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Pan Am

Por: em 26 de setembro de 2011

Pan Am

Por: em

 

 

Em 14 de Março de 1927 era fundada a Pan American World Airways, uma companhia aérea que se tornaria a principal e mais conhecida, até o fim de suas operações, em 04 de Dezembro de 1991. O nome Pan Am foi um ícone cultural do século XX, enquanto seus pilotos e comissárias de bordo eram vistos como aventureiros, independentes, e por vezes, estrelas. A companhia ficou famosa por usar o termo clipper para designar cada uma de suas aeronaves. Até no Brasil a Pan Am fez sucesso. Em 1930, a NYRBA foi incorporada a companhia, mudando o nome para Panair do Brasil, uma das pioneiras e, novamente, mais conhecidas do ramo.

A proposta de Pan Am, nova série da ABC, é recriar o glamour da companhia aérea durante a década de 60, mostrando o dia-a-dia de seus pilotos e comissárias de bordo, envoltos em tramas políticas e de espionagem. Como estão falando redes sociais afora, Pan Am é um perfeito escapismo para quem procura um drama de época com personagens carismáticos e uma trama que pode gerar muita aventura a bordo das aeronaves.

Antes de tudo e mais importante: não tente comparar roteiro e personagens com Mad Men. São séries diferentes, com propósitos divergentes. Isso posto, todo o visual de Pan Am tem um ar mágico. O uso do chroma key é ruim, como quase toda série da ABC, mas em Pan Am, ele lembra Pushing Daisies, com aquela fantasia dos cenários digitalizados, recheados de cores fortes e brilhantes, convidando o telespectador a embarcar nessa viagem junto com os personagens – trocadilho não intencional. Mas mágico por que não existe? Não, isso tudo existe. Aliás, o cenário dos anos 60 pareceu real, assim como toda a ambientação história. Figurino, objetos, todo o cuidado foi feito para que soubéssemos em que ponto da história mundial estamos. Existe uma cena de flashback que se passa em Cuba, na qual o piloto Dean comenta sobre a Baía dos Porcos, cenário de uma tentativa de invasão americana pela CIA, em 1961.

Os flashbacks, aliás, serão usados constantemente, para nos mostrar a vida desses seis personagens principais: seus passados e os motivos que os levaram a entrar para a Pan Am. Li sobre uma comparação da série com Lost, e confesso que ela é bastante realista. Os personagens estão confinados a um mesmo espaço (nesse caso as aeronaves) e suas vidas se entrelaçam quando aterrissam em novos lugares, lhes dando a liberdade de se transformar em quem desejam. Não existem limites para esses funcionários fora dos aviões. Eles são livres para suas escolhas. Mas dentro da Pan Am, precisam seguir regras e acabam perdendo sua liberdade.

É ai que entra a questão da independência feminina. Um dos diálogos finais desse episódio mostra o piloto e o co-piloto do avião recém inaugurado Clipper Majestic, conversando sobre as comissárias. Eles falam que elas são novas espécies de mulheres, mas que ainda não sabem disso. O impulso para conhecer o mundo as impede de se casar – e consequentemente – ficar no chão (a Pan Am tem uma política de que as comissárias deixam a companhia quando fazem 32 anos, ou se casam). Sabemos que, historicamente, a década de 60 foi a grande virada para as mulheres. Pan Am trata de isso de forma balanceada e firme. Ao mesmo tempo que elas começam a ganhar sua liberdade e tomar suas decisões, ainda estão presas pela última palavra masculina ou de alguma outra mulher a quem respondem.

Os contrastes desse assunto são bem abordados. Enquanto uma delas se entristece por descobrir que o homem que ama tem família, sucumbindo ao papel de amante; outra entra de cabeça no mundo da espionagem, onde é necessitada, mas responde aos homens. Esse contraste fica ainda mais claro com o novo piloto Dean, que também é enganado por uma mulher, perdendo para uma figura feminina. Os tempos estão mudando, e Pan Am – pelo menos nesse piloto – mostra que saberá exibir essa transformação.

