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Primeiras Impressões: Inhumans

Por: em 2 de outubro de 2017

Primeiras Impressões: Inhumans

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers pesados,

siga por sua conta e risco.

Marvel’s Inhumans foi anunciada como filme em 2014, numa intenção mercadológica da Marvel/Disney provar que sabia o que estava fazendo com seu universo cinematográfico, numa nítida resposta para um anuncio da Warner na mesma época. Após o avanço de muitas produções, o filme foi descartado e alocado como série, tendo seu conceito apresentado pela série em andamento Agents of S.H.I.E.L.D. Criada por Scott Buck (Dexter) para a ABC, a série tem como premissa contar os acontecimentos da família real dos Inumanos, raça humana que ao ter contato com um gás extraído de um cristal, desenvolve poderes, muito parecido com os X-men, tendo cada personagem seu poder especifico.

Obviamente a série não é uma cópia de X-men, afinal, ambas tiveram seu conceito apresentado nos quadrinhos, pela mesma empresa na mesma década de 60. Entretanto o esforço de tornar os inumanos no universo cinematográfico da Marvel populares, obriga-nos a pensar que a companhia do Mickey só o faz por não ter os direitos de filmagem da equipe de mutantes.

Mas a série veio prometendo muito, a ABC tem uma parceria com IMAX para apresentar o primeiro episódio nos cinemas americanos, e dar a sequência na televisão. A idéia é que o formato do IMAX, com telas enormes e qualidade absurda de imagem e som, valorizasse a série.

E a primeira sequencia de seu primeiro episódio representa exatamente essa vontade, promessa e seu resultado geral. Vemos a Lua, gigante, descemos pelo espaço entrando no planeta Terra, até encontrarmos a pequena ilha do Hawaii. Temos uma perseguição, a câmera lenta é usada para que uma adolescente fugitiva pise em uma poça de lama espalhando gotas sujas, e os capangas genéricos sguem com a chuva atrapalhando suas visões por dentre a mata. Pronto. É isso. É o que tem de bom no episódio: dois takes de pés enlameados, pois logo em seguida ela encontra um outro inumano (Triton, Mike Moh de Empire) que tenta “resgata-la” com um diálogo muito pobre. O resgate resulta na adolescente morta, e ele ferido caindo de um penhasco. CORTA! Cena de sexo desnecessária do Rei e a Rainha dos Inumanos, e a partir daí a série tenta apresentar os personagens.

Raio Negro (Anson Mount, de Hell on Wheels) é o Rei de Attilan, cidade escondida na Lua onde os Inumanos habitam. Como poder, ele possui uma voz tão potente que qualquer som que emitir pela sua boca, pode ser fatal. Para se ter um personagem principal sem falas, esperava-se um ator com carisma, uma presença de rei imponente e relevante, mas o ator só sabe fazer cara de assustado a todo instante. Me lembrou o Pat Monahan se esforçando para interpretar nos clipes do Train, é de dar dó.

Medusa é a rainha dos Inumanos, também com atuação fraca, Serinda Swan (Ballers), parece incomodada de estar na série, e quando uma cena exige alguma emoção, como quando confronta o cunhado, ou tem sua cabeça raspada, as cenas são pessimamente dirigidas, o que não ajuda em nada. Carolina Dieckmann continua sendo a melhor atriz a perder o cabelo na televisão. E por falar em cabelo, ela nem devia ter sofrido tanto com a perda, afinal nitidamente aquilo era uma peruca daquelas que se compra em balneários pequenos em época de carnaval.

Mas Swan ainda faz um excelente trabalho, se compararmos com Isabelle Cornish, interpretando Crystal. Ela é a dona do Dentinho, um cão bulldog gigante que consegue se teletransportar. A personagem é importante no momento da traição que a família sofre, pois é o cão que salva os demais personagens, mas a atriz simplesmente não consegue entregar. Entendo que olhar para uma bola verde e fingir falar com algo é difícil, mas tenho certeza que os outros personagens eram interpretados por pessoas reais, por que toda aquela dificuldade?

