É sempre um pouco decepcionante quando uma produção que poderia ser genial acaba sendo apenas divertida para tentar atingir uma maior parcela do público, na busca de sucesso comercial. Mesmo sendo este o caso do novo cartoon da Fox, seu piloto é válido enquanto uma tentativa de aliar a excêntrica comédia alternativa que agradou a comunidade geek ao clássico estilo cômico consagrado por Matt Groening e Seth MacFarlane, e pode ser uma boa pedida tanto para os fãs do filme quanto para quem curte as animações do canal.
Napoleon Dynamite é um filme cult de 2004 sobre a vida do personagem título, um garoto pouco convencional de Idaho, produzido pela 20th Century Fox. Quando os executivos da Fox Entertainment Group decidiram transformá-lo em uma série animada, não faltou gente que torceu o nariz. A preocupação dos fãs era que a adaptação fosse uma comédia mainstream que não seguisse o padrão cômico do filme, já que ele não agradaria a audiência da Fox, o que implicaria em uma perda de qualidade. E foi exatamente isso o que aconteceu, o que não quer dizer que a animação Napoleon Dynamite não mereça ser assistida.
Os personagens são os mesmos do filme – e o mais bacana: são dublados pelos atores que os interpretaram no cinema. Napoleon (Jon Heder) é um adolescente esquisito que vive contando vantagens e se acha destinado a grandes feitos, Kip (Aaron Ruell), seu irmão mais velho afeminado, também parece não ter noção do quanto é estranho e se sente um grande pegador pelas namoradas que conhece pela internet, Rico (Jon Gries), o tio deles, é um ex-jogador de futebol americano frustrado que agora vive tentando ganhar dinheiro de maneira fácil, a avó de Napoleon (Sandy Martin) criou seus netos, que ainda vivem com ela, e é irônica e mal encarada, Pedro (Efren Ramirez) é o melhor amigo de Napoleon, um sereno mexicano presidente de classe, Rex (Diedrich Bader) é um treinador de Taekwondo e Deb (Tina Majorino) é uma garota doce, porém não menos esquisita, que está apaixonada por Napoleon.
No primeiro episódio, Thundercone, Napoleon lida com os efeitos colaterais de uma pomada para alergias (este é um 
plot “dominó”, típico de The Simpsons, onde uma coisa vai desencadeando a outra) e Kip conhece pessoalmente a nova namorada que ele conheceu pela internet. Isso mesmo, fã do filme: nada de Lafawnduh. O cartoon não continua a história de onde ela parou, ele segue uma trama alternativa onde o fim do filme simplesmente não aconteceu. Isso pode ser frustrante, mas permite aos roteiristas trabalharem com os personagens da maneira como os conhecemos no filme, ignorando as mudanças do final.
De sua fonte, a série preserva os personagens, os cenários, os acontecimentos do início e do meio… e é isso. Não assista procurando aquele humor lento, descabido, meio constrangedor e que satiriza produções dos anos noventa. A animação é como uma série do Adult Swin, só que com os personagens (e algumas referências) do filme (só senti falta da zoação com temas polêmicos). Decidindo trilhar este caminho, Napoleon Dynamite corre dois riscos: o de não satisfazer a fanbase do filme e o de parecer uma animação adulta genérica, semelhante demais às já estabelecidas da Fox. E é aí que eu sinto que a série acertou.
Os criadores Jared Hess e Jerusha Hess (que também idealizaram o filme) conseguem utilizar os elementos e personagens do filme para conferir identidade à animação. O humor está longe de ser tão inteligente quanto o de Family Guy e ela não é tão original e singular quanto Archer, mas Kip, a lhama, o Rex Kwon Do, etc. tornam-na distinguível em meio a tantas animações sobre pessoas disfuncionais – e o principal: te faz querer continuar assistindo. Alie isso a um roteiro que tem boas sacadas aqui e ali (“The Quarterback Detective”, “nipple twist reversed”, “outta my way, fence”, “he has no faaace”) e você tem uma estreia promissora, que pode continuar na grade da emissora por anos (a audiência foi muito boa, considerando-se a concorrência com a NBC, que apresentava a premiação do Golden Globe).
Napoleon Dynamite não é nenhuma preciosidade, nada tão awesome quanto o filme. Mas é simpática, divertida, agradável, “ok”. Se seguisse os passos do filme, poderia chegar a ser uma comédia tão relevante quanto Community ou Parks and Rec são hoje em dia (sem exageros), mas a Fox optou por uma alternativa mais segura, e ainda assim obteve um bom resultado, no quesito entretenimento descompromissado. É um prato cheio para quem gosta de animações do gênero (e não, ter assistido ao filme não é um pré-requisito para entender e gostar da série), mas também é indicado para quem adorou o filme: mesmo com uma proposta cômica diferente (e pobre, se comparada), assistir a esses personagens semanalmente vale a pena, e o cartoon é bom o suficiente para merecer uma conferida. Fique com o promo:
P.S.: A namorada do Kip, no primeiro episódio, foi dublada pela Amy Poehler, de Parks and Recreation.