Os personagens são carismáticos, e a medida que formos conhecendo cada um deles, ficará melhor. As comissárias de bordo eram vistas como aventureiras, por vezes negativamente, por outras, de uma forma positiva. Eram modelos para pequenas moças que sonhavam com a liberdade, mesmo que ela não existisse 100%. No centro de tudo está Maggie. Ela era o que naquela época era chamado de comissária de bordo, enquanto as outras mulheres eram as aeromoças, que respondiam a comissária. Maggie é inteligente e independente. Gosta do que faz, e o faz bem. O único problema é que sua personalidade para por aqui, porque não lhe foi dado muito tempo em cena nesse piloto. O que é irônico, visto que Maggie é interpretada por ninguém mais, ninguém menos do que Christina Ricci. Sou fã da atriz desde meus tempos de infância assistindo A Família Addams, com sua interpretação sensacional como a pequena e assustadora Wandinha. Ela é a estrela da série. Mesmo com poucas cenas, Ricci foi Ricci, e não há nada de ruim nisso. Ela tem presença em cena, e cativa o telespectador.

O centro do episódio piloto ficou mesmo com as outras três aeromoças, cujo passado foi rapidamente mostrado através de flashbacks. Laura e Kate são irmãs. Essa última já era aeromoça quando sua irmã fugiu do casamento para se tornar uma delas. Existe uma disputa óbvia entre as duas, visto que Laura conseguiu atenção rapidamente mesmo Kate tendo muito mais experiência. O melhor dessa trama é que aqui o roteirista Jack Orman insere o plot de espionagem. Quem melhor para enganar clientes do que a sedução de uma aeromoça sexy? Se essa parte foi melhor aprimorada, poderá adicionar mais telespectadores para a ótima audiência de 10 milhões.

Como espionagem está quase sempre ligada com política, esse lado também é trabalhado em Pan Am, como na cena em Cuba, na qual uma aeronave da companhia é enviada para tirar cubanos do poder de Fidel Castro. Não digo que a cena não tenha sido estranha, mas dentro do conceito da série – de que o poder da Pan Am influencia tudo e todos – faz sentido. Ainda não sabemos muito sobre toda essa storyline, além do fato de que ela tem como pano de fundo a Guerra Fria, que estava acontecendo na época. Mas seria muito bom abordá-la de forma coerente, engrandecendo a trama. O cenário de Cuba foi palco para um dos grandes acontecimentos da vida do novo piloto Dean, personagem carismático, apaixonado e sonhador. Ele faz contraste com o co-piloto Ted, mulherengo e mais pé no chão.

A última aeromoça é Colette, uma francesa que coleciona amantes em todos os lugares onde aterriza, mesmo que se apaixone por um deles vez ou outra. O elenco é muito bom. As atrizes dão um charme a parte para suas personagens. Kelli Garner está no papel certo. Sexy e poderosa, a aeromoça sabe passar o medo de entrar em territórios novos em sua vida, ao mesmo tempo que luta com a ascensão de sua irmã em um local que já era seu. Margot Robbie é igualmente boa como a ingênua Laura. O ruim foi que Karine Vanasse, tão boa no papel de Colette, não tenha tido muita opção para mostrar mais. Os dois pilotos são interpretados por Mike Vogel e Michael Mosley, que não são nenhum Jon Hamm, mas fazem o trabalho direitinho.

No fim, Pan Am tem diversos caminhos para tentar percorrer. Acredito que condensá-los e mostrar um pouco de cada em cada episódio pode render uma série realmente boa. Por vezes será necessário explorar mais o lado da espionagem do que os romances das aeromoças, mas misturar essas tramas pode continuar mostrando o charme que a série tem. O piloto não identifica especialmente qual caminho será trilhado, e talvez tenha sido isso que instigou minha vontade de ver mais. De qualquer forma, vocês poderão acompanhar as reviews de Pan Am semanalmente, comigo, aqui no Apaixonados por Séries.


Caio Mello

São Bento do Sul – SC

Série Favorita: Lost

Não assiste de jeito nenhum: Séries policiais

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