Kissed By Fire e The Climb são dois episódios que, na prática, seguem o mesmo formato: Deixam de lado a ação, a guerra, as lutas físicas e continuam a história do Jogo dos Tronos com maquinações políticas e pessoais, trazendo seus personagens principais para o grande centro das atenções.
Peguemos, como primeiro exemplo, Jon Snow. O personagem mais íntegro da série está tendo que rever todos os seus conceitos e juramentos agora que, na teoria, é juramentado a Mance Rayder e seu bando de selvagens. O interessante de toda essa história (e do agora consumado relacionamento com Ygritte) é que Jon coloca em cheque as coisas em que sempre acreditou. Vê-se, nos olhos dele, que ele gosta de Ygritte, mas, ao mesmo tempo, uma parte de si ainda é fiel a Patrulha da Noite, onde ele provavelmente seria castrado ou coisa pior se fizesse alguma coisa do tipo. O questionamento que fica é: No amor e na guerra, vale mesmo tudo?
Jon não aceitaria bem uma perda de Ygritte. Enquanto eles escalam a muralha em The Climb isso fica bem claro no momento em que ela escorrega e quase encontra um fim trágico. A ligação que os dois construíram já foi além de qualquer física e Snow sabe que, ali, Ygritte é a única pessoa na qual ele pode confiar, porque era óbvio e claro que ela iria sacar que ele estava mesmo fazendo um jogo duplo cedo ou tarde. Quando comparamos a história do personagem nessa temporada e nas duas passadas, a evolução é clara. Isso é, aliás, algo no qual a terceira temporada vem se firmando muito bem: O desenvolvimento de seus personagens.
Arya é outra que ganha cada vez mais destaque. Sua conversa com Thoros e Beric em Kissed by Fire, quando pergunta se eles poderiam trazer de volta um homem sem cabeça, mostra que Arya não é mais uma criança. Ela cresceu no exato momento em que a cabeça de Ned foi arrancada. Viu que estava, teoricamente, sozinha e que teria o mundo contra ela. Este segmento, aliás, ganhou um fôlego inesperado nesses dois últimos episódios. A luta entre Beric e Cão de Caça entrou para a cena de sequências que, em minha opinião, funcionaram melhor na série do que no livro. Não consegui desgrudar o olho um minuto sequer.
A vida de Gendry em cheque dá a Arya uma nova perspectiva. Ela não confiou em Melisandre (quem confiaria?), sabe que o amigo corre perigo. O problema, aqui, é que ao mesmo tempo em que ela se preocupa com Gendry, também quer reencontrar sua família o quanto antes. Um jogo de escolhas se abre para a pequena Stark.
Diferente de Sansa. A essa, escolha nenhuma foi dada. O casamento com Loras foi um delírio adolescente e a realidade tratou de colocar a garota no chão novamente. Sansa também é uma personagem com evolução gradual. A menina mimada da primeira temporada se tornou uma prisioneira em Porto Real, não tem permissão para ir a lugar algum, é a chave para Winterfell e agora, se casará com Tyrion, outro que está perdido desde Blackwater e também nada pode fazer além de acatar as ordens de seu pai.
Lorde Tywin, inclusive, desponta como um dos grandes nomes da temporada. Os casamentos de Sansa com Tyrion e Cersei com Loras garantem, aos Lannister, a posse e aliança definitiva com o Norte e a Campina, dois dos mais poderosos sete reinos (sendo que o Rochedo já é deles). Tywin não tem escrúpulos e nem medidas; é o tipo de personagem que parece fazer tudo que estiver ao seu alcance para conseguir o que deseja. A conversa com Olenna em The Climb deixa isso claro graças ao modo que ele intimida a Rainha dos Espinhos, que não tem escolha além de permitir o casamento entre Loras e Cersei. Coitado do Cavaleiro das Rosas.
Ao termos mais contato com Tywin, é até possível entender um pouco porque Jaime e Cersei são o que são.
Quanto a Cersei, ainda não sabemos muito, mas para Jaime, que vem ganhando cada vez mais espaço, fica claro que o jeito arrogante e cruel que conhecemos é mais um mecanismo de autodefesa do que que uma coisa natural. Sua conversa com Brienne na banheira e o emocionante monólogo sobre Aerys, o saque de Robert e escolhas é a cena mais emocionante da temporada até agora. Ali, Jaime não estava despido apenas de suas roupas, mas de todas as capas que vestiu a vida inteira. Pela primeira vez, talvez, ele tenha mostrado como é de verdade – e certamente Brienne o percebeu. A parceria entre os dois é um dos grandes pontos deste terceiro ano e tem tudo para render ainda mais.
O que ele fez não é muito diferente do que Robb vem fazendo, por exemplo, em nome da guerra. O Jovem Lobo está perdido desde o momento em que rompeu a aliança com os Frey e ainda nem sabe. Robb não é um homem; Robb é um garoto que venceu a maioria de suas batalhas na sorte, mas que, agora, enfrenta os verdadeiros obstáculos. Tomar Rochedo Casterly é uma medida ousada, mas que, se completada com êxito, pode dar ao rapaz uma grande vantagem nesta Guerra dos Cinco Reis. O que ficou claro nestes dois episódios (com a execução de Lorde Kastark e o casamento arranjado de Edmure) é que, agora que viu que a guerra está quase escapando por entre seus dedos, Robb vai usar de todas as estratégias que puder.
Ele, ao menos, não está mais cego como Stannis. Ao conhecermos a rainha, fica ainda mais claro o poder que Melisandre exerce sobre a família real Baratheon. Eles acreditam fielmente que ela levará Stannis ao Trono de Ferro e não enxergam um palmo à frente. Sou capaz de apostar que, inclusive, estará aí, na mulher vermelha, a ruína do irmão de Robert. A não ser, claro, que sua filha, aparentemente o único ser com mentalidade própria na família, abra os olhos do pai. A conversa da menina com Davos foi outro momento emocionante desses episódios.
Bran, Theon e Daenerys seguem suas jornadas, mas, diferentemente dos outros personagens, nestes a série não gasta muito tempo. Bran está parado desde a temporada passada. Seus sonhos verdes e visões já saturaram e passou da hora do personagem, outrora um dos mais interessantes, ganhar um novo rumo. Theon protagoniza as cenas mais angustiantes, com as sessões de tortura comandadas pelo jovem misterioso. Essa é uma das histórias mais interessantes da temporada porque ainda não sabemos quase nada sobre ela. E Dany segue o caminho para ‘tomar o que é dela’, mas agora com dragões e um exército de escravos.
PS. A review do 3×07 sai ainda hoje, provavelmente na parte da noite.