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House – 8×09 Better Half

Por: em 25 de janeiro de 2012

House – 8×09 Better Half

Por: em

House retorna de seu hiatus entregando um bom episódio convencional, ou seja, fazendo aquilo que se propôs a fazer desde a volta de House para o Princeton Plainsboro.  Não é mais a série mais relevante dos Estados Unidos, não tem aquele talento em lidar com temas polêmicos e a vida pessoal dos personagens não desperta mais tanto interesse, mas continua sendo um procedural decente, bem produzido, com um ótimo roteiro e boas atuações, méritos que remetem (mas só remetem) às melhores temporadas da série.
A fórmula de House é bastante limitada, e é até surpreendente que eles tenham feito-a funcionar por tanto tempo. Uma série sobre diagnósticos difíceis, sem assassinatos envolvidos (como em Quincy ou Diagnosis Murder), fictícia (ao contrário de Mystery Diagnosis), que se sustenta apenas no carisma de seus personagens, nos temas levantados pelo paciente da semana e na curiosidade do telespectador ter conseguido se tornar o sucesso que House se tornou é surpreendente, ainda mais sendo a maioria de sua audiência leiga em medicina.

Para muitos a previsível rotina do seriado já cansou, mas para quem ainda consegue entreter com ela, Better Half foi um episódio muito bom. A oitava temporada está apostando em episódios leves e descontraídos e dando ênfase à vida pessoal dos médicos, e Better Half não fugiu à regra. Estranhei alguns comentários que li sobre o episódio, que reclamavam por “nada ter acontecido” nele – comentários feitos pelas mesmas pessoas que reclamam que a série não é mais a mesma das primeiras temporadas. Em seu início, House tinha uma continuidade muito menor e a interdependência entre os episódios era quase nula. Se hoje, em um episódio comum, nós conhecemos mais sobre o passado de um personagem, acompanhamos o desenvolvimento de outros e ainda temos um evento relevante para a temporada, ainda que pequeno, eu vejo isso como um avanço na narrativa do seriado.
Novamente, tivemos dois casos: um investigado por House e sua equipe e outro por Wilson e House, o último servindo como uma história paralela à principal trama do episódio – e uma história relativamente fraca. As obsessões de House em provar que comportamentos que destoam do padrão têm algum motivo médico geralmente me agradam, mas eu não entendi qual foi o objetivo dos roteiristas aqui (ou pelo menos espero não ter entendido). A assexualidade é uma orientação sexual reconhecida pela comunidade científica, e assim como a comunidade GLBT, os assexuais buscam compreensão e respeito. House não conhecia a paciente de Wilson, mas só de ouvir falar dela, não conseguiu aceitar que essa condição fosse real. O personagem quis dizer que assexualidade não existe? Não tenho intimidade com o tema, mas considero a maneira como a série decidiu abordá-lo bem falha e sujeito a interpretações negativas.

Além disso, a história teve uma conclusão boba e pouco convincente (quando o assunto “sexo” surgiu na relação – no máximo uns seis meses depois do início do namoro – a paciente já estava apaixonada pelo rapaz a ponto de decidir sacrificar sua vida sexual?). Só valeu pela cena do charuto, pela conversa entre House, Park e Adams e pela situação em que House colocou Wilson – quanto a contar ou não contar. Sempre gosto quando ele manipula as pessoas de maneira a fazer todas as alternativas parecem erradas (interessante que, na maioria das vezes, os personagens agem de maneira pragmática neste tipo de situação).

Já o caso de Andres, o paciente com Alzheimer, foi melhor desenvolvido. Felizmente, eles não mantiveram o “traiu-ou-não-traiu” por muito tempo, e gostei da sinceridade com a qual trataram os conflitos da personagem de Melanie Lynskey. A TV por muitas vezes retrata pacientes de doenças degenerativas como mártires, e as pessoas que cuidam deles como anjos pacientes e prestativos, o que está longe da realidade. Apesar do episódio ter forçado a barra para tirar da esposa do paciente qualquer parcela de culpa por sua traição e retratado-a de forma positiva demais, o tema foi bem melhor trabalhado do que na maioria das outras vezes que eu já o vi na televisão. Também achei positivo que não tenham respondido se Andres sabia ou não da traição da esposa; a possibilidade dele ter aceitado viver essa “felicidade de Bentinho” deixou a resolução menos otimista.
O caso ainda rendeu uma ótima discussão entre Chase e Adams, daquelas corajosas e fortes que pareceriam forçadas em outra série, mas aqui dão um bom resultado. Conhecer mais sobre o passado de Chase pode curar o personagem da “síndrome de George O’Malley” pela qual ele passa, e eu até gostaria se ele e Adams tivessem um relacionamento, mesmo sabendo que a série não é muito boa em lidar com namoros. Tudo indica que o personagem ganhará mais relevância (inclusive, um dos episódios dessa temporada será centrado nele), o que é ótimo, já que até Foreman, um personagem muito mais desinteressante do elenco original, melhorou bastante nesta temporada.

Em mais um divertidíssimo round contra House, Foreman mostrou-se um adversário à altura, provando que pode, sim, controlar seu antigo chefe e que não vai cair tão fácil nos joguinhos dele, e ainda por cima solucionou o caso do episódio de maneira surpreendente (achei que o amante da esposa estivesse envenenando o paciente ou algo neste sentido). Por mais que não tenha sido um episódio forte ou bombástico, ele conseguiu dar continuidade ao ótimo trabalho que está sendo feito nesta temporada no que diz respeito ao desenvolvimento dos personagens (e o melhor – Taub e seus dramas chatos não participaram do episódio!)

Better Half foi engraçado, bem escrito, teve um caso bacana, um bom subplot e conduziu coerentemente os personagens. Admito que o episódio tenha sido simples demais, dado a sensação de que já o assistimos antes e que provavelmente não será lembrado em nenhuma seleção dos melhores episódios da série, mas se você já assistiu até aqui é porque ainda não cansou de House (nem da fórmula da série, nem do personagem-título), então ele provavelmente funcionou para você. E convenhamos, a série já passou por momentos de monotonia muito maior. Se a série continuar assim, eu estou satisfeito. E você?

P.S.: Por vezes, como neste episódio, a série apresenta algumas condições médicas de maneira pouco realística e por vezes errada. Ficou confuso ou se interessou pelos diagnósticos do episódio? Leia mais sobre assexualidade, tumor pituitário, perda da libidodisfunção erétil e Síndrome de Reye.

P.P.S.: E House falando português – de novo? O sotaque do Hugh Laurie é muito ridículo, mas melhorou desde a quarta temporada.


João Miguel

Bela Vista do Paraíso - PR

Série Favorita: Arquivo X

Não assiste de jeito nenhum: Reality Shows

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