Sleepy Hollow é uma adaptação do conto clássico de Washington Irving, que ficou mais conhecido pelo grande público depois da versão cinematográfica “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”, estrelada por Johnny Depp e Christina Ricci e dirigida por Tim Burton. Mas a série tem pouquíssimos pontos em comum com a obra literária e com o filme, porque é ambientada nos dias atuais e traz elementos de bruxaria, cristianismo, história e fantasia.
Logo nas primeiras cenas, vemos o destino de Ichabod Crane (Tom Mison) se cruzar com o de um cavaleiro com a marca de um arco na mão. Em meio a uma batalha da guerra da independência dos Estados Unidos, Crane é atingido pelo machado do cavaleiro, mas antes de desfalecer consegue decapitá-lo. Uma passagem de tempo acontece e Ichabod acorda em uma caverna em Sleepy Hollow, o ano é 2013. Ele não desperta sozinho, o cavaleiro decapitado também aparece na cidade e começa uma matança em busca de sua cabeça. A culpa das mortes provocadas pela criatura sobrenatural acaba caindo sobre Crane, e assim ele conhece a tenente Abbie Wills (Nicole Beharie).
Abbie vê seu parceiro ser decapitado pelo cavaleiro e, apesar de uma hesitação inicial, acaba acreditando que Ichabod veio do passado e está conectado de alguma forma com as visões de fatos sobrenaturais que ela e sua irmã tiveram quando eram mais jovens . A policial também descobre que o seu parceiro guardava uma série de evidências que apontavam para os acontecimentos recentes, e percebe que o cavaleiro sem cabeça é ninguém menos que um dos quatro cavaleiros do apocalipse, e que ela e Ichabod Crane são as duas testemunhas descritas pela bíblia.
Ichabod descobre que sua esposa, Katrina (Katia Winter), era uma bruxa que fez um feitiço para salvar sua vida, mas quando seu sangue se misturou ao do cavaleiro, suas almas se conectaram e um só despertou quando o outro também voltou à vida. Agora a sua missão é impedir que o cavaleiro recupere sua cabeça e traga o caos ao mundo.
A trama é tão absurda quanto parece, e como se não bastasse misturar literatura, religião e ficção em uma trama policial, o roteiro tenta dar um tom de comédia junto com o suspense e o drama naturais do enredo. A verdade é que Sleepy Hollow tinha tudo para dar errado, mas de alguma forma a combinação de elementos aparentemente opostos resultou em um piloto divertido, instigante e que rende bons momentos de entretenimento em meio aos sustos e risadas.
Um dos principais erros, no entanto, foi a escolha do elenco. Tom Mison abriu mão de toda a excentricidade – marca registrada de Ichabod – para transformar o personagem em um galã na tela, enquanto Nicole Beharie abusa das caretas e em nenhum momento parece acreditar no próprio texto (ok, eu também não acreditaria, mas enfim…). Ou a dupla de protagonistas ajusta melhor o tom de suas atuações, ou será muito difícil para o público se conectar com seus personagens e com a mitologia da série, que já é delirante o suficiente.
Para bem ou para mal, o destaque do piloto ficou para a forma como conseguiram juntar fatos históricos como a guerra da independência e a abolição da escravatura nos EUA com elementos fantásticos de apocalipse, maldições e conspirações, e não dá pra deixar de citar a grata surpresa de ouvir os Stones com a deliciosa Sympathy for the Devil na trilha sonora. Se você procura uma série para levar a sério, Sleepy Hollow definitivamente não é a escolha ideal, mas se o que você procura é algo leve, imprevisível, capaz de proporcionar uma hora de descontração semanal, certamente esta é uma boa opção.
A recepção parece ter sido boa, já que a estreia teve ótimos números, com um piloto que marcou 3.5 na demo, e foi assistido por mais de 10 milhões de telespectadores na TV americana!
