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Primeiras Impressões: Justiça

Por: em 21 de agosto de 2016

Primeiras Impressões: Justiça

Por: em

Spoiler Free!

Este texto não contém spoilers,

leia à vontade.

A Globo estreia na próxima segunda-feira (22) a minissérie Justiça, de Manuela Dias, com um elenco de nomes bastante populares, como Debora Bloch, Cauã Reymond, Marjorie Estiano e Adriana Esteves. O primeiro episódio foi disponibilizado dois dias antes para assinantes do Globo Play, e os próximos serão liberados na plataforma online horas antes da exibição na TV. É um formato ousado, sinal de que os veículos tradicionais estão começando a entender a importância da liberdade de escolha do espectador. Mas essa é apenas uma das boas surpresas que a série guarda, e elas são muitas.

vicente

Quem assiste a Game of Thrones sabe que o episódio 9 é sempre especial, tem um orçamento maior, a direção é mais caprichada e o momento mais esperado da temporada sempre vai acontecer ali. Guardadas todas as devidas proporções, o episódio 1 da dramaturgia da Globo é equivalente ao episódio 9 de GoT. Eles sempre começam jogando todas as fichas, mesmo que a qualidade acabe caindo nos dias e semanas seguintes – herança talvez da tradição das novelas com suas barrigas e núcleos que só existem para fazer volume. Mas isso é papo para mais tarde! Porque a estreia de Justiça conseguiu superar as expectativas e mostrou que é um produto diferente e muito superior ao que costumamos encontrar na TV aberta brasileira.

A série terá quatro grandes plots que se alternam e a história é retomada sempre no mesmo dia da semana (segundas, terças, quintas ou sextas). Todas mostram personagens que passaram sete anos na cadeia e questionam o sentido de justiça que existe por trás de cada sentença. O caso das segundas é o de Vicente (Jesuíta Barbosa), condenado por matar a noiva, Isabela (Marina Ruy Barbosa). Toda a ação se passa em Recife, no mesmo espaço de tempo, e apesar de termos quatro histórias diferentes, os elementos e personagens se cruzam em interações que podem ser muito relevantes ou muito sutis, quase como easter eggs.

O ponto mais forte de Justiça é que ela consegue desviar da maior fraqueza da dramaturgia da Globo: o didatismo. Os pensamentos dos personagens não são óbvios, não existem mocinhos e vilões e o julgamento e as conclusões do público serão quase um capítulo à parte da série. Vicente é cheio de defeitos, possessivo, violento, mimado, paranoico e machista, mas Isabela também não é o que a sociedade considera a vítima ideal – até porque a vítima ideal não existe na realidade. Ainda assim, é possível se colocar na pele dos dois e entender o que eles estavam pensando e passando para que a situação terminasse daquela forma.

elisa

Elisa (Debora Bloch) é o outro destaque do episódio, como a mãe que viu a filha ser assassinada e agora quer fazer justiça – ou vingança – com as próprias mãos. Elisa é uma personagem de presente, ela faz o público querer saber quem ela é agora, os seus próximos passos, como ela vai lidar com as suas dores no tempo atual. Enquanto a história de Isabela e Vicente parece ter tido o seu ponto alto em 2009, a Elisa de 2016 é muito mais interessante, e é justamente esse equilíbrio entre o passado e o presente, as causas e consequências, que fazem o episódio fluir tão bem do início ao fim.

A qualidade técnica da série impressiona, pela fotografia de cinema, pelas perspectivas pouco óbvias ou pela trilha sonora, invariavelmente linda, forte e muito bem colocada. Talvez falte uma pitada de coesão nesse quesito. Gosto da ideia de ter uma trilha eclética,  com Chico Buarque, Zizi Possi e Leonard Cohen para embalar uma série que trabalha com núcleos de contextos sociais e culturais tão distintos, mas eles perderam a oportunidade de criar uma identidade mais sólida para cada um desses núcleos através da música quando optaram por fazer essa mistura em um único episódio.

O elenco está bem sintonizado, todos encontraram de cara o tom ideal para os personagens e mostraram algo novo, diferente do que estamos acostumados a ver deles mesmos em outras versões. A prosódia continua sendo uma pedra no sapato da dramaturgia brasileira... é gritante a diferença do acento de Jesuíta e de Marina, por exemplo. É um ponto positivo que a ação se passe em uma capital nordestina, já que é uma trama urbana que foge completamente do estereótipo sertanejo/místico que a Globo adora usar em tudo que é gravado fora do Sudeste, mas por que não apostar em um elenco com mais nomes da região em papeis centrais? Velho Chico fez isso e o resultado foi excelente.

isabela-vicente

Lá no início do texto eu comentei que o episódio 1 da Globo costuma ser um dos melhores ou o melhor das sua séries e novelas, e a boa notícia é que essa semana todos os episódios serão “episódio 1”, já que vamos conhecer a cada dia a história de alguém, do zero.  Vai ser divertido ir atrás das conexões, encaixar as peças que faltam em alguns núcleos com as cenas de outro. Não vou entrar em detalhes neste post sobre os detalhes da trama de Vicente, vamos guardar o debate para a review semanal.

Se você já assistiu ao piloto de Justiça, comente aqui as suas primeiras impressões. Se ainda está em dúvida se vale a pena ligar a TV na segunda à noite, pode colocar um despertador para não esquecer, porque vale muito a pena conferir!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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