundamentais para compreender o estilo de vida de Sophia, mas poderiam ter sido “costuradas” de uma melhor forma. E, é claro, a cena da conversa com a velhinha é uma das melhores e mais emblemáticas que já vi na vida (é spoiler se a Netflix postou no Facebook também?).
A trilha sonora é um espetáculo. Com toda certeza, a série não seria tão interessante sem esse detalhe. Vem na medida certa para casar com o espírito rebelde e aventureiro de Sophia e, à medida em que passam os episódios, nota-se uma evolução – ou seja, se você viu o primeiro episódio e já achou incrível, pode esperar que tem muito mais vindo por aí! É exatamente aquele tipo de trilha que chega a empolgar mais que a história em si e, quando você vê, já está entregue e viciado.
O elenco trás algumas surpresas também. Britt Robertson tem uma performance incrível na pele de Sophia e soube interpretar as loucuras da empresária sem se perder no meio do caminho (afinal, não é incomum ficar algo exagerado no fim das contas, né?). Além disso, temos a presença de ninguém menos que Rupaul – ele interpreta um vizinho de Sophia e não poderia estar melhor.
Outro ponto que mais chama a atenção nos créditos do episódio é a participação de Charlize Theron na produção executiva. A história de Sophia e principalmente Girlboss Foundation (projeto que a empresária criou para fomentar o empreendedorismo de mulheres ao redor do mundo) foram a grande motivação para que ela se aliasse a Netflix para fazer a série acontecer. Em suas palavras: “eu amo a ideia de que devemos encorajar as garotas não sentir que, mesmo aos 19 anos, são muito novas para seguir seus sonhos”.
Em termos gerais, Girlboss é uma ótima pedida para quem gosta de séries com mulheres fortes e comédias com personagens densos. É a história de uma mulher que criou um império a partir do nada e quer mostrar que Sophia não é apenas a própria chefe no âmbito profissional, mas em todos os aspectos da vida. Apesar de se “vender para o capitalismo” muitas vezes em nome da sobrevivência, ela não deixou de ditar as regras e encorajar outras mulheres a fazer o mesmo. O ritmo poderia ser melhor, cortando algumas cenas arrastadas. Mas acredito que tenha futuro e que dê uma bela maratona.
Já viu algum episódio de Girlboss? Vai dar uma chance? Vem comentar suas primeiras impressões aqui com a gente!