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Representação das minorias em séries de super-heróis

Por: em 7 de novembro de 2015

Representação das minorias em séries de super-heróis

Por: em

Depois de tantas lutas, pouco a pouco podemos enxergar a mudança gradual na forma como as minorias são representadas na ficção: com cada vez mais honestidade e menos preconceito, seja na TV, no cinema, nos quadrinhos… Enfim, em qualquer lugar.

Essa representação cada vez mais forte de parcelas não dominantes da sociedade é importante para que essas pessoas (que podem ser mulheres, negros, estrangeiros, LGBT’s, membros de classe sociais menos abastadas, moradores da periferia, portadores de necessidades especiais e por aí vai) se sintam incluídas nesse mundo que ainda é tão excludente e tão cruel, apesar dos avanços. Além disso ,quanto mais representações melhor, afinal, dessa forma, as pessoas não se sentirão apenas inclusos, mas terão um personagem para se identificar, admirar e torcer, um que passa pelos mesmos problemas que ela, ou, pelo menos, representa como ela se sente. É quando entramos nesta questão da identificação e da admiração que chegamos ao tema central que quero tratar aqui: a representação das minorias em séries de super-heróis.

Porque isso é importante?

Porque as séries de super-heróis nos dão um ídolo, um ícone – alguém com que podemos nos identificar e admirar, que nos inspira a ser pessoas melhores e bondosas. Os super-heróis da ficção nos inspiram a ser heróis no mundo real. Podemos não correr como o Flash ou voar e fazer outras coisas incríveis, como a Supergirl, mas ainda podemos ser heroicos, ajudando as pessoas a nossa forma e contribuindo para um mundo melhor. E como agora os super-heróis estão bombando com todo esse universo Marvel e DC tomando conta das telonas e telinhas, é mais do que esperado que tenhamos representações de toda essa diversidade que permeia o mundo. Mas, por algum motivo, isto está demorando a acontecer.

Esse é um tema delicado pois, apesar de existirem (bons) exemplos no material de base, eles demoram a ser transpostos. E o que nós não queremos é que esse personagem seja gratuito. Não queremos que ele (ou ela) seja a personagem da cota. Queremos personagens importantes, que mudem o status quo, que sejam insubstituíveis e carismáticos. E eles existem nos quadrinhos, mas em que cantos sombrios eles se escondem no MCU ou no DCUniverse? Afinal, quem nunca se perguntou porque ninguém ainda teve a (brilhante, diga-se de passagem) ideia de fazer uma série dos X-Men? Uma com atores em carne-e-osso? Me pergunto toda semana. Eu poderia me estender até os cinemas, mas este é assunto para outro dia, vou me até a TV e usar como exemplo as séries mais comentadas hoje em dia no gênero (e também as que eu posso escrever sobre).

Arrow

Arrow é uma série que merece nosso respeito, independente dos seus erros e altos e baixos nas temporadas porque, sem ela, talvez não tivéssemos essa nova onda de séries de super-heróis. Antes do Arqueiro chegar, tivemos muitas tentativas fracassadas e até mesmo alguma que nem chegaram a sair do papel, entre elas uma série das Aves de Rapina, grupo de super heroínas derivado do universo das histórias do Batman, em 2002. A série, protagonizada por três mulheres e tendo como vilã a Arlequina, não foi bem recebida e foi cancelada antes da temporada acabar. Uma pena. Ainda temos esperanças que o grupo seja representado em Arrow ou, até mesmo, ganhe seu próprio spin-off como Legends of Tomorrow, seria ótimo.O que esperar da 4ªtemporada de Arrow

Falando em mulheres, este é o ponto mais positivo de Arrow: várias personagens fortes. Já na primeira temporada conhecemos Shado, a mulher que salva Oliver quando naufraga em Lian Yu pela primeira vez e, nos tempos atuais, temos Moira Queen, Laurel Lance (quando ainda era “apenas” uma advogada) e Helena Bertinelli (que aliás, anda fazendo uma falta!) além das eventuais aparições da primeira Canário, Sara Lance. É nesta temporada também que somos apresentados a John Diggle, que, acredito, já é um dos personagens mais queridos da série a tempos. Diggle é o braço direito de Oliver, o guarda costas que foi contratado para vigiar um playboy e acabou fazendo parte do “original arrow team” junto com a hacker Felicity Smoak. Dos personagens negros na série, acredito que Diggle é o mais importante e nenhuma outra série de heróis tem um personagem equivalente. Mais um ponto para Arrow.

