Quando a HBO te chama para ver, em primeira mão, a estreia de 2 séries, você larga tudo e sai correndo sem nem olhar para trás. Fui saltitando assistir Divorce e Insecure. Porém, devo admitir que foi Divorce o chamariz principal para mim. Na verdade eu nem sabia do que se tratava Insecure, então foi sem nenhuma expectativa que vi esse piloto e tive uma agradável surpresa.
Em Insecure, acompanhamos Issa (Issa Rae, da web-series Awkward Black Girl), uma jovem negra que trabalha em uma ONG para crianças da periferia, que está em um momento de questionamento em sua vida. É a única negra em seu trabalho (destinado à pessoas, em sua maioria, negras) e seu relacionamento de 4 anos está estagnado. Sua melhor amiga, Molly (Yvonne Orji), é uma advogada corporativa de sucesso, que brilha em sua empresa, mas tem uma vida amorosa porcaria e se sente diminuída toda vez que alguém se dá bem no amor.
Em uma primeira vista, se trata de mais uma série sobre amigas buscando o amor – e em um certo nível, não deixa de ser verdade – mas é muito mais do que isso. Se trata de ser minoria em um mundo que não lhe aceita e quer apenas que você se encaixe e seja o mais neutro possível. É sobre manter a sua essência intacta ao mesmo tempo que temos que agir do modo esperado pela sociedade para conseguirmos sobreviver. É sobre escolher a sua amiga ao invés de ir atrás de macho. É sobre empoderamento. É sobre sororidade.
Issa não sabe para onde sua vida deve ir e é essa busca que vamos acompanhar. Vale a pena tentar alterar uma relação de 4 anos sem nenhuma perspectiva de futuro ou é melhor largar tudo e ir atrás de um ex namorado que leu o texto do Gregório Duvivier e mandou um “oi, sumida!” no dia do seu aniversário? Deve continuar com seu trabalho mediano, mas que pode mudar a vida de muitas pessoas, ou ir atrás de seus sonhos e investir nas rimas que gosta de fazer escondida no banheiro de sua casa? A busca por um significado da vida é a dúvida que todo jovem tem e é esse ponto que deve conquistar o público – a identificação com essa mulher que, mesmo fragilizada e perdida, não se deixa abater e segue em frente.
A trilha sonora é maravilhosa – se você gosta de Hip Hop. Em vários momentos eu me peguei balançando a cabeça, mas não consegui reconhecer nenhum música em específico (não que eu seja um super conhecedor, mas senti que, ou são de artistas desconhecidos da grande mídia, ou que são mais antigas, o que não é exatamente ruim). O trailer conta com a última música da Missy Elliot, portanto, espero apenas melhoras nesse quesito. O episódio é um pouco escuro, mas é explicável pelo fato de muitas cenas se passarem em clubes. Imagino que teremos uma iluminação melhor, principalmente quando acompanharmos o trabalho com as crianças da ONG.
O que me preocupou um pouco foi a linguagem utilizada. Por ser um show sobre negros e para negros, as falas são cheias de gírias e palavras de baixo calão (começando pelo título dos episódios, o piloto se chama “Insecure as Fuck”, que pode ser traduzido como “Insegura para cara**o”). Se você não tem um bom domínio de inglês e não está atualizado com as novas gírias da comunidade negra americana, terá muita dificuldade em entender o que elas estão falando. Porém, o publico acostumado a séries da HBO não sentirá desconforto nenhum com esse vocabulário, digamos… forte.
O show tem potencial para agregar um grande público, se pegarem um pouco mais leve na linguagem. O publico americano é muito preconceituoso e imagino que terão dificuldade de absorver tanta cultura negra. Agora, se você gosta de boa música, de mulheres independentes e fortes, vai se deliciar acompanhando o desenvolvimento de Issa e Molly.
Insecure estreia de 09 de outubro, à meia-noite e meia, na HBO, mas já está disponível para quem tem HBONow e HBOGo.
