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Primeiras Impressões: The Good Doctor

Por: em 27 de setembro de 2017

Primeiras Impressões: The Good Doctor

Por: em

À primeira vista, The Good Doctor pode parecer apenas mais uma série médica na grade da ABC, mas é só olhar com um pouco mais de atenção que já é possível perceber que não é nada disso. Ela já se difere do que estamos acostumados a assistir em sua premissa, que promete nos apresentar Shaun Murphy, um brilhante cirurgião que tem autismo e savantismo, o que o torna único no grande hospital em que vai trabalhar. Seu desafio não será apenas superar as limitações sociais associadas a seus transtornos, mas também driblar o ceticismo e preconceito de todos que o rodeiam – e acreditam que ele não conseguirá. Já em seu piloto, a série, que é baseada em um drama médico coreano, mostra a que veio e nos apresenta um material de qualidade que, se continuar assim, será difícil de ignorar – se você abstrair os clichês do gênero, que o roteiro não fez questão de abandonar.

Divulgação/ABC

Antes de mais nada, o talento de Freddie Highmore (o Norman, de Bates Motel) deve ser destacado, não porque era desconhecido ao público, mas porque sua presença foi uma das grandes estratégias de divulgação da série. Mais uma vez, ele mostra sua capacidade de mergulhar em um personagem complexo e nada previsível. Nas expressões corporais e visuais de Freddie, os sentimentos de Shaun ganham peso e chegam a se tornar palpáveis. Cada vez que a vida real não condiz com o arranjo mental do médico, ele se sente confuso e perde o chão e foi na perfeita interpretação de Highmore que a série me ganhou. Mesmo que o roteiro fosse ruim (o que não é), eu ainda escolheria continuar a assistir à série, para desbravar e descobrir mais sobre este personagem. Confio que David Shore (criador da série que tem um grande sucesso médico no currículo: House) me entregará, no mínimo, um grande protagonista – como aconteceu com House durante muito tempo.

Divulgação/ABC

Contudo, também é neste grande protagonista – ou melhor, na representação dos seus transtornos – que mora minha maior preocupação com a série. Freddie já declarou em entrevista que “nós todos sentimos uma grande pressão [de representar um autista], uma responsabilidade que temos que ter com as pessoas que tem autismo de fazer Shaun da forma mais autêntica possível e, ao mesmo tempo, compreender que ele é um único indivíduo e não deve representar todos os autistas do mundo porque este é um desafio impossível”. Mas aí, ao mesmo tempo que o roteiro minimiza as questões do transtorno de Shaun, também as coloca em um enorme holofote, deixando uma confusão em quem está assistindo. Claro, este é apenas o primeiro episódio e pode ser que a série encontre o tom ideal em algumas semanas, mas por enquanto fica o sabor agridoce daquela reunião de diretoria – que em muitos momentos causou vergonha alheia, afinal, não eram todos médicos ali? O mínimo que se espera de médicos é que eles saibam como lidar com um autista de uma maneira profissional e madura. E nem vamos entrar no mérito de que eles estavam discutindo os prós e contras da contratação de uma pessoa que já estava em seu primeiro dia.

Como em qualquer procedural, era necessário ter um caso da semana para manter a estrutura da série. O caso era muito bom e serviu para demonstrar toda a competência de Shaun enquanto cirurgião, principalmente para os diretores do hospital que debatiam se ele deveria ou não ser contratado, mas o suspense criado pelo mesmo não foi mantido ao longo do episódio, pois sempre era cortado pelas cenas da reunião. Normalmente, o suspense das séries médicas consegue ser mantido mesmo nas trocas de cena ou personagem, mas não foi o caso de The Good Doctor, que dividiu os momentos de expectativa com as cenas da já mencionada reunião e grandes clichês do gênero – relacionamento secreto entre membros da equipe de um mesmo hospital não é nenhuma novidade para quem teve a oportunidade de assistir E.R, Grey’s Anatomy, Private Practice, House ou qualquer outra série médica que já tenha sido produzida. Não que o uso de clichês seja necessariamente ruim, mas neste caso poderia ter sido melhor escrito, criando uma empatia do público com relação a estes personagens, o que é a alma do negócio. Afinal, a série favorita de alguém não é feita apenas com um bom protagonista, mas também com personagens principais, secundários e, até mesmo, participações especiais bem escritas e que inspirem identificação.

Divulgação/Liane Hentscher/ABC

Para balancear todos os conflitos que precisavam ser resolvidos no piloto, não só o caso do dia, mas também conquistar a atenção e o carinho do público, para que volte na próxima semana, a série escolhe um ritmo mediano para contar sua história, que não se arrasta e nem assume uma cadência frenética. Essa escolha é justificada não só pela grande quantidade de elementos que precisavam ser apresentados no tempo ‘presente’ do roteiro, mas também pela excessiva presença de flashbacks. Entende-se que, para criarmos um laço com Shaun, precisamos conhecer seu passado, tudo o que lhe afetou e culminou na pessoa que ele é ‘hoje’. Se bem explorado, este recurso pode fazer maravilhas pelo roteiro, mas existe uma linha muito tênue entre um bom flashback e um grande desperdício de tempo de episódio – qualquer um que assista Arrow pode atestar isso – e resta a nós ficarmos na torcida para que The Good Doctor se encaixe na primeira opção. O que acontecerá, neste caso, só o tempo dirá. Não são poucas as vezes em que os pontos fracos do piloto são ajustados ao longo dos primeiros episódios da série, o que dá novo fôlego não só à produção, mas também ao público, que está sempre ávido por novas histórias.

Em resumo, The Good Doctor se revelou uma boa história com um excelente ator. A experiência de David Shore no comando de uma grande série do gênero tem muito a somar, principalmente se conectarmos as limitações sociais dos dois protagonistas, que são completos opostos, basta que a produção queira encontrar a fórmula perfeita. Ela pode estar muito mais próxima que parece, basta fazer alguns ajustes aqui e ali, principalmente diminuir a quantidade de clichês e adicionar carisma aos personagens que convivem com Shaun. Eles não precisam gostar do bom doutor, mas nós precisamos gostar deles, conectarmo-nos com eles. Por enquanto, Freddie e Shaun seguram a peteca e conseguem nos manter em frente à tela. Mas até quando?


E você, gostou da série? Dará uma chance ao novo projeto de Freddie ou acha que sua cota de séries com um médico com problemas de socialização já foi cumprida com House?


Renata Vivan

Curiosa por natureza. Chata por vocação. Social media por paixão. Designer de Interiores em formação por inquietação Viciada em séries e novela por culpa da prima que a largava na frente da TV para poder namorar.

Palhoça/SC

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Walking Dead

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