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Primeiras Impressões: The Deuce

Por: em 20 de setembro de 2017

Primeiras Impressões: The Deuce

Por: em

A HBO está desesperada para encontrar alguma forma de manter o público conquistado por Game of Thrones. São várias as tentativas para encontrar a formula perfeita. Westworld tem pegada forte no quesito fantasia (de faroeste, mas é fantástica). Para atacar na frente erótica, chega The Deuce.

Criada por David Simon e George Pelecanos (ambos de The Wire) a série retrata a indústria pornô de Nova York nos anos 1970 e 1980, época em que a pornografia foi liberada nos Estados Unidos.

Reprodução/HBO

Vincent Martino (James Franco) é um barman que vive sendo confundido e cobrado pelas dividas de seu irmão gêmeo Frankie. Após encontrar a esposa em um bar e saindo com outros homens, ele decide abandonar a família e se mudar para um quarto de hotel barato utilizado pelas prostitutas em Times Square.

Essa é a base de operações de Candy (Maggie Gyllenhaal), prostituta que desafia os padrões da região por insistir em trabalhar sem um cafetão, o que lhe coloca em constante perigo, mas lhe proporciona uma liberdade que nenhuma de suas colegas de profissão possuem.

Ainda há muitos outros personagens, como o cafetão C.C. (Gary Carr), que tem fala amável, mas não hesita um usar violência para disciplinar suas “protegidas”; Lori (Emily Meade) uma garota recém-chegada de Minnesota e imediatamente recrutada por C.C.; Darlene (Dominique Fishback) uma prostituta dividida entre se entregar à sua natureza inocente e ser abusada por seu cafetão violento; e Abigail “Abby” Parker (Margarita Levieva) uma universitária aventureira que inicia um relacionamento com Vincent.

A ambientação histórica está maravilhosa e todo o departamento de arte está de parabéns. Mesmo as cenas abertas passam com clareza que estamos na década de 70 e é possível sentir a sujeira e a decadência inerentes à indústria. As roupas são lindas (na medida do possível) e o tratamento a maquiagem e cabelo foram impar. A abertura é uma maravilha e está em pé de igualdade à abertura de True Blood, intercalando cenas do dia a dia de Nova York com a vida podre de prostituição e sexo fácil em Times Square.

Reprodução/HBO

Quanto às atuações, não há do que reclamar. Não é possível identificar uma atuação que esteja fora do tom, por menor que seja a participação do personagem. Eu já prevejo que Maggie Gyllenhaal será a estrela maior da equipe e é muito provável que James Franco receba louros pela interpretação dos gêmeos, mas, pelo menos por enquanto, não trouxe nada de diferente do que já vimos dele em outros papeis. Outra que deve se destacar é Jamie Neumann com sua desiludida Ashley.

A trilha sonora não foi muito marcante nesse primeiro episódio, não bela baixa qualidade das músicas (vejam a lista completa ao final do texto), mas pela escolha estética da diretora, que utilizou o silêncio em demasia no episódio. A escolha foi sensata, utilizada para desglamurizar a prostituição, mas desperdiçou a força de músicas tão marcantes.

Uma das minhas maiores preocupações com a serie era exatamente essa: de que forma vão abordar temática tão delicada sem que pareça uma propaganda pró-indústria do sexo. Penso que conseguiram encontrar um balanço bem saudável. Em nenhum momento vemos as profissionais dizendo como suas vidas são incríveis e que estão realizando um sonho de sucesso. Ainda não sabemos sobre o passado de todas as prostitutas, mas pelo menos Candy nos mostrou que faz seu serviço como forma de sustentar a família e vemos claramente a desilusão com sua realidade.

Infelizmente, é exatamente por isso que as coisas ficam um tanto quanto monótonas. Por exemplo, em uma cena da Candy, o app da HBOgo travou por uns 20 segundos e eu fiquei esperando a cena continuar, porque o silencio e a falta de movimento não me pareceram algo incomum e se encaixou perfeitamente com a falta de fluxo da cena. São várias as partes em que a monotonia se prolonga em excesso. Para um episódio de 85 minutos, segundos preciosos são desperdiçados com os personagens contemplando a vida.

Reprodução/HBO

Outro ponto que me incomodou é a expectativa de violência. Foram apenas duas cenas em que a violência se concretiza, mas são muitos os momentos que ficam no “quase”. O problema é que a situação dramática serve apenas para causar desconforto, não há nenhuma lição ou moral para aprendermos. The Handmaid’s Tale também é difícil de digerir, mas é uma crítica, é tridimensional. The Deuce é apenas chocante para causar burburinho.

Falando em choque, as cenas de sexo foram quase todas gratuitas. Até eu cheguei a me incomodar com a quantidade de pênis de silicone mostrados (espero muito que sejam de silicone, pois um dos atores é claramente menor de idade). A única que faz sentido é quando Candy dá uma aula de visão empresarial para seu cliente que reclama do valor do “repeteco”. E claro, a bunda do James Franco sempre é uma visão bem vinda.

Candy parece que será a redentora da narrativa. Enquanto Vincent fica reclamando da traição da esposa ao mesmo tempo que transa com a garçonete de seu bar, Candy gerencia suas atividades noturnas e tenta não se deixar cair em depressão para que seu filho tenha uma vida digna. Todas as suas cenas estavam ótimas e é uma das poucas que me deixaram interessados em acompanhar seu destino.

Reprodução/HBO

The Deuce é uma série muito bem produzida e tem uma história bem concisa, mas não tem nenhuma mensagem mais profunda. Como fonte de entretenimento é uma pedida perfeita. Não me impressionou muito, porém, acho que se deve mais ao estilo de séries que me interessam. A audiência do primeiro episódio não foi nada extraordinária (somando a exibição online e televisionada chegou a 2 milhões de expectadores, bem distante dos 9 milhões da primeira temporada de Game of Thrones), mas tem potencial para crescimento, demonstrado pela renovação tão imediata.

Para aquecer os motores, ouçam essa soundtrack cheia de jóias dos anos 1970:


As musicas abaixo não estão disponíveis via Spotify:

O que acharam do primeiro episódio de The Deuce? Gostaram da história? Acham que James Franco está melhor do que eu avaliei? Há membros prostéticos de menos ou em excesso? Deixem suas opiniões nos comentários.


Paulo Halliwell

Professor de idiomas com mais referências de Gilmore Girls na cabeça do que responsabilidade financeira. Fissurado em comics (Marvel e Image), Pokémon, Spice Girls e qualquer mangá das Clamp. Em busca da pessoa certa para fazer uma xícara de café pela manhã.

São Paulo / SP

Série Favorita: Gilmore Girls

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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