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Game of Thrones – 3×09 The Rains of Castamere

Por: em 3 de junho de 2013

Game of Thrones – 3×09 The Rains of Castamere

Por: em

“Mais à frente, viu um festim de cadáveres. Massacrados de forma selvagem, os convivas jaziam espalhados por cima de cadeiras viradas e mesas de montar estilhaçadas, estatelados em poças de sangue coagulando. Alguns tinham perdido membros, ou até a cabeça. Mãos cortadas seguravam taças ensangüentadas, colheres de pau, aves assadas, nacos de pão. Num trono acima deles, estava sentado um morto com cabeça de lobo. Usava uma coroa de ferro e segurava numa mão uma perna de cordeiro como um rei seguraria um cetro.”

A Fúria dos Reis, página 451

Catelyn Robb e Talisa Game of Thones 3x09

Retórico dizer, mas se você não assistiu a esse episódio, você não vai querer ler o que está escrito abaixo antes. 

O evento mais marcante dos 5 livros escritos por George R R Martin até agora rendeu também o melhor e mais marcante episódio de Game of Thrones (e não apenas por causa do Casamento Vermelho, é preciso ressaltar). O trecho que abre esse texto não diz respeito ao momento dos livros em que o massacre acontece, mas sim a uma descrição mais direta e sucinta dele, que acontece em uma das visões que Daenerys tem na Casa dos Imortais, e que eu acho que dá um panorama cru do que assistimos em The Rains of Castamere.

É até complicado escrever sobre um episódio tão brutal. Faltam palavras que possam descrever o que foram os eventos aqui retratados, o impacto que eles causaram em quem assistia o episódio (e aqui eu incluo mesmo quem já sabia o que acontecer. Passei mais de duas semanas me preparando e ainda assim não adiantou nada) e como isso vai ser relevante para o futuro da série de agora em diante. Afinal, não foi apenas um personagem que morreu. Foram dois. Três. Quatro se a gente contar o lobo.

Desde a morte de Ned Stark, lá nos tempos de primeira temporada, o Robb despontou como um um dos personagens mais interessantes e mais promissores. Seu desejo de vingança, sua autoproclamação como Rei do Norte, as batalhas vencidas e o ardor de se provar, de vingar o Norte e fazer jus ao sobrenome; tudo isso, mais a interpretação sempre forte do Richard Madden fizeram do Jovem Lobo uma das figuras favoritas de muita gente que assiste ao seriado. E tudo isso, em somatório as últimas derrotas que sofreu e as decisões (equivocadas ou não) que tomou agindo impulsivamente, nos trouxe a esse momento.

A morte de Robb é cruel não apenas pelo modo como acontece (por mais que ele tivesse rompido o acordo com os Frey, nada justifica uma emboscada sórdida e baixa como a que ele e seus aliados foram submetidos), mas pelo que ela representa. Morre, com ele, a esperança de dias melhores para os Stark. De justiça, de vingança ou seja lá qual o termo for mais adequado. Quando ele se levanta na cena final, já sem forças e desfalecido e tudo o que consegue dizer é um arranhado “Mother“, já fica claro que está tudo acabado ali. Não havia mais escapatória, o Rei do Norte já havia caído. Quem levanta ali não é o mais o Jovem Lobo que acompanhamos lutar há 2 temporadas. É o príncipe herdeiro que brincava de espada que conhecemos no piloto e que, da noite pro dia, foi jogado numa guerra quase perdida. E, há que se dizer, Richard Madden deu show. Contido, sôfrego, o último olhar que ele lança a Catelyn resumiu tudo.

Catelyn Tully Game of Thrones

Igualmente entorpecente foi a performance de Michelle Fairley. Catelyn Tully/Stark divide opiniões desde sempre. Há os que amem, há os que odeiem, mas não existem aqueles que se mantenham indiferentes ante a personalidade forte que a filha de Correrio sempre apresentou ter. Catelyn perdeu Ned, acreditou ter pedido Bran e Rickon e acreditava que Arya e Sansa eram prisioneiras em Porto Real (e a última realmente era). Colocando tudo isso em perspectiva, é fácil entender a apatia que se abate sobre a personagem no momento em que Robb dá seu último suspiro. Naquele momento, Catelyn não tem mais nada. Nos segundos anteriores, enquanto ela implora para que Lorde Walder libere Robb (mesmo que ele sequer tivesse condições de dar um passo que fosse), ainda residia nela uma esperança. Mas quando seu primogênito morre, Catelyn também morre. O aço que arranha sua garganta minutos depois é apenas um detalhe.

