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Prime Suspect

Por: em 3 de outubro de 2011

Prime Suspect

Por: em

Sem spoilers.

Um dos mais aguardados dramas da nova safra da TV americana, Prime Suspect vem com a missão de ser um sopro de ar puro para os procedurals da TV aberta. A série prometeu explorar casos policiais de um ponto de vista diferenciado, mostrar a vida de policiais de maneira realista e humana, levantar discussões sobre sexismo, corporativismo e ética profissional e ser suficientemente atraente para ameaçar a audiência das já estabelecidas The Mentalist e Private Practice na noite mais competitiva da televisão na terra do tio Sam, além de desvencilhar-se da imbatível produção que a originou. Em seu piloto, a série conseguiu fazer tudo isso mantendo um ótimo ritmo e destacou-se nesta fall season de estreias medianas.

Em 7 de Abril de 1991, estreava no canal britânico ITV o drama policial Prime Suspect, protagonizada pela sempre excelente Helen Mirren, baseado na carreira de Jackie Milton, inspetora da Scotland Yard. A singularidade da criação de Lynda La Plante já começava por seu formato: ao invés dos tradicionais seis episódios das produções do Reino Unido, as temporadas do seriado eram divididas em duas ou três partes que exploravam o mesmo caso. Vencedora de BAFTA, Emmy, Peabody, Edgar e Globo de Ouro, Prime Suspect apresentou um novo conceito de cop show, servindo de inspiração para The Closer e influenciando qualquer série policial com protagonista feminina pós-anos 90.

Vinte anos depois, a NBC estreia um remake produzido por Alexandra Cunningham, com Maria Bello no papel de Jane Timoney, novata no Departamento de Polícia de Nova York em constante conflito com seus colegas de trabalho, interpretados por Kirk Acevedo (Fringe), Brian O’Byrne (FlashForward), Tim Griffin (Grey’s Anatomy) e Aidan Quinn (Weeds), entre outros. A nova série vendia-se como uma versão mais divertida e moderna da original, perdendo em densidade para ganhar enquanto entretenimento.
Além do completamente justificável preconceito existente contra procedurals americanos, o maior desafio que a série enfrentou logo de cara é a Prime Suspect de Helen Mirren e companhia. Entenda: aquilo é o mais próximo da perfeição que a TV já chegou no gênero policial. As atuações, o clima noir e carregado, o drama, os casos investigados, era tudo irretocável. E, como o objetivo de uma versão norte-americana de um show do Reino Unido é, invariavelmente, torná-lo mais mainstream para satisfazer as exigências do telespectador americano comum, tentar superar a série original seria um delírio da parte dos roteiristas. O máximo que o novo seriado poderia fazer para não desaparecer perante sua versão UK seria mostrar-se uma alternativa mais leve e dotada de certa originalidade. Nisto, a nova Prime Suspect não poderia ter acertado mais: ao invés de uma cópia torta do drama de La Plante, ela desenvolve-se de maneira independente, mostrando que trilhará um caminho mais parecido com a já citada The Closer.

Os efeitos desta adaptação para o american way of life estão mais acentuados nos personagens, que a princípio, parecem versões estereotipadas de suas contrapartes britânicas, mas mostram-se mais complexas durante o desenvolvimento do episódio. A policial durona e bitch – candidata a figurar entre as personagens femininas mais poderosas da TV – mostra-se fragilizada, os brutamontes machistas revelam sensibilidade e compaixão e até a ex-mulher frígida tem alguns podres a serem revelados. Fica claro que o drama não conseguirá se manter interessante por muito tempo se continuar explorando a misoginia dentro do departamento de polícia para sempre – seria como se The Good Wife ainda girasse em torno do escândalo com as prostitutas – mas acredito que a mudança de pauta acompanhará a evolução do seriado.

Entretanto, esta nova Prime Suspect ficou devendo em profundidade dramática e em despertar interesse pelo caso do episódio. Entendo que este não seja o foco da série, mas nem como pano de fundo a investigação funcionou. Adoro o blues/rock do Black Keys, mas senti que as músicas da dupla fizeram um desserviço à série, acentuando desnecessariamente o quão bad ass é a personagem de Maria Bello. Além disso, existem grandes chances deste piloto não ter passado de um início inspirado e do seriado passar a ser mais um procedural passável que só faz volume na programação norte-americana, sem acrescentar nada de novo ao subgênero.

Apesar destes defeitos, o piloto me deixou com aquela sensação de querer continuar assistindo os episódios seguintes ininterruptamente. A apresentação da série foi instigante e causou-me empatia imediata, além de ter lançado tramas bastante promissoras. Apesar delas não escaparem de alguns chavões da teledramaturgia, havia realismo e plausibilidade nas situações mostradas, principalmente no que diz respeito ao “caso da semana” e às cenas de ação, que conseguem tirar o fôlego sem apelarem a exageros jack-chânicos. O roteiro é sagaz e enxuto, sem perder tempo com diálogos “enche-linguiça”, e as atuações são de alto nível. A icônica caracterização da protagonista é outro acerto da produção.

Se a série original é indispensável, a americana é no mínimo interessante. Pelo menos em seu piloto, assistido por 6,5 milhões de pessoas  (bom número, para os padrões da NBC), Prime Suspect US cumpriu o que prometeu e mais acertou do que errou, mostrando-se merecedora de toda a badalação por parte da crítica especializada.  É difícil prever se o seriado terá vida longa, e ele pode até se perder no caminho, mas seu início foi extremamente promissor. A obra prima protagonizada por Helen Mirren não deve eclipsar o mérito da versão de Maria Bello: esta pode ser a grande estreia dramática da TV aberta este ano.


João Miguel

Bela Vista do Paraíso - PR

Série Favorita: Arquivo X

Não assiste de jeito nenhum: Reality Shows

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