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Dexter 5×01 – My Bad

Por: em 27 de setembro de 2010

Dexter 5×01 – My Bad

Por: em

Dexter

Muita gente no final da temporada passada não acreditou na veracidade daquela última cena. Era surreal demais. Quebrava (de certa forma) com o M.O. preciso do Trinity. O tempo necessário entre a Rita ser assassinada e o Dexter matar Arthur Mitchell era um pouco confuso. Mas não. A morte de Rita foi real. E muito, muito, muito devastadora. Em determinado momento do episódio, Dexter fala que não é um ser humano, é um serial killer. Mas uma coisa não nega a outra. O trabalho PERFEITO de Michael C. Hall nesse episódio não deixa a menor dúvida de que Dexter é SIM um ser humano. Ainda mais real, complexo e ferido do que aqueles que o cercam.

Durante toda a série, Rita era a válvula de escape da vida do Dexter. O tempo em que passava com ela, Dexter fingia ter sentimentos, mas fingiu por tanto tempo que aprendeu a cultivá-los de verdade. Temporada atrás de temporada, os assassinatos de Dexter foram diminuindo, mas mesmo que à primeira vista parecesse que ele só tava tentando se esconder num ambiente cada vez mais difícil de manter a sua “natureza” às sombras, no fundo no fundo, ele tava se adequando a uma vida normal com sua família. Ele se casou. Ele teve um filho. E mesmo que Arthur Mitchell provasse que era possível ter essa vida normal e ao mesmo tempo continuar com os assassinatos, Dexter aprendeu que não queria ser empurrado naquela direção. Afinal, dentro de casa, as mulheres e os filhos se apavoravam com Mitchell, e se tem uma coisa que Dexter nunca iria querer ver era Rita, Cody, Astor e Harrison sofrendo daquele mesmo jeito.

Então, quando Rita morre, é claro que Dexter se sentiria mal. Mas ele nunca foi um homem comum e o jeito que ele expressa o seu luto é completamente diferente do que a galera ao seu redor espera de um recém-viúvo. Ele não é o robôzinho que tem que fazer tudo de acordo com as regras que o impõem. O Quinn tem toda razão ao desconfiar do Dexter (até porque a antipatia vem de longa data), mas pra gente soa irritante e inconveniente pra caramba porque ele não conhece a pessoa por trás daquela máscara de frieza.

Uma das dificuldades dessa quinta temporada vai ser desviar da armadilha de acabar se transformando em um repeteco da segunda. Tirando alguns poucos detalhes, o Quinn nesse episódio foi a cópia exata do Doakes. Mas todo o contexto por volta da desconfiança em relação a Dexter é diferente. Lá na segunda temporada, ele ainda tinha algo a proteger. A vida que ele construiu com tanto cuidado ao lado de Rita e que ainda tava aprendendo a dar o devido valor era preciosa demais pra se jogar fora do dia pra noite, seja com Lila, seja com Doakes. Agora, é claro que ele ainda tem muito a perder (a irmã e o filho principalmente), mas a morte de Rita deixou um buraco tão grande que o jeito com que Dexter irá lidar com a situação deixa a temporada num clima muito mais imprevisível do que poderia parecer.

Dexter Deb

Agora não existe mais o vilão da vez. O vilão da quinta temporada tá dentro do próprio protagonista, e vai ser uma virada de mesa legal pra caramba acompanhar o sofrimento de Dexter ao tentar reajustar sua vida depois de se desiquilibrar tanto de seu eixo. A primeira reação aqui foi aquele ataque brutal pra cima do cara marrento no bar abandonado. A dor que o Michael C. Hall transmite na cena é TÃO forte. Todo aquele luto contraído ao longo do episódio explodiu num ódio gigantesco e pesado de se assistir. A cada porrada que Dexter soltava eu me contraía mais na cadeira. O melhor da série, porém, é saber que por trás de toda a brutalidade foi construída uma personalidade digna de tornar aquilo surpreendentemente compreensível.

O que quebra um pouco o clima da cena é a maneira inconveniente que a série insiste em usar o Harry. Eu odeio como ela dita tudo o que acontece na cabeça de Dexter naquele jeitão didático, como se a gente não pudesse perceber a humanidade por trás do personagem sem que ele nos explique passo a passo o porquê do filho tomar cada decisão. A forma como o Dexter, em sua mente, tá sempre pedindo por essas aparições faz sentido porque mostra toda a sua insegurança a respeito de seus sentimentos. Mas o Harry de fato aparecendo todas as vezes tá ficando muito mais redundante do que o aceitável. Já faz tempo que eu não me importo mais com o patriarca da família Morgan.

Com quem eu ainda me importo MUITO é a Deb, que fazia uma falta absurda na minha vida seriadística. Ela percebe que tem alguma coisa errada acontencendo com o Dexter — e o Quinn ao seu lado jogando as inconsistências na sua cara não ajuda. Mas a diferença óbvia dela pro parceiro de trabalho é que ela quer o bem do irmão a todo custo, e vê-lo agindo daquela maneira dá a personagem um conflito interessante demais entre descobrir a verdade e proteger a integridade de Dexter. A única coisa que me faz fechar um pouco a cara com relação a ela é o romance com o Quinn, já que parece que toda temporada é essencial que Deb tenha um par romântico. Ela — e a Jennifer Carpenter — são boas o suficiente pra carregarem histórias por si só.

Dexter pode ter aprendindo com a Rita muita coisa nesses últimos anos que a gente o acompanhou. Mas junto com a morte dela, desmorona boa parte desse aprendizado. Com as orelhas de Mickey ao contar a tragédia pra Astor e Cody, Dexter mostra que ao controlar e adequar seus sentimentos, ele voltou a ser criança, e a sua jornada no decorrer da quinta temporada pra reassumir o controle de sua vida tem potencial pra ser uma das mais empolgantes da série. Com um começo igual a esse — e levando em conta que as premieres de Dexter não costumam estar entre os meus episódios favoritos — simplesmente não tem como não colocar as expectativas lá no alto.

Triste pelo Dexter, mas extremamente feliz de poder voltar a acompanhar suas histórias.

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P.S.: Dexter não é exatamente uma série pra se derramar muitas lágrimas, mas como foi triste a cena final no enterro. Sem medo de soar exagerado, repito com a maior empolgação do mundo: Michael C. Hall é MUITO foda.

P.S. 2: Legal acompanhar como a LaGuerta quer evitar de qualquer jeito entrar em contato com a morte da Rita. Depois de toda a decepção e frustração ao descobrir (injustamente) que Doakes era o Bay Harbor Butcher, não acho que ela aguenta carregar nas costas mais um assassino em sua delegacia.

P.S. 3: Dexter comentou no começo do episódio que matou 67 pessoas (agora 68). O número é grande, mas de algum jeito eu tinha a impressão de que era ainda maior. Levando em conta o número baixo de assassinatos nas últimas duas temporadas, até que faz sentido.

P.S. 4: FBI – Fucking Bunch of Idiots. Quando eu falo que a Deb fazia falta é porque fazia MESMO. Amo essa garota.

P.S. 5: Engraçado Dexter questionar os métodos do cara da funerária, quando o Michael C. Hall era exatamente esse tipo de pessoa ao interpretar o David Fisher em Six Feet Under.


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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