Mais uma decepção é Gorgon (Eme Ikwuakor) o chefe da segurança do reino. Ele tem pernas de touro, e pode criar uma onda de choque com os pés, tipo um protótipo de terremoto localizado. Bem, foi o que deu para entender do CGI barato. Apesar de ser chefe de segurança, depois de ser salvo por havaianos surfistas, em dois minutos de conversa com eles, já revelou a localização do reino que tenta proteger.

Ken Leung (Lost) interpreta Karnak, e leva bem o personagem que tem o poder de calcular os movimentos e acontecimentos, entretanto o seu poder é pobremente expressado com desenhos fosforescentes na tela.

Por fim podemos falar de Iwan Rheon (Game of Thrones), um desperdício de ator na série, que interpreta Maximus, irmão de Raio-Negro, que aplica um golpe de estado e se torna o rei do local. Ao ponto que ele seu plano em prática, a família real já te irritou tanto, que você torce para ele virar o Ramsay Bolton de volta e matar todo mundo.

Vou ignorar Ellen Woglom, uma cientista que manda um “Mars Rover” para a lua. O robô dela bate na redoma que protege a cidade dos inumanos, os militares ficam bravos com ela, que é demitida e passa a ter cenas inúteis.

Com o golpe de Maximus, os Inumanos da família real vão parar em Hawaii, cada um em um ponto da ilha, e tentam se reencontrar. Além do festival de personagens desnecessários, a trilha sonora é muito mal colocada – orquestrada e alta em momentos desnecessários, talvez tentando por emoção que faltou na atuação, ou tentando ganhar ar de importância para a série.

Além disso a direção de Roel Reiné tenta dar valor para a imagem do IMAX, inserindo diversos planos abertos mostrando a grandiosidade da cidade inumana, mas o problema é que não há o que mostrar. As paredes são de concreto envelhecido, cinza, opaco. Mas não se pode reclamar de unidade na produção, as paredes combinam muito com as roupas da maioria dos figurantes de Atillan, sendo elas ou cinzas, ou couro pretas (lembra que comparei com X-Men? Os primeiros filmes sempre foram criticados por não usarem as cores dos quadrinhos, e os personagens só terem roupas de couro preto, bem, aqui isso fica bem referenciado). E os diálogos são tão desinteressantes que depois de umas duas trocas de palavras me sinto na sala do Charlie Brown, ouvindo a professora falar “Bó bóbóbóbó”.

O principal problema do episódio duplo é esta falta de cuidado com a obra que se tem na mão. Pequenos detalhes incomodam demais. Raio-Negro tem alguns sinais de mão para se expressar, mas o mesmo sinal corresponde a dois comandos diferentes, ele chega na Terra criando confusão, tudo bem que LIBRAS é difícil de um morador da Lua conhecer, mas sinais com a mão são bem compreensíveis (meus sogros foram para a Rússia sem falar sequer em inglês e conseguiram até pegar metrô, e pedir frango no restaurante) não é assim tão difícil de se fazer entender.

Quando despenca no meio da rua com um Dentinho, algum turista tira uma foto do rosto de Raio-Negro com um smartphone, ele demonstra estar horrorizado com tamanha tecnologia, duas cenas depois outro personagem transforma a pulseira comunicadora que todos usam em um objeto muito semelhante.

No desfecho do episódio temos uma luta corporal entre Medusa e Auran (Sonya Balmores – capanga de olhar intenso), que parece ser filmada por dois adolescentes em um estacionamento de supermercado.

Em resumo, a série com certeza será cancelada em sua primeira temporada. Não há o que salvar alí. Se o foco era trazer conhecimento do publico para mais uma de suas revistas “B“, Marvel’s Inhumans só conseguiu rebaixar a história para uma Série C, sem esperança de bater na popularidade séries adolescentes como Arrow, ou adultas como Demolidor, e muito menos sua par Agents of S.H.I.E.L.D. .

Pelo menos as portas abrem sozinhas com um barulho que me faz lembrar as do filme do Guia do Mochileiro das Galáxias.


Francisco Zotto

Formado em administração, assisto quase tudo que apareça com o título de "episódio piloto", fã de Hockey, Star Wars e Dave Matthews Band.

Curitiba/PR

Série Favorita: Spaced

Não assiste de jeito nenhum: Inhumans

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