Homeland está de volta, e “Tin Man is Down” mostra aquilo que a série tem de melhor: a sua capacidade de se reinventar. Em apenas 24 episódios exibidos até o ano passado, acompanhamos diversas reviravoltas em uma trama ágil, que não tem medo de colocar as cartas na mesa para começar um novo jogo quantas vezes forem necessárias. Essa premiére marca mais um reinício, mas cheio de elementos familiares que mantêm a essência da série, mesmo quando tudo parece diferente.
Carrie continua sendo o melhor motivo para acompanhar a série. Ainda que o episódio tenha fluído em um ritmo tão diferente do piloto e de “The Smile”, a presença da agente na tela nos faz ter certeza de que aquela ainda é uma das melhores coisas da TV dos últimos anos. A sequência do seu depoimento para o comitê foi fundamental para localizar o público na trama e para dar o tom do que teremos pela frente: uma temporada mais política e com a CIA precisando lidar com problemas internos além de se preocupar com a segurança nacional.
A impulsividade da protagonista continua a mesma: ela defende publicamente a inocência – pouquíssimo provável – de Brody por amor, porque acredita que o conhece o bastante para saber que ele não foi o responsável pelo ataque, mas se coloca em uma posição vulnerável ao fazê-lo, e somando isso às mentiras e omissões que fez sob juramento, temos uma Carrie com a corda no pescoço e o bode expiatório perfeito para tudo o que aconteceu na CIA.
Brody, foragido, não esteve fisicamente presente neste primeiro momento, e isso leva a uma outra questão: o núcleo familiar do ex-militar tem fôlego para funcionar sozinho? Aparentemente, não. Mas isso não impede os roteiristas de insistirem em mais um plot avulso para Dana, que tentou suicídio, arrumou um novo namorado e está trocando fotos íntimas com ele através de um celular clandestino. Talvez tudo isso leve a algo maior, mas provavelmente a trama vai ter o mesmo destino que seu romance na temporada passada: sair do nada, dar algumas voltas e terminar em lugar algum (com menos tragédias, espero!).
É claro que não seria Homeland sem uma boa dose de tensão durante a operação liderada por Saul – que deu nome ao episódio. Quando Quinn atirou às cegas já era possível deduzir que o menino seria atingido, mas a missão foi relativamente bem sucedida… o que ninguém esperava era que o comitê desmerecesse completamente os esforços da Agência e insistisse em um nome relevante (aka Brody) para ser responsabilizado pelo ataque à CIA.
O cenário inicial da temporada mostra que a bomba destruiu muito mais do que um prédio, e os mortos no atentado não foram os únicos a terem suas vidas devastadas: Jessica precisa lidar com uma família em pedaços e Dana tenta recolher os caquinhos dela mesma, enquanto tropeça em seus próprios erros mais uma vez. Saul tem um casamento em frangalhos e, embora as circunstâncias o tenham levado a uma posição de poder, sua carreira também está seriamente ameaçada, junto com a credibilidade de toda a CIA diante da sociedade americana.
Mas ninguém carrega tantas marcas quanto Carrie. Ela é, acima de tudo, uma sobrevivente, e só por isso já levanta suspeitas sobre sua inocência. Deixar de tomar os remédios e adotar outro estilo de vida para evitar que a bipolaridade se manifeste é apenas uma forma que ela tentou encontrar para lidar com a situação. Carrie não perdeu apenas seus colegas de trabalho naquela explosão, o que se vê nessa premiére é uma mulher que perdeu a credibilidade, o homem que amava e um pedaço considerável dela mesma no dia do atentado, e agora ela precisa lutar para recuperar sua vida, só que sozinha.
A ausência de muitos rostos conhecidos, o ritmo diferenciado e a nova narrativa podem ter causado certa estranheza nos espectadores desse episódio, mas nenhuma mudança foi tão profunda quanto a que aconteceu na relação entre Carrie e Saul. Acima de qualquer trama de conspiração, a confiança e a cumplicidade entre os dois sempre foram um pilar considerado inabalável para a série, e assim como o antigo prédio da CIA, ele foi destruído aqui, ou, no mínimo, seriamente abalado. Quando Saul escolhe expor Carrie diante de toda a imprensa, ele joga fora tudo o que eles construíram em uma parceria de anos.
Claire Danes esteve brilhante como sempre. A cena final, em que ela assiste ao depoimento de Saul revelando os seus segredos é de uma intensidade tão grande que fica impossível não sentir a dor da personagem diante de uma das maiores traições que já sofreu. Não dá para vilanizar Saul – Homeland é muito mais profunda do que essa dualidade – ele teve seus motivos, demonstrou até mesmo hesitação para contar o que sabia e apenas cumpriu o seu dever cívico de dizer a verdade sob juramento. Carrie já omitiu, mentiu, passou por cima de suas ordens diversas vezes, e mesmo assim não é como se ele tivesse revidando nada disso, ele apenas fez o que julgou ser o certo… o que não quer dizer que não doa. Dói em cada um de nós como doeu em Carrie, e algo me diz que o clima entre os dois só tende a piorar.
E assim começamos mais uma temporada de Homeland, mais imprevisível do que nunca e cheia de tensões como sempre. E você? O que achou dessa premiére e do novo cenário da série? Compartilhe sua opinião nos comentários e até semana que vem!