Talisa nunca teve um destaque muito grande na série. Apareceu temporada passada como aquela que roubaria o coração de Robb, faria-o romper o acordo com os Frey e que, sem saber, levaria a esse massacre, mesmo que indiretamente. O fato é que a personagem nunca despertou muita empatia, seja pelo trabalho de composição da atriz ou porque o roteiro não lhe deu oportunidades. Nos últimos episódios, uma sequência chamou a atenção: O momento onde ela confessa a Robb que espera um filho dele. E foi exatamente este detalhe que ajudou a transformar a sequência do Casamento em algo mais horripilante do que já era. As facadas que ela levou diretamente na barriga abriram da maneira mais mórbida possível toda a sequência do Red Wedding.

Todo o episódio foi construído em cima de um clima de tensão e expectativa, que colaborou diretamente para a aflição e o susto no momento em que o clímax foi atingido. Desde a primeira sequência com Robb pedindo a Catelyn sua opinião sobre um possível ataque a Rochedo Casterly, passando pelo primeiro e misterioso contato direto com Walder Frey (em uma cena marcada por um texto deliciosamente dúbio, um presente para os leitores de Martin que já sabiam o que estava por vir), até o momento em que Catelyn percebe a emboscada e Rains of Castamere começa a tocar, tudo convergiu para que o impacto gerado fosse satisfatório.

A presença de Arya comprova isso.

A pequena Stark percorre Westeros há mais de 10 episódios em busca de sua mãe e de seu irmão e é terrivelmente irônico que no momento em que mais se encontre próxima a eles, algo nessas proporções aconteça. Arya, ali, era os nossos olhos e ouvidos. O choque estampado no rosto dela ao ver o que um dia foi Vento Cinzento morto (e aqui eu confesso que foi tão dolorido quanto ver Cat ou Robb ou Talisa mortos) é também o nosso choque e o momento em que Cão de Caça a desacorda dizendo que “É tarde demais” é também o momento em que fica perceptível que a jornada para ela agora será mais sombria. O norte de Arya nesta e na temporada passada era se reunir com Catelyn e Robb. Que agora não existem mais.

Bran e Rickon Game of Thrones

Totalmente eclipsados pelo Casamento, mas ainda assim com um forte desenvolvimento dramático, vieram Bran, Jon e Daenerys Targaryen. Assim como Robb, os três núcleos apresentaram um avanço significativo e, no que diz respeito a Bran e Jon, trouxeram ainda excelentes viradas em suas histórias.

Chega a ser irônico que Bran encontre um novo rumo exatamente quando Arya perde o seu e sua mãe e seu irmão mais velho são mortos. A cena da despedida entre ele e Rickon é profunda e tocante (e provavelmente o momento em que o mais jovem dos Stark mais falou durante a série inteira) e funciona por deixar a dúvida sobre o novo mundo que se abre agora que Bran estará sozinho com Jojen, Meera e Hodor e, principalmente, por o garoto já ter uma maior noção sobre o que significa ser um warg e o poder que ele tem em suas mãos. O pequeno momento em que ele entra na mente de Hodor é intrigante, mas nem de longe tem o impacto da cena em que as mentes dele e Verão se fundem em uma só. Que venha o Corvo de Três Olhos.

Para Jon Snow, o caminho já era esperado há alguns episódios. Jon gosta de Ygritte, isso está claro desde sempre, mas seus votos à Patrulha da Noite são mais fortes. A luta com Tormund e seu bando ganhou ótimas proporções e as dúvidas que ficam agora é: que rumo o bastardo deve tomar, já que que seu disfarce foi descoberto e qual será a atitude de Ygritte diante disso? Preciso ressaltar, também, a grande ironia que foi Jon e Bran estarem tão perto um do outro. Quase tanto quanto Arya e Catelyn e Robb.

Quanto a Dany, as perspectivas são otimistas. Com Yunkai caída, graças a seu mais novo capitão Daario Noharis, a mãe dos dragões tem um exército numeroso, ouro e dragões, muito mais do que tinha uma temporada atrás. A pergunta é: Será suficiente?

Três histórias que tiveram um considerável tempo de tela em The Rains of Castamere, mas que nem de longe se igualaram ao que aconteceu no restante. O grande quebra cabeça que é Game of Thrones está com suas peças todas espalhadas e com a morte sangrenta de Catelyn e Robb, os próximos passos desta guerra se tornam imprevisíveis. Semana que vem teremos o season finale dessa que já é fácil a melhor temporada da série, mas uma coisa é certa: Superar o que vimos aqui é difícil.

The North Remembers.


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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