Durante a segunda e terceira temporadas, temos a curva de desenvolvimento de Laurel (com o alcoolismo) e Thea Queen (com as drogas entre outras coisas), que rendeu ótimos arcos dramáticos para a série ao passo que tornou as personagens cada vez mais fortes e admiráveis, a introdução de Nyssa al Ghul, filha do demônio, e não podia faltar, é claro,  a chefe da A.R.G.U.S, Amanda Waller, que aparece sempre para meter o Oliver numa enrascada, obrigando-o a participar de suas missões suicidas.arrow 310 - arsenal e diggle

É uma ótima galeria, mas vamos confessar: essa é a parte “fácil”, onde estão os outros personagens negros, os LGBT’s, da periferia, entre outros? Temos uma menção honrosa para Roy Haper, o Arsenal, que era um rapaz pobre do Glades e o Pantera, ex-vigilante também da periferia de Starling City, que treinou Laurel, mas não estão mais na série. Enquanto isso, a quarta temporada promete trazer nosso primeiro super-herói negro e gay com a introdução de Curtis Holt, o futuro Senhor Fantástico (Mr. Terriffic) mas que, no momento, é apenas um ordinário gênio funcionário da Palmer Tec. Nesta temporada também podemos nos alegrar com os maravilhosos Team-ups da Canário Negro com a Speedy na luta contra o crime em Star City.

The Flash

Um dos momentos mais legais nesta série foi em um determinado episódio quando o Capitão de polícia de Central City é machucado por um meta-humano e, no hospital, quando todos vão visitá-lo, um homem chega desesperado procurando-o. “Mas somente familiares são permitidos” diz a enfermeira. “Eu sou o noivo dele, isso me qualifica como familiar” ele responde, e a enfermeira o deixa passar sem qualquer mudança de expressão, esboço de surpresa ou comentário.

Porque isso é importante? Porque durante muito tempo a ficção tratou a orientação sexual dos personagens como tabu ou com surpresa, ou os julgou/representou por sua sexualidade, como se fossem apenas isso. Durante vários episódios vemos o Capitão Singh reclamar das orientações de seu noivo, mas não ficava claro para nós, que assistimos que era de fato um homem, pois a palavra em inglês não tem gênero (inclusive, ponto para os americanos), a revelação só se dá neste momento e a série trata com total naturalidade. Estamos num mundo que (ainda) é tão intolerante, que a surpresa maior não foi o personagem ser gay, e sim como ele foi representado, de maneira tranquila e não estereotipada.

Ainda na primeira temporada, outro personagem homossexual conhecido é o vilão Flautista (que segundo teorias se tornaria herói ou anti-herói no futuro), que nutria uma especie de paixão platônica por pelo Dr.Wells.

Além disso, temos todo o núcleo familiar do Barry, composto por Iris e Joe West, que são negros na série (mas não nos quadrinhos) e que eu considero uma ótima mudança. Afinal, são só a figura paterna mais importante para o personagem e seu primeiro (e durante muito tempo único) amor. Além disso, há o novo parceiro do Dr.Stein como Nuclear, Jax Jackson. Ponto para Flash. Ainda na temporada atual teremos a introdução de Wally West, que futuramente se tornará o velocista Impulso/Kid Flash. Estamos aguardando. Mas como nem tudo é perfeito, as mulheres são fracamente representadas nesta série, onde as personagens que mais aparecem são, além de Irís West e Caitilin Snow, e, apesar das personagens terem uma curva de crescimento, ainda não se tornaram exemplo. Nesta temporada foi introduzida a Detetive Patty Spivott, que além de ser cientista forense, já assumiu duas identidades de super-heroína(uma delas é a Ms. Flash) e, atualmente, é par romântico de Barry no universo New 52.The-Flash-TV-Show-Wally-West-Actor

Fazendo um rápido balanço entre Arrow e Flash. Parece que Flash começou mais inspirada e cresceu mais rápido que Arrow, que já passou dos 70 episódios mas ainda tem pouca diversidade em sua galeria de personagens. Não duvido que logo tenhamos uma personagem Drag Queen ou transformista. Se há uma série onde isso pode aparecer, essa é Flash: a menos, é claro, que a Supergirl roube esta ideia.

Agents of S.H.I.E.L.D

O ponto forte de Agents of S.H.I.E.L.D é a representação dos desajustados. Há aqui uma gama de personagens com diversos problemas, que variam do abandono, ma relação com a família, traumas pesados que os tornarão seres “desajustados” e que encontraram, nesta nova versão da S.H.I.E.L.D liderada por Coulson, uma família que os acolheu. Isso gerou um arco muito interessante com a dupla de nerds que eram tão esquisitos que eram chamados como uma pessoa só “Fitz-Simmons” e o eventual crescimento de cada um deles, sobretudo Fitz, que precisou lidar com a perda de suas capacidades motoras após quase morrer afogado.agentsshield_2x15-01

Outro ponto forte em Agents of S.H.I.E.L.D são as mulheres fortes, somente no Team Coulson, atualmente, temos a chinesa BAD-ASS agente Melinda May a.k.a “The Calvary”, conhecida por ser capaz de derrubar o maior e mais forte dos homens com suas habilidades de luta e artes marciais. A hacker Skye, que eventualmente se descobre como a inumana Daisy Johnson, a Tremor (que nos quadrinhos é, atualmente uma das mais importantes agentes da S.H.I.E.L.D) e também Barbara Morse a.k.a “Mockingbird” (Harpia, em português) outra personagem vinda direto dos quadrinhos.

Na segunda temporada, tivemos uma mulher como vilã, a mãe de Skye Daisy, Jiaying (não, não é a do Masterchef!), uma inumana de origem chinesa que era responsável por selecionar, guiar e amparar os descendentes inumanos que passassem pela nevoa terrígena. Ela tem um plot especialmente pesado em relação aos outros personagens, mesmo os mais sofridos da série, tornando-a uma personagem agridoce e interessante. E por último, mas não menos importante, temos a Raina uma charlatã que diz ser capaz de ver o futuro mas que acaba efetivamente desenvolvendo esse poder ao passar pela terrigênese, mas com um agravante: ela se torna um ser coberto por espinhos. Recentemente foi introduzida mais uma mulher de peso, Rosalind, que comanda uma organização rival da S.H.I.E.L.D na busca pelos inumanos e tem um gosto apurado para…. biografias da Margaret Thatcher. Ponto para Agents of S.H.I.E.L.D!

A introdução dos inumanos só fez bem a Agents of S.H.I.E.L.D, que cada vez mais explora a discriminação com um teor diferente, semelhante o que é feito nos quadrinhos e demais mídias dos X-Men, colocando os inumanos e seus poderes como análogos a diferenças do mundo real. Já quando se tratam de personagens negros, a série está com um certo déficit: o agente Antonie Triplett, representado como ideal de personalidade que Coulson gostaria de imprimir na nova S.H.I.E.L.D (honestidade, bondade, família), foi morto ao ser atingido pela nevoa terrígena e Raina foi morta na segunda temporada. Sobraram apenas o engenheiro Mack, introduzido após os eventos de Capitão América – Soldado Invernal afetarem a série, e o aprimorado Mike Peterson a.k.a Deathlok. Mack é um personagem sempre presente e tem uma ótima dinâmica com Daisy, no campo, e Fitz, no laboratório, ao passo que Deathlok, que é um personagem com ótimas possibilidades, raramente dá as caras.

Considerando que Agents of S.H.I.E.L.D faz parte do Universo Cinemático Marvel, a série esta indo mais do que bem, e tendo até mesmo mais representação, sobretudo das mulheres, que sua parcela cinematográfica. Mesmo nos só ganhamos uma ganhamos uma nova heroína este ano, a Feiticeira Escarlate, e a Viúva Negra quase não teve brinquedos, estatuas e outros produtos colecionáveis.

A evolução se deu a pouco tempo, com a introdução da “mulher mais mortal do universo” (pelo menos nos quadrinhos) Gamora, em Guardiões da Galáxia e da segunda Vespa, em Homem-Formiga, interpretada por Evangeline Lilly. O primeiro herói negro do MCU, o Pantera Negra só estreará em 2017, ao passo que a primeira heroina, a Capitã Marvel, só dará as caras em 2018. Por outro lado, nos quadrinhos, a fase da Marvel ganhou vários títulos interessantes, inclusive equipes inteiras de heróis representativos como a Ms. Marvel, uma adolescente muçulmana e o novo Homem Aranha, de descendência afro/latina. Esperamos que essa diversidade também seja transposta para as telas da TV e do cinema na mesma medida.

Mas isso não é tudo meus amigos da Marvel, afinal, as coisas estão mudando. Só este ano fomos presenteados com duas séries protagonizadas por mulheres, a primeira delas, Agent Carter, estreou no inicio do ano e a vindoura série da Netflix, A.k.a Jessica Jones, que promete sacudir o status quo das séries de super-heróis. Além disso, a DC também arriscou sua primeira série protagonizada por uma mulher, Supergirl, mas este é um assunto para outro dia. Como o tema é importante e extenso, elas terão um post somente para elas.

Infelizmente não pude comentar outras séries, como Gotham, iZombie e Constantine, pois ainda não conferi, mas sinta-se livre para complementar e tornar a discussão mais rica, afinal, este debate é muito mais extenso e há muito mais para comentar do que escrevi neste humilde texto. Cometi algum erro, esqueci algum personagem, algo que merecia ser dito e lembrado? Conte-me nos comentários!

 


Heitor Oliveira

Apaixonado por ficção científica, mais reverso que o Eobald Thawne e crítico de araque.

Salvador/BA

Série Favorita: Battlestar Galactica

Não assiste de jeito nenhum: Procedurais

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