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Punho de Ferro – O elo fraco da parceria Marvel/Netflix

Por: em 8 de abril de 2017

Punho de Ferro – O elo fraco da parceria Marvel/Netflix

Por: em

Estreou este mês, a nova série da Marvel/Netflix, Punho de Ferro. Na trama, Danny Rand sofre um acidente de avião no qual perde seus pais e é resgatado por Monges de K’un-Lun, um lugar místico que não faz parte da Terra, está em outra dimensão. No monastério, ele recebe treinamento e ganha o poder do “Punho de Ferro”, que é o guerreiro que guarda o portal para K’un-Lun. Dado como morto, Danny retorna para Nova York 15 anos depois e tenta reaver a sua parte nas empresas Rand, abrindo mão da sua missão como “Punho de Ferro”. Então, descobre as relações excusas da Rand com “O Tentáculo”, um tipo de sindicato do crime. Em meio a tudo isso, há Joy e Ward Meachum, os herdeiros do outro sócio da Rand, Harold Meachum que também é dado como morto, mas vive preso num apartamento luxuoso em Nova York sob ordens do Tentáculo.

Desde que a Netflix e a Marvel iniciaram uma parceria, foram desenvolvidas obras como Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage. As três séries foram, cada uma a sua forma, sucesso de crítica. Demolidor tem roteiro e direção impecáveis, Jessica Jones cria uma metáfora para as relações abusivas e Luke Cage conversa com o cenário político americano recente. É difícil ignorar que parte do sucesso destas séries está no debate de temas importantes como justiça social, feminismo, capacitismo, racismo e outros. Embora tenha momentos divertidos, a nova série que integra o universo dos defensores, Punho de Ferro não consegue alcançar o nível de suas predecessoras e, em parte, o motivo é que a série falha em abordar qualquer tema de natureza social para focar num drama familiar que não comove.

O principal problema parte do cânon da sua contraparte nos quadrinhos. Danny Rand faz parte de uma enormidade de personagens brancos que absorvem a cultura oriental. Se na época da criação do personagem esta questão não era importante, agora há muito debate em torno do assunto. Recentemente, filmes como Ghost in the Shell (que contratou uma atriz branca como protagonista), Doutor Estranho (que tirou o papel de um homem asiático para entregar para uma mulher branca) e A grande Muralha (que perpetua a figura do salvador branco) foram criticados pelo chamado White-Washing, fenômeno no qual personagens cuja cor ou cultura não são brancas, são interpretados por atores e atrizes brancos. Esta tendência mostra que o público e a crítica exigem maior diversidade mas histórias e maior abertura do mercado para profissionais que não são brancos, estejam eles à frente ou atrás das câmeras.


Um dos nomes cotados para o papel de Danny Rand foi o de Lewis Tan, que acabou ficando com o papel de Zhou Cheng (por sinal, a Tan foi responsável pela melhor sequência de luta da temporada). Se um sino-americano interpretasse Danny Rand, em primeiro lugar, estaríamos falando de alguém com uma história de imigração na família. Este cenário já torna a série mais relevante por causa do contexto político americano em relação aos imigrantes. Em segundo lugar, o personagem ganharia camadas ao retornar para a China, a terra de seus ancestrais, e se reapropriar da cultura. A repercussão do personagem para os milhões de imigrantes orientais pelo mundo seria enorme. Entretanto, mesmo mantendo-se fiel ao material original e decidindo por um personagem branco, Punho de Ferro poderia ter feito um trabalho melhor na escalação do protagonista. Finn Jones não conseguiu segurar a carga dramática do personagem, entregando um Danny Rand um tanto sem personalidade. Mesmo as sequências de luta são fracas. Apesar da boa direção e das coreografias razoáveis, esperava-se mais de uma série em que o protagonista é um lutador de artes marciais treinado por 15 anos.

As melhores atuações ficam por conta do elenco feminino. As personagens Colleen Wing, Madame Gao, Claire Temple e Jeri Hogarth praticamente salvaram a temporada. A presença em cena de cada uma delas é sempre bem vinda. Contudo, todo o arco em torno de Ward, Harold e Joy é cheio de reviravoltas completamente desnecessárias e previsíveis. Claire continua sendo o elo entre todos os defensores. Porém, a integração entre as séries continua sendo um problema. Claire sabe que o Demolidor já enfrentou o Tentáculo antes, então porque ela não o chamou para ajudar Danny? Não faz sentido.

Além de tudo, Punho de Ferro apresenta a parte mais rica de Nova York, onde ficam os edifícios institucionais, os bancos, as grandes empresas. Demolidor e, especialmente, Luke Cage deram vida aos seus bairros. Hell’s Kitchen e o Harlem são quase personagens dentro da série, enquanto a zona financeira apresentada por Punho de Ferro poderia estar em qualquer grande cidade do mundo. Não há nada que conecte o edifício da Rand à cidade de Nova York.

A sensação que fica é que Punho de Ferro é uma promessa ainda não cumprida. Tudo o que poderia ser ótimo na série acabou ficando apenas razoável. Só podemos esperar que os erros possam ser corrigidos e os acertos amplificados na próxima temporada. Mesmo assim, Punho de Ferro está acima da média como série de herói, mas não tem o mesmo impacto daquelas que compõem o universo dos defensores.


Mas nem todo mundo por aqui não gostou da série. Confira as reviews de todos os episódios.


Gizelli Sousa

Arquiteta, feminista, prefere uma noite de maratona de séries do que sair para a balada.

Brasília/DF

Série Favorita: The Walking Dead

Não assiste de jeito nenhum: Gilmore Girls, The O.C., One Tree Hill, Girls, Love